PEC da Música terá efeito reduzido

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A PEC da Música foi aprovada ontem, 24 de setembro. Marisa Monte, Ivan Lins, Lenine, Dado Villa-Lobos, Francis Hime, Rosemary, Sandra de Sá e Paula Lavigne foram alguns dos artistas que pressionaram os senadores a votarem a favor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 123/2011), cujo efeito pode representar CDs com preços 25% mais baratos. É como se músicos e parlamentares decidissem, juntos, dar um analgésico em um paciente com câncer.

Aprovação da PEC da Música, em 24 de setembro de 2013 - Foto: Moreira Mariz/Agência Senado
Aprovação da PEC da Música no Senado – Foto: Moreira Mariz/Agência Senado

O preço do CD brasileiro é caro e continuará caro mesmo com a isenção de impostos CDs e DVDs para obras de autores nacionais. A indústria fonográfica mundial já sabe que vender música é um negócio com os dias contados, mas vive de sugar do bolso dos últimos consumidores da mídia física alguns milhões de trocados que conseguirem. O Brasil faz parte desse clube.

Numa comparação com outros seis países (Estados Unidos, Inglaterra, Japão, França, Espanha e Argentina), o Brasil tem os CDs com preços nominais mais em conta. O disco da funkeira Anitta sai por R$ 19,90. AM, o novo disco dos britânicos do Artic Monkeys, custa R$ 31,69 (*). É possível encontrar o disco do artista argentino Coti, Lo Dije por Boca de Otro, por R$ 28,62.

O preço nominal, contudo, não é um bom referencial de comparação. O poder aquisitivo de cada consumidor em seu país é diferente, já que as economias são distintas. FAROFAFÁ comparou, então, o preço nominal com o chamado Produto Interno Bruto (PIB) em paridade de poder de compra (PPP, do inglês “purchasing power parity”) per capita. Há lançamentos no Brasil, como Contra Nós Ninguém Será, do rapper Edi Rock, dos Racionais MC’s, que ficam entre os mais caros dessa lista.

A paridade de poder de compra representa a soma de todos os bens e serviços produzidos em um país em determinado ano dividido pela população. É uma medida imperfeita, mas oferece uma variável de comparação para saber o quanto o consumidor de cada país tem mais recursos à disposição para comprar um produto. Usando a tabela do Fundo Monetário Internacional (FMI), estabelecemos a proporção do preço nominal dos CDs dos seis países pela paridade de poder de compra. Eis os resultados:

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O que se vê é que os Estados Unidos, em primeiro lugar, e a Inglaterra, em segundo, são os países que têm os preços de CDs mais em conta. Comprar música lá é viável – o que não significa que americanos e britânicos estejam fazendo isso. O CD The 20/20 Experience, de Justin Timberlake custa R$ 24,21. Já o Japão, que sempre teve um custo de vida altíssimo, vende o álbum Two You Four You, de Tackey & Tsubasa (um representante de j-pop), por R$ 72,22 – um assalto a mão armada!

A PEC da Música será promulgada em sessão conjunta e pomposa do Congresso em 1º de outubro. Apenas os senadores da bancada amazonense fizeram oposição. Temem que a Zona Franca de Manaus perca esse filão, isto é, o de prensar CDs e DVDs com isenção de impostos. Segundo o discurso de senadores, endossado pelos músicos, o objetivo da PEC é reduzir o preço desses produtos ao consumidor, dando a eles condições de competir com a venda de reproduções piratas.

No entanto, o problema de origem permanecerá. O recém-lançado CD A História do Sorriso Negro reúne 14 sambas de sucessos de Neguinho da Beija-Flor, o puxador da escola de samba Azul e Branco de Nilópolis. Ele custa R$ 18,90. Mas se quisesse ter o padrão americano o valor deveria cair para R$ 6. Se o consumidor brasileiro tivesse um padrão de lojas de Londres, o álbum custaria R$ 10,50.

Pode-se culpar os impostos, os políticos, o governo, os músicos e até o papa Francisco. Mas nada disso reverterá a realidade de um paciente com uma grave doença. Diz-se que o mantra dos dias atuais é “menos é mais”. Os vendedores de CDs piratas e os forrozeiros que vendem seus shows em discos prensados por eles mesmos já entenderam essa lógica.

* Valores cotados em sites de compra e convertidos em reais, segundo cotação do Banco Central na data de ontem

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17 COMENTÁRIOS

  1. Pedro Já é um começo, feliz esta quando quem como eu(minoria) faz questão do disco fisico original, mas realmente se pudesse ter um preço concorrente ao pirata… Ainda assim baixar e ter a música no celular juntinho tem sido escolha p maioria! Abraço gde de uma leitora do interior fiel rss

    • Cuidado para não virar gado que segue os caminhos sem olhar ou pensar até cair no abismo. Sempre seguindo sem questionar qualidade ou desejo próprio a humanidade caminha para deixar de ser humanidade e virar robô ou gado. Melhor observar qualidade das obras do que o formato.

  2. Também acho que isso não adianta nada, além de ser uma medida protecionista e metida a patriótica. Ninguém, repito NINGUÉM, compra cd’s mais. As pessoas baixam de graça na cara dura. A indústria fonográfica poderia ter tentado fazer isso há uns 13 anos, ao invés de sair processando Napsters e afins. Agora já é tarde e a indústria fonográfica tem que repensar algum modelo de venda de música que vá além da venda física. Enquanto isso, eu já abri minha conta no I-Tunes.

    • Afirmação olhando apenas o umbigo? Muita gente ainda gosta das coisas físicas, incluindo o sexo.
      Encartes e trabalhos como o de Elifas Andreato nas capas de discos, etc. Infelizmente muita gente não conhece arte, apenas música de aeróbica, sem poesia, alienante ou de criminosos. .
      Cuidado para não virar gado que segue os caminhos sem olhar ou pensar até cair no abismo. Sempre seguindo sem questionar qualidade ou desejo próprio a humanidade caminha para deixar de ser humanidade e virar robô ou gado. Melhor observar qualidade das obras do que o formato.

  3. Alguém aí disse, enfaticamente, que não se compra mais cds.
    Isso não corresponde a realidade.
    Milhões de pessoas ainda adquirem cds, sim!!!
    Basta ir a grandes lojas como Americanas, ou transitar por locais de comercio popular adensado, como no Brás e rua 25 de Março aqui em SP.

  4. Eu compro CDs físicos e garimpo o máximo de promoções em lojas físicas e virtuais pra isso… Eu consumiria música digital se fosse mais barata, pois me parece um preço alto por um produto totalmente virtual. Nada como pegar encarte, ler todos os créditos e letras, agradecimentos do artista, o trabalho gráfico e fotográfico…

  5. Eu ainda comPro, adoro ver o trabalho gráfico, ler o encarte, cada detalhe, essa coisa de dizer que ninguém compra, a gente não pode responder por todos, não generalize por favor, minha última aquisição foi o cd Mundo Livre Sa vs Nação Zumbi, tô namorando ele faz 1 semana! E sim eu tb baixo no celular pra ter a música comigo por onde eu vou!

  6. Desejo continuar comprando Vinis e Cds, adoro os encartes e todo o trabalho artístico.

    Espero que os dirteitos de quem não gosta de nada virtiual seja respeitado.

  7. Nunomura,
    Apenas uma correção: Na tabela de comparação dos preços, na linha França, o nome do jovem artista em questão é Stromae; Racine Carrée (Raiz quadrada) é o nome do album; Boitier Cristal deve ser apenas o tipo do estojo do cd, transparente; e o artista é Belga.

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