Festivais dissidentes da Abrafin ainda têm dúvidas sobre integração, mas apostam nas parcerias
O Grupo dos 13 cresceu. Virou o Grupo dos 17, embora nem mesmo essa marca esteja definida entre os integrantes dos festivais independentes que decidiram criar uma dissidência à antiga Abrafin. Em dezembro, quando houve a ruptura e ficaram visíveis as diferenças de mundo entre os novos dirigentes da Abrafin e os tradicionais festivais dissidentes, imaginava-se que a sequência natural era o surgimento de outra associação. Até agora foram feitas discussões virtuais, dois encontros e uma série de ideias foram postas à mesa. Nenhuma, por ora, vingou.
Vinicius Lemos, advogado, produtor cultural, professor universitario, criador e responsável pelo Festival Casarão desde 2000, além da produção de mais de 100 shows e eventos em Porto Velho e em outras cidades da região Norte, falou ao FAROFAFÁ. Depois de a Abrafin se tornar a Rede Brasil de Festivais, tratamos de atualizar também os próximos rumos do grupo dissidente. Apostando na tradição e na continuidade dos eventos que promovem, Lemos afirma o rompimento vai ser bom para os dois lados e a música brasileira só tem a ganhar nos próximos anos. Mas admite que talvez essa ruptura poderia ter sido evitada.
Eduardo Nunomura: Em dezembro, festivais independentes como o que vocês organizam em Porto Velho, o Casarão, mas também Abril Pro Rock, RecBeat, Mada e El Mapa de Todos, entre outros, decidiram romper com a Abrafin e formar o Grupo dos 13. O que aconteceu desde então?
Vinícius Lemos: Desde dezembro temos nos encontrado e pensado no que queriamos, o que era o mais importante. A junção de conhecidos em comum foi ótima e estamos nos movimentando. Já foram dois encontros presenciais e várias coisas pela internet. Teremos novidades.
EN: Quais as novidades do Grupo dos 13?
VL: O nome Grupo dos 13 não nos cabe mais. Hoje já somos 17 festivais. E estamos pensando, fase de organizar, escolher caminhos. Acredito que em novembro teremos um caminho mais definido e centrado dessa situação, talvez com lançamento já.
EN: Daria para dizer que o rompimento foi melhor para vocês do que para quem ficou na Abrafin?
VL: Rompimento nunca soa bem, mas infelizmente muitas vezes torna-se necessário, indispensável, como neste episódio. Pudemos nos posicionar e mostrar para a imprensa, público e patrocinadores que tínhamos formas diferentes de ver, o que não era de conhecimento de todos antes. Esse foi o ponto muito positivo para quem saiu. Mas não posso me dar o direito de falar se foi bom ou não ficar. Não posso falar por quem ficou.
EN: Olhando um pouco em retrospectiva, o rompimento podia ter sido evitado?
VL: Olhando para 2011 somente, digo que não. A ruptura de pensamento era claro e evidente. Na reunião da saída, em uma resposta a uma fala minha, o então vice disse que era um caminho sem volta e que não tinha como se discutir a não ser ir por aquele caminho. E o caminho era esse, ser um braço dentro da Rede imensa que é o Fora do Eixo (FdE). Mas, se olharmos lá para 2009, tenho que poderíamos ter criado um meio termo, mas já foi.
EN: Ontem, a Abrafin lançou a Rede Brasil de Festivais Independentes, que afirma reunir 107 festivais, 88 cidades e 6 mil artistas. Que números o Grupo dos 17 tem a contrapor?
VL: Não falaremos de números por números e nem temos motivo para se contrapor a eles. A forma com que eles conseguem esses números vem da forma deles de ver a produção cultural e tem toda legitimidade. Acho legal esse lançamento deles e apoio. Mas o nosso lance é diferente, o modus operandi é diferente. Somos 17 mentes que pensam da forma parecida. E o mais básico não é primar por quantidade, mas principalmente por tradição, comprometimento, estabilidade e continuidade.
Se você pega o Abril Pro Rock, além de toda a carga de história da música, há um comprometimento, são 20 anos fazendo a mesma coisa. Você pode questionar o que quiser, mas não pode questionar essa continuidade. O Casarão vai para a 13ª edição em setembro, desde 2000, sendo o pioneiro no Norte. Nunca deixamos um ano de realizar e se você me entrevistar daqui a outros 13 anos, estarei na edição 26. Isso é comprometimento, é isso que buscamos, pessoas com tradição ou que buscam algo na vida para ganhar tradição. Isso é diferente do que estar em cada momento em um lugar e uma prioridade diferente.
EN: Dá para dizer que os festivais do Grupo dos 17 têm mais patrocínios, melhores artistas, paga os maiores cachês e atraem mais público?
VL: Não sei. Primeiro por que não tenho acesso a valor de cada festival, nem do nosso lado nem de qualquer outro lado. E patrocínios, dificilmente existe uma empresa que patrocine direto, mesmo com Lei Rouanet e nisso viram editais e editais. E o Circuito FdE tem muito know-how em ganhar editais, competência para mostrar o quão grande e importante são. Então não vejo essa diferença. Sobre o restante são formas diferentes de se fazer eventos, música e produção. Eu quero lotar, quero levar a Porto Velho bandas que nunca foram, históricas, quero inserir gente de todas as tribos e isso demanda, tempo, cache, bandas de diferentes níveis, mas todas conectadas ao que o meu festival diz. Essa eu acho que é uma diferença grande.
EN: Daqui a alguns anos, o que poderemos extrair desses episódios?
VL: Eu vejo como algo bom. Vejo com a ruptura dividindo duas formas de se trabalhar. Eles pensam em mudar o mundo sobre cada assunto, de forma ampla e que isso reflita na música e nos festivais. Nós somos diferentes, queremos mudar as nossas cidades com os festivais e numa junção nacional mudar a música. São premissas diferentes, modos diferentes, mas buscando um mundo melhor. Busco melhorar Porto Velho com o Casarão, e a juventude e os adultos de Rondônia são melhores porque existe o Casarão e é uma obrigação histórica cultural minha para com a minha cidade. E acho que terá avanços nossos que servirão para eles assim como o contrário. São lutas iguais de formas diferentes.
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