Tropicalistas Gilberto Gil e Caetano Veloso estreiam em Amsterdã apresentação conjunta e tentam minimizar polêmica sobre show em Israel: ‘claro que a gente não pode satisfazer a todos que têm esta ou aquela causa; isso aí é uma tolice’
Ao abrir a turnê internacional que tem na escala um show em Israel, os músicos Caetano Veloso e Gilberto Gil tentaram minimizar a polêmica sobre a pressão por boicote contra a apresentação em Tel Aviv. “Eu, pessoalmente, não penso em fazer nada [nenhuma manifestação política]. Eu penso em fazer o show”, disse Caetano a jornalistas brasileiros após a apresentação em Amsterdã na noite desta quinta-feira (25/06).
“Claro que a gente não pode satisfazer a todos os grupos que têm esta ou aquela causa. Isso aí é uma tolice”, afirma Caetano. E continua: “Alguns colegas nossos são líderes de atitudes reacionárias públicas. Por que artista tem que ser de esquerda ou progressista? Isso é besteira. Eu sempre achei besteira. Esse negócio de que você tem que ser atrelado automaticamente está errado”.
O colega Gil emenda afirmando que fez três shows em Israel nos últimos dois anos. “Nestas últimas vezes que fui a Israel, houve manifestações neste sentido. Grupos, pessoas, movimentos pedindo que eu não fosse. E eu fui… Dessa vez também”.
O espetáculo na cidade holandesa marcou o início da turnê “Dois amigos, um século de música”, que comemora os 50 anos da carreira dos músicos, e passará por outras 16 cidades europeias, além da parada em Tel Aviv. Nas últimas semanas, Caetano e Gil têm sido alvo de pressão do movimento internacional de boicote cultural contra Israel. Organizados pela campanha BDS (boicote, desinvestimentos e sanções), ativistas pediam o cancelamento do show, por discordar das políticas do governo israelense contra a população palestina.
Personalidades como o ex-Pink Floyd Roger Waters; o Nobel da Paz sul-africano Desmond Tutu; e o ex-ministro dos Direitos Humanos do Brasil Paulo Sérgio Pinheiro — além de quase 30 grupos de ativistas de movimentos sociais brasileiros — haviam pedido que os tropicalistas cancelassem o concerto em Tel Aviv. Em carta publicada no jornal O Globo na terça (23/06), Caetano respondeu às pressões e reafirmou a posição de manter o show: “Eu vou cantar em Israel e prestar atenção ao que está acontecendo lá”.
Política brasileira
Perguntados sobre a escalada de intolerância religiosa no Brasil, com o cresicmento da bancada evangélica no Congresso e o recente ataque a uma garota que saía de um culto de candomblé em São Paulo, Gil e Caetano colocam em perspectiva.
“Essas coisas que começam a se manifestar ou aparentam ser uma novidade, uma dificuldade nova, na verdade sempre existiram”, explica Gil, falando sobre os novos meios de comunicação, “essa coisa de que cada receptor é um emissor, no mundo da internet”.
“Democracia é uma coisa que começou a ter vigência ampla no mundo há pouco tempo”, continua Gil. “Democracia tem estas coisas. As manifestações variam. As pessoas saem dos armários, variados.”
Caetano pondera e diz que atualmente nenhuma igreja de grande porte tem discursos contra religiões afro-brasileiras — a imprensa, afirma, amplifica os acontecimentos. “Eu acho que o gesto impensado de uma pessoa, algo ruim, a mídia fica muito excitada. Parece que o país mudou totalmente, que está todo mundo atirando pedra nos outros. Não ‘tá’ assim”, afirma.
Sobre o avanço das pautas conservadoras na política brasileira, Caetano e Gil dizem que isso faz parte do jogo democrático. Caetano comenta: “Tudo é perigoso”. E Gil responde: “Tudo é divino e maravilhoso”.
