Sete artistas e uma banda reinterpretam no Teatro Municipal álbuns clássicos de suas carreiras

Em programação já tradicional da Virada Cultural, o Teatro Municipal abrigará neste ano sete artistas e uma banda reinterpretando álbuns clássicos de suas carreiras, num cardápio variado que inclui a revisão de discos dos anos 1970 de Angela Ro Ro, Eumir Deodato, Fagner, Jorge Mautner, Odair José, Som Imaginário, Walter Franco e Wanderléa.

A programação do Municipal começará às 18 horas do sábado (18), com uma apresentação da Orquestra Sinfônica Municipal. Às 21 horas, começa a maratona dos álbuns, com o retorno de Manera Fru Fru, Manera (1973), de Fagner. A programação, como toda a Virada, é gratuita, mas está sujeita às peculiaridades do palco mais nobre da cidade. O espaço é sujeito a lotação, e os ingressos devem ser retirados antes de cada apresentação, no próprio Municipal. Prepare-se para inevitáveis filas.

Saiba abaixo um pouco sobre cada artista e álbum programados para a Virada 2013, na ordem cronológica das datas originais de edição.

…Maravilhosa (Polydor, 1972), Wanderléa – Produzido por Guilherme Araújo, empresário do grupo tropicalista, este disco marca a tentativa da artista mineira de dar um grito de libertação e se descolar da imagem de “ternurinha” da jovem guarda. O repertório começa e termina com duas típicas baladas iê-iê-iê, “Mata-Me Depressa” e “Tempo de Criança”. O recheio, ao contrário, é surpreendente. Começa com “Back in Bahia”, canção de volta do exílio do baiano Gilberto Gil. Apresenta o bardo carioca influenciador da tropicália Jorge Mautner (que estreava em LP próprio naquele mesmo ano), com “Quero Ser Locomotiva”, e o soulman baiano Hyldon (três anos antes de ele estourar com “Na Rua, na Chuva, na Fazenda”), em “Vida Maneira” e “Deixa”. O disco e o show de tons tropicalistas (na foto acima, o folheto original do espetáculo, de 1973) se valem também da influência colossal da portuguesa-carioca Carmen Miranda, de cujo repertório Wanderléa reinterpreta as picarescas “Uva de Caminhão”, do baiano Assis Valente, e “Casaquinho de Tricot”. O show está previsto para as 9 horas de domingo.

Deodato 2 (CTI, 1973), Eumir Deodato – Talento precoce da segunda leva de bossa-novistas, o carioca Eumir Deodato estreou em disco aos 20 anos, com Inútil Paisagem (1964), um LP de versões instrumentais para temas de Tom Jobim. Nos anos seguintes, se notabilizou como arranjador de trabalhos de artistas como Marcos Valle, Milton Nascimento, Astrud Gilberto e Elis Regina. A bordo do prestígio internacional da bossa nova, mudou-se para os Estados Unidos e iniciou uma carreira bem-sucedida baseada em discos instrumentais de sabor hollywoodiano, retrofuturista. Deodato (1972) iniciou essa fase, tendo por carro-chefe era uma versão funkeada para “Also Sprach Zarathustra”, de Richard Strauss, que fora reutilizada quatro anos antes na saga espacial 2001: Uma Odisseia no Espaço, do cineasta Stanley Kubrick. Deodato 2 dá prosseguimento a essa rota funk-jazz-hollywoodiana, com composições próprias (como “Skyscrapers”) e versões futuristas para temas de Maurice Ravel (“Pavane for a Dead Princess”) e George Gershwin (“Rhapsody in Blue”). Domingo, às 15 horas.

Manera Fru Fru, Manera (Philips, 1973), Fagner – Álbum de estreia do cearense Raimundo Fagner, inicia-se por uma versão áspera do conhecido tema de retirantes nordestinos “Último Pau-de-Arara” e segue abrasileirando o blues-rock sessentista “Born to Cry”, na versão em português, escrita por Erasmo Carlos e gravada por Roberto Carlos em 1965, no auge da explosão da jovem guarda. Ainda desconhecido, Fagner ganhava aqui legitimidade conferida pela deusa bossanovista capixaba Nara Leão, que cantava com ele a tradição campestre de “Penas do Tiê” e a contemporaneidade cearense de “Pé de Sonhos”. De futuros clássicos da obra de Fagner, estão aqui “Canteiros”, calcado em poema da carioca Cecília Meireles, e “Mucuripe”, composição nova em parceria com o conterrâneo Belchior, a essa altura já imortalizada pela versão da gaúcha Elis Regina um ano antes. Sábado, às 21 horas.

Matança do Porco (Odeon, 1973), Som Imaginário – Integrado em diversas formações por músicos como os mineiros Wagner Tiso e Tavito, o carioca Zé Rodrix (já falecido) e o pernambucano Naná Vasconcelos, o Som Imaginário surgiu em 1970 como grupo de acompanhamento de shows do carioca-mineiro Milton Nascimento – e contribuiu, assim, para a formulação do som popularizado como “clube da esquina”. A seguir, a big band acompanhou shows de Gal Costa em 1971, na mítica fase em que a cantora baiana se tornou porta-voz, no Brasil, dos colegas tropicalistas exilados em Londres. Matança do Porco é o terceiro e derradeiro disco de gurpo do Som, e também o mais experimental. Contém temas instrumentais compostos por Tiso, como “Armina”, “Bolero” e “Mar Azul”. A faixa-título é uma suite de 11 minutos de duração, originalmente com vocalizações de Milton. Domingo, às 18 horas.

