O “Rei” segue em fase de poucas composições e lança duas inéditas em formato single. Em tempo de funk carioca, “Furdúncio” é um melody à moda de MC Leozinho.
A composição se tornou uma tarefa custosa para Roberto Carlos nos últimos anos. Desde 2003 ele não lança um disco inteiro de músicas inéditas. A longa e antigamente rigorosa tradição de entregar um álbum de canções novas por ano está interrompida desde 1996 – há nada menos que 16 anos.
Nesse intervalo, DVDs e CDs de sucesso gravados ao vivo e projetos especiais ocuparam parte do espaço deixado vago. Não foram poucos os anos em que se noticiou a dificuldade do cantor em cumprir prazos junto à gravadora Sony, para a entrega antigamente religiosa às vésperas de Natal.

Das quatro, só “Esse Cara Sou Eu” e “Furdúncio” são inéditas. As outras duas estiveram em trilhas de novelas da Globo em 2004 (“A Volta”, regravação de um tema de jovem guarda dos anos 1960) e em 2009 (a então inédita – e tristíssima – “A Mulher Que eu Amo”). Em vigor desde a primeira metade dos anos 1970, a simbiose entre a Globo e Roberto Carlos parece total em 2012 – no site oficial do “Rei”, já se noticiam ensaios com as participações especiais de Arlindo Cruz, Michel Teló e Seu Jorge, para o especial natalino deste ano.
Trocando em miúdos: RC antecipou a entrega de alguma novidade para novembro, e deve ser isso o que teremos para o ano que vai se encerrando. Do resto, a Globo se encarrega: “Esse Cara Sou Eu” foi apresentada ao público como música-tema do casal romântico da novela global das 21h. De melodia suavemente inspirada, é daqueles temas-chiclete que você ouve uma vez por dia e fica mascando sem parar por 24 horas.
Voluntariamente ou não, o formato da letra (composta solitariamente por Roberto) remete à gag “ele é o cara”, usada pelo então recém-eleito Barack Obama para elogiar o colega brasileiro Lula, em 2008. “Esse cara sou eu!”, reage, ciumento, o único rei cultuado pela centenária república brasileira.
Mais divertida é a outra canção nova, uma das pouquíssimas de safra recente que Roberto assina em dupla com o parceiro histórico Erasmo Carlos. A letra não difere de quase tudo que ele tem composto nesta fase de economia musical (“onde ela vai eu vou/ onde ela está eu estou/ e cada dia mais doido por ela eu sou”). Mas o pulo do gato se esconde na melodia e no arranjo: “Furdúncio” arremeda um funk carioca de levada melody, à maneira de Buchecha ou, mais precisamente, de MC Leozinho, de quem Roberto é fã confesso.
A faixa é uma pequena e esquisita delícia. As intenções de fazer um pancadão não vão muito longe – RC estapeia no máximo uma pancadinha e se refugia de volta em seu próprio e confortável estilo, o que tem garantido sua permanência na cena desde o primeiro grande sucesso comercial, em 1963.
A brincadeira com o funk pode parecer disparatada a um desavisado, mas é pura coerência. Para erigir a própria história repleta de vitórias, Roberto sempre se espelhou nas ondas musicais de cada momento — beliscou, ao longo das décadas, bossa nova, rock’n’roll, soul tipo Motown, tropicália, romantismo à Frank Sinatra, pop-rock dos 1980, sertanejo, pagode etc. etc. etc.
Se fosse um Zelig, ele se misturaria à paisagem e desapareceria entre tantos funks, lambadas e axés. Mas o que ele faz é mais ou menos o contrário disso: transforma as modas de cada hora em robertocarlismos, antes que essas queiram cometer a audácia de engoli-lo. Mesmo desacelerado pelo tempo, RC sabe o que tem que fazer para nunca perder a global majestade.
(Texto publicado originalmente no blog Ultrapop, do Yahoo! Brasil.)





Eu acho inteligente colocar aspas na palavra rei,mas rei com aspas não é rei.
Ouvi muito quando criança. É o Frank Sinatra tupiniquim.
Mas dai cresci e fui ouvindo outros pensares melódicos. Ele embalou muitas gerações, pois lembro-me bem vi meu tio Severino aplicando um empolgado beijo na Solange, quando ele fora visitar-nos em Tupã, onde morávamos, embalado ao som de Roberto Carlos em Ritmo de Aventura.Ouvi tanto aquele disco que quase o furei.Sabia de cor todas as músicas do rei.Não demorou muito para ele virar rei.De um faturamento para outro, logo foi guindado a essa honorável condição.Mesmo que debaixo dos caracóis de seus cabelos ande havendo lapsos de criatividade, o maior sucesso comercial que conheço na música é ele.Foi inteligente e colou com a Globo.Mas a essa altura dos festivais, dado já os vários janeiros percorridos, deve estar perguntando-se, que rei sou eu?
O Roberto carlos foi o rei da jovem guarda(música pra adolescente)e só e ponto e fim.