O show na Holanda
Caetano e Gil tocaram durante 90 minutos para uma plateia de quase 2 mil pessoas, majoritariamente brasileiros, na tradicional sala de shows holandesa Concertgebouw.
A química no palco era visível. O show, apenas com voz e violão, foi uma declaração de carinho e admiração de um para o outro.
“Tive muitos parceiros no palco, meninos e meninas. Que ninguém fique com ciúme, mas é dele que eu mais gosto”, disse Gil. Caetano retribuiu a gentileza: “Eu é que gosto. Talvez mais. Fico muito nervoso ao lado dele. Ele toca muito”.
No repertório, canções emblemáticas. Em “Sampa”, tocada logo no início do show, o público cantou em coro, baixinho, terminando com fortes aplausos. Em “Toda menina baiana”, uma surpresa até mesmo para a produção do show: uma mulher vestida de baiana e contratada para servir os convidados, desceu as escadas que levam ao palco, devagar com seu traje, e cumprimentou os dois cantores, rendendo um dos momentos mais emocionantes da apresentação.
“Se eu quiser falar com deus”, “Expresso 2222”, “Andar com fé” e “Leãozinho” foram algumas das 27 músicas tocadas.
No final do show, o público, oficialmente com cadeiras marcadas, já se aglomerava em frente ao palco para tirar fotos e aplaudir de mais de perto os dois artistas. Uma fã gritou “Viva a crase”, em referência ao recente vídeo viralizado na internet, em que Caetano Veloso critica o erro no uso da crase de uma pessoal de sua produção.
Caetano, que se recupera de uma gripe e estava aparentemente mais ansioso, contou a jornalistas que ficou feliz com o show. “Eu gostei muito. ‘Tropicália’ saiu. Acho que foi a melhor vez que eu já cantei ‘Tropicália’ ”. Ele disse que estava nervoso. “Mas Gil tá aí. Vai ficar tudo certo”.
Gil também aprovou a primeira parada da turnê europeia. “Gostei. O jeito de olhar do público, a atenção… as manifestações ao longo do repertório”.
* Publicado originalmente no portal Opera Mundi
É por isso que Chico Buarque continua incomparável, na arte e no caráter.
Porque o artista tem que ser diferente do cidadão? Vc deixa o cidadão em casa quando é arrtista? Patético!
concordo! e apoio os artistas que aderem aos boicotes porque eles mostram, assim, a consciência do óbvio: que a posição enquanto figura pública evidencia também a ideologia do cidadão. Infelizmente, esse ícones da nossa música estão escolhendo tornarem-se o modelo/exemplo das ideologias da classe social de que hoje fazem parte 🙁
Aliás, pagando bem, que mal tem.
O mais importante para o dois é ficar bem na foto, me pergunto para qual foto? Um desse ainda faz parte dos artistas que chegou a velhice com pensamentos reacionários, então vale mais o cache que a atitude digna de um cidadão? Pagaram mico ao tocar num Estado terrorista que pratica genocídio do povo palestino.
Nao ha como separar o artista do cidadao. Nao ha como servir a dois senhores. Nao ha como nao assumir uma postura de repudio as acoes de Israel com relacao ao povo palestino. Cada vez que leio algo dito pelo Caetano, nao ha como nao concluir que ele nao passa de um idiota.
Se o Chico pode morar em Paris, apoiar Lula, obter verbas públicas graças a uma ajudinha da irmã e se dizer “comunista”, que mal tem Caê e Gil se apresentarem em Israel?
Os “pogreçiztas”tem que parar de achar que o mundo só pode fazer o que eles acham certinho, fofinho e hipocritamente correto. A ditadura dos que se arrogam na correção, justiça e decência já tá demais.
Tá finan”ss”iad@ pel@ MOSSAD, idiota? Cale a boca e não cale na boca notícia ruim.
Se não há mal no Caetano e no Gil cantarem em Israel, também não há mal algum no fato do Chico, como resultado do seu trabalho, ser dono de um apartamento em Paris! Bem como não há mal no fato do Chico, mesmo sendo dono de um apartamento em Paris, ser de esquerda! ou não Joshua?!
Antes da queda o Reza Parlev no Irâ, o Aiatolá Kolmeini morava em Paris. Então ele era um almofadinha da “esquerda caviar”? Que cabecinha oca!
Ainda bem que os sul-africanos derrubaram o apartheid a mais de 20 anos, com o apoio inclusive do boicote de músicos do mundo inteiro que se recusavam a tocar lá.
Se fosse hoje, com as idéias que prevalecem atualmente, com os cachês milionários, todo mundo correria para lá, até “para ver o que estaria acontecendo”
Apesar disso, dessa decepção, gosto muito e continuarei a gostar do trabalho dos dois
Equilibrados com leveza essencial nesse muro tucano. Ou não…
Acho incrível como as pessoas querem forçar os dois gênios, que têm conhecimento suficiente para não ceder às pressões, a serem de esquerda. O Brasil é uma pseudo-esquerda com uma filosofia capitalista ultrajante (ninguém, ou quase ninguém, aqui é a favor da intervenção do estado na economia, por exemplo.), fazendo aquilo que toda boa esquerda sabe fazer como ninguém, obrigar as pessoas, a qualquer custo, engajarem-se em suas lutas, o que é patético e resulta naquilo que toda a historia da esquerda no mundo sempre acaba, num absolutos violento e opressor, (vide Cuba, União Soviética entre muitos outros). O lamentável é que Caetano e Gil, o primeiro principalmente, não revelam discursivamente seus pontos de vista, o que acaba por resultar em.materias com esta, mas parabenizo pela coragem de fazerem o que lhes apraz, coisa que a maturidade deu a eles e nos faz muito bem.
Mais ou menos, né, Luis? Por que almejar que Israel pare a escalada bélica seria = “ser de esquerda”? Matar gente é de direita? Eu até acho que é, mas esse tema bem que podia transcender as velhas polarizações de que fala Santa Marina Silva…
Cuba aprisiona ou mata gays, pessoas com deficiência, detentos. Será que você faria o mesmo protesto se o Caetano e o Gil fossem fazer um show lá? Todo mundo aqui sabe que não. Então deixa de hipocrisia, o que você tem chama-se indignação seletiva.
Acho que estamos falando aqui de um estado que cometeu crimes de guerra na faixa de Gaza, correto? Esquerdofóbico!
Gênios? Menos, cara, menos.
É claro que é besteira. É melhor apoiar o massacre e ajoelhar-se ao sionismo do show bizz internacional, selando de uma vez por todas a coerência, ( que nesses dois, politicamente, nunca existiu). Não dá para exigir tudo só porque os caras são grandes artistas, essa é a genialidade da vida. O carinha pedindo esmola pode ser muito mais inteligente que um trovador consagrado.
Caetano diz que nunca cantou tão bem “Tropicália”. Entretanto, acho que essa música nunca foi tão esvaziada de significado em sua boca como agora.
Ser de esquerda, progressista, isso é besteira. Kkkkkkkkkkkk. Atualmente, bobagem total.
como dizia Belquior em “retrato 3×4”:
“Veloso, o sol não é tão bonito
pra quem vem do norte e vai viver na rua”
Bela lembrança, Attila! Linda música!
O título da música é “Fotografia 3 x 4” e faz parte do álbum “Alucinação”, de 1976, que além desta, tem também os clássicos “Como nossos pais”, “Velha roupa colorida” e “A palo seco”. Aliás, o próprio álbum tornou-se um clássico. No ano seguinte, 1977, na música que deu nome ao álbum “Coração Selvagem”, Belchior voltaria a citar ironicamente Caetano, ao cantar “Meu bem – que outros cantores chamam baby”, numa referência à música “Baby”, de autoria do baiano. A propósito, o sumiço de Belchior abriu um lacuna na MPB.
Aliás, no mesmo álbum “Alucinação”, no clássico “Apenas um rapaz latino-americano”, Belchior volta a se contrapor aos baianos, para quem tudo é “Divino e Maravilhoso” e sapeca: “Nada é divino. Nada. Nada é maravilhoso. Nada. Nada é secreto. Nada. Nada é misterioso.” Repito: o sumiço de Belchior abriu uma lacuna na MPB jamais preenchida. Quanto aos baianos, vão cantar para os brasileiros que vivem por lá, e só.
Valeu a análise intertextual, saudades do Belchor, obrigada!
Os caras têm o direito de se posicionarem a favor do “cantar pelo cachet”e são livres para isto. Eles não são obrigados a ser engajados nesta ou naquela luta. O legado deles os faz merecedores desta posição. Ninguém é perfeito e não vou desprezar (ou despresar?) o outro só porque o posicionamento deste difere do meu.
Zum ti plact zum…não vai a lugar algum!
Concordo em partes com o comentário do Caetano.
Artistas, sobretudo aqueles que têm uma história de engajamento, não precisam se obrigar a ter atitudes progressistas. De forma alguma.
Mas o mínimo que seus fãs esperam é um pouco de coerência com a história do artista. Só isso.
A boa arte é a que conscientiza as mentes e impulsiona o progresso das idéias, de hábitos e de culturas em direção a uma sociedade regida por valores humanistas.
Um artista tem compromisso com a boa arte e não com facções políticas comprometidas com
concepções e posturas medíocres.
Mas saber definir o que é a ~boa arte~ não é mais ou menos o mesmo que ser Deus, Roland?…
A bem da verdade, o próprio Caetano Veloso, em uma entrevista concedida ao jornal “O Povo”, de Fortaleza, disse com todas as letras que não se considerava um artista. E explicou: “Artista faz arte e eu não faço arte, eu faço divertimento”.
Ser esquerda ou progressista no Brasil é lindo. Ser de direita é ser opressor, Elite Branca, Coxinha, é um negócio engraçado.
Vcs conhecem o valor da liberdade…ELES CONHECEM. Eh direito tocarem onde bem entenderem…NAO AO PATRULHAMENTO IDEOLOGICO…esquerda nem para guardar o penis.
Kerwson (?), bloqueei uma mensagem sua cheia de xingamentos e acusações sem provas – aqui não, violão (Pedro, editor do Farofafá)
Vc nao eh nada democratico, exatamente como eh sua ideologia enganadora e autoritaria, so pq eu disse a verdade que a esquerda nao tem nada de progressista, eh retrogada e financiada pelo narcotrafico, e historicamente responsavel por mais de cem milhoes de assassinatos, que inclusive faliu todos os paises que conseguiu infectar.Vc pode suprimir a verdade aqui, mas estah a disposicao de quem quizer saber em qq livro, eh fato comprovado.Viva a liberdade plena, (principalmente a de imprensa para denunciar as falcatruas que a esquerda faz em nosso pais) a democraia e ao estado de direito.
Financiada pelo narcotráfico e responsável por milhões de assassinatos??? Parou de tomar os remédios? Você precisa de psiquiatra.
Bom, e se vc achou que foi xingamento o termo “idiotas uteis” quem criou esta citacao e assim escreveu em um dos seus 33 cadernos, editados em portugues em seis volumes, foi o proprio Antonio Gramsci, filosofo italiano que inventou o absurdo do estado principe, administrado por um poder hegemonico e ditatorial….vah ler…
computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro
Outrora eles eram os porta-vozes de um discurso que favorecia o povo e o estimulava a lutar pelos seus direitos contra a ditadura, mas na medida em que ficaram mais famosos e galgaram escada acima, foram perdendo contato com o povo e se tornando mais despolitizados, até o ponto de que não conseguem ver a gritante intolerância religiosa de igrejas graúdas, como o Caetano. Lamentável.