Jorge Mautner (Philips, 1974), Jorge Mautner – Esse é o segundo álbum de Mautner e o que contém a versão autoral de sua obra-prima, “Maracatu Atômico”, tornada sucesso um ano antes na voz de Gilberto Gil. O parceiro e conterrâneo Nelson Jacobina, morto no ano presente, é coautor de “Maracatu Atômico”, “Cinco Bombas Atômicas”, “Rock da TV”, “Herói das Estrelas”, “Nababo Ê”, “Salto no Escuro” e “Um Milhão de Pequenos Raios”. A veia hippie bem-humorada do pré-e-pós-tropicalista Mautner está exuberantemente exposta em temas como “Pipoca à Meia-Noite”, “Samba dos Animais”, “Guzzy Muzzy” e “O Relógio Quebrou”. “O relógio quebrou/ e o ponteiro parou/ em cima da meia-noite/ em cima do meio-dia/ tanto faz porque depois de um vem dois/ e vem três e vem quatro/ e eu fico olhando o rato/ saindo do buraco do meu quarto”, ele canta nessa última, em clave híbrida niilista, existencialista, hedonista. Pela banda de Mautner à época passaram músicos que ficariam conhecidos a seguir, como o paulista Guilherme Arantes e o carioca Roberto de Carvalho, futuro parceiro e marido da paulista Rita Lee. Domingo, às 12 horas.

Revolver (Continental, 1975), Walter Franco – Trata-se do segundo LP do experimentador pós-tropicalista paulista, e o primeiro depois da rumorosa estreia no Festival Internacional da Canção de 1972 e no célebre “disco da mosca” de 1973. Ainda experimental, mas composto de rocks e MPBs de melodias fortes (como o rock rascante de abertura, “Feito Gente”), o álbum revela no título a influência pop dos Beatles, enquanto se espalha por canções de sabor concretista como “Eternamente”, “Mamãe d’Água”, “Partir do Alto/ Animal Sentimental”, “Toque Frágil”, “Arte e Manha”, ”Cachorro Babucho” e ”Bumbo do Mundo”. Domingo, às 6 hora

O Filho de José e Maria (RCA Victor, 1977), Odair José – Se …Maravilhosa foi o grito de liberdade de Wanderléa, O Filho de José e Maria foi o de Odair, e ainda mais radical. O cantor e compositor popular goiano quis criar uma ópera-rock fundada na figura de Jesus Cristo, mas tratando-o de modo ora desconfiado, ora iconoclasta (a homossexualidade do personagem e o uso de drogas são insinuados de leve), ora adaptada à realidade dos anos 1970 (“O Casamento”, por exemplo, existe para questionar a validade daquela instituição, à época às voltas com a liberação ou não do divórcio). Virtuoso, o disco é acompanhado por músicos como Jaime Alem (futuro maestro de Maria Bethânia), o trio Azymuth, Hyldon e Robson Jorge, esses últimos responsáveis pela levada black de faixas como “Não Me Venda Grilos (Por Direito)”. Imaginado inicialmente como um álbum duplo, o trabalho foi retalhado pela Censura da ditadura – momentos mais picantes foram limados e voltaram, menos chamativos, no posterior Coisas Simples (1978), de que constam “Forma de Sentir” (uma canção explícita sobre homossexualidade, que termina decantando o “é proibido proibir” de 1968) e “Agora Sou Livre (O Divórcio)”. Sábado, às 24 horas.

Angela Ro Ro (Polydor, 1979), Angela Ro Ro – O álbum de estreia da blues-MPB-roqueira carioca traz o petardo romântico “Amor, Meu Grande Amor”, seu maior sucesso popular, mas apenas uma entre 12 peças de altos teores de inspiração. O repertório 100% autoral inclui “Não Há Cabeça” (que a igualmente estreante Marina Lima lançou no mesmo ano), “Gota de Sangue”, “Balada da Arrasada”, “Tola Foi Você”, “Agito e Uso” (também gravada pelas Frenéticas), “Cheirando a Amor”, “Me Acalmo Danando”, “Minha Mãezinha”, “Abre o Coração” e “Mares da Espanha”. “Loucura é loucura, não me compreenda/ loucura é loucura, pior é a emenda/ loucura é loucura, não me repreenda, eu amei demais”, Angela canta em “Mares da Espanha”, clamando por liberdade. Não foi totalmente percebido a época, mas os adventos de Angela e Marina, somados à carreira a toda popa de Rita Lee, configuravam um levante feminino na música popular brasileira do início dos anos 1980, que ainda renderia muitos frutos. Domingo, às 3 horas.

(Texto publicado originalmente no blog Virada Cultural, da Prefeitura de São Paulo)

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2 COMENTÁRIOS

  1. EU CEMPREM FUI UM ADIMIRADOR DA GOVEM GUARDA QUI NO MUNICIPIO DE GOIANA-PE. LITORAL NORTE NA PRAIA DE PONTA DE PEDRAS SEMPRE CANTEI AS MUSICASE WANDERLÉA POIS SÃO MUITOS FÁS DELA AQUI QUNDO ELA VIR AQUI UM DIA EU TEREI UM IMESSO PRASER DE RECEBELA NO MEU APARTAMENTO IR LIMOSTAREI TODO LITORAL NORTE UM FORTE ABRÇO DO SEU FÁM MUITOS ANOS DE VIDA

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