Kombi revela o funk como movimento de resistência

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“Embola as pernas, balança o ombrinho/ Embola as pernas, balança o ombrinho/ Aqui no Funk Móvel, a caravana do passinho.” Foi com essa letra, simples como a maioria dos funks, que o cineasta, publicitário e ativista cultural Fernando Fonseca produziu um curta-metragem que diz muito sobre o momento da música brasileira contemporânea. A ideia era muito clara: uma Kombi equipada com alto-falantes irradiava o funk acima, em alto e bom som como convém ao gênero, e câmeras filmadoras registravam a reação popular em dez comunidades do Rio.

Engana-se quem pensa que vai ver no vídeo do Funk Móvel um monte de pessoas dançando o passinho, composto e interpretado por DJ Dentinho Rangel, morador de Miguel Couto. É isso também, mas o projeto alçou voos muito maiores. Pode-se ver no curta educadores reconhecendo o gênero como um movimento de resistência. “É só a gente entender o que significa a opinião pública contra o funk e olhar para o funk como potencial educativo. Que menino e menina não tem o funk em seu cotidiano? O que a gente precisa é pegar esse funk e inverter para uma lógica que vai educar e formar”, diz Marcia Florêncio, da Pavuna.

FunkMovel“O projeto percorreu apenas comunidades não pacificadas, por sabermos que a possibilidade de ações culturais nesses locais serem mais escassas, e temos ciência de que a ideia que se faz presente no consciente coletivo é de que as comunidades sejam o local das ausências”, explica Fonseca, de 23 anos, morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e membro da organização social Laboratório Cultural. “A produção artística e cultural captada em cada dança é um tipo de resistência, a partir do momento em que conhecemos a ausência do Estado nesses locais.”

Presente na maneira de falar, de se vestir, de se comportar, de se relacionar e, principalmente, de se expressar para dentro e para fora das comunidades, o funk carioca, como afirma Anderson Barnabé, da Arena Cultural Jovelina Pérola Negra, virou nome próprio e hoje é reproduzido por todo o país. Com uma equipe de cinco pessoas, Fonseca procurou registrar em audiovisual a reação das pessoas, ampliar e fortalecer os diálogos na linguagem da dança, da música, da tecnologia e da comunicação, e, acima de tudo, estimular a reflexão crítica sobre a cultura do funk.

Em 2011, Fonseca percebia dois fenômenos prosaicos e curiosos, e por isso mesmo interessantes. Um era o carro de mapeamento do Google, no qual pessoas reconhecem a ação e partem para interagir com poses, à espera de um dia se verem nas imagens que fazem partes dos sistemas da gigante da internet (Google Maps, por exemplo). A outra situação ocorria e ocorre quando um carro de som percorre uma comunidade tocando funk e as pessoas começam a dançar naturalmente. Juntou as duas ideias e inscreveu o projeto do Funk Móvel no edital da Secretaria de Cultura do Estado do Rio, na qual foi contemplado.

O trabalho já rendeu frutos. O Funk Móvel passará a atuar dentro de algumas escolas municipais cariocas, oferecendo oficinas de passinho. Fonseca torce para fazer com que o projeto se torne um longa metragem, mais abrangente. “São apenas desejos. Estamos à procura de um novo patrocinador agora para viabilizar as ideias que estão surgindo”, diz o cineasta.

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