Paula Fernandes é mais que um violão

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Cantora sertaneja, campeã de vendas de discos em 2011, lança “Meus Encantos”, seu sétimo álbum, que traz parcerias com Zezé di Camargo, Victor Chaves e Zé Ramalho

1,7 milhão de discos vendidos. Uma artista que é, ao mesmo tempo, cantora, compositora e arranjadora. Em 2011, a canção “Pra Você”, de sua autoria, foi um arrasa-quarteirão nas rádios e a mais buscada no Google. Ela apareceu como a pessoa mais procurada no mecanismo de busca global. Seus shows lotam com freqüência. Se adjetivos não faltam para Paula Fernandes, por que será que tudo o que leio sobre ela nos últimos dias parece se resumir ao seu corpo-violão?

Fotos Divulgação - Site Paula Fernandes

A partir de hoje, chega às lojas físicas seu sétimo álbum, “Meus Encantos”, que já podia ser reservado pelo iTunes (1 dólar cada música, com exceção de “Eu Sem Você”, a 1,29). No último fim de semana, ela fez três apresentações em São Paulo, mas os sites de entretenimento fizeram questão de frisar que a socialite Val Marchiori foi até lá e saiu debochando de sua roupa. Diz que dá para melhorar…
Explorando um pouco mais o noticiário geral, descubro que Paula Fernandes teve de se explicar a jornalistas em entrevista coletiva porque fez um ensaio fotográfico sensual, como aparece nas fotos de divulgação, de Guto Costa. E lá foi ela tendo de dizer que “sensualidade e a vulgaridade não estão na roupa”. Como se a ela só coubesse o papel de boa mocinha.
Desta vez, perseguem a roupa dela. Em anos anteriores, foi a sua aparição em especial de Roberto Carlos. Quem já viu algum clipe dela sabe que decotes, calças justas e minissaias não são novidade alguma. Também já se falou que a estrela detratou criancinhas numa cidade do Mato Grosso, que é antipática com os fãs nos shows, que atrasa os espetáculos, que não tem namorado… Haja assunto relevante.
Paula Fernandes é uma jovem cantora de 27 anos com uma carreira pra lá de madura. Começou a cantar aos 8 e dois anos depois, decidida a seguir a profissão de música, gravou um disco de batismo como tantos outros artistas de ontem, hoje e sempre: por conta própria. Aos 21, já reconhecida no universo da música sertaneja, gravou uma canção com Sérgio Reis. Foi nesse terceiro álbum, “Canções do Vento Sul”, que uma de suas gravações acabou entrando numa novela da TV Globo, feito que se repetiu outras duas vezes e a catapultou para o reconhecimento nacional.

Dizem que ela só canta sertanejo pop, com baladas de amor, mas que mal há nisso? Ou que ela é a representante da menina e da mulher dos interiores do país. Isso é fantástico, porque com sua brejeirice bem brasileira ela vai invadindo as metrópoles rompendo com o discurso machista-sexista que tantos outros representantes do mundo dos sertanejos fizeram no passado e fazem ainda hoje.
A cantora-compositora, nesse novo disco, fala só de amor e em suas múltiplas formas. É o amor incompreendido, o da saudade, o do querer estar junto sem poder. “Sem você sou caçador sem caça/ Sem você a solidão me abraça/ Sem você sou menos que a metade/ Sou incapacidade de viver por mim/ Sem você, eu sem você”, declama em “Eu Sem Você”. O clipe dessa música de trabalho foi gravado na belíssima Serra do Cipó, em Minas Gerais, seu Estado de nascença.

Ela compôs 12 faixas inéditas, algumas em parcerias com os sertanejos Zezé di Camargo e Victor Chaves, da dupla Victor & Léo. Com Zé Ramalho, com quem desejava gravar uma música, fez “Harmonia do Amor”: “Me lembro do toque desse sentimento/ Ardendo e pulsando fortemente/ A vida vem me mostrar o que for/ Vem me ensinar o que sabe de cor/ O tempo vem, o tempo vai/ Na perfeita harmonia do amor”.
Nas rádios, Paula Fernandes já faz sucesso com o hit “Long Live”, gravado em parceria com a cantora americana de country music Taylor Swift, mas guarda na manga a gravação de “Hoy Me Voy”, com o cantor pop colombiano Juanes. Com as duas músicas, pretende alçar voos internacionais. No Brasil, já é uma campeã indiscutível. Vendeu, em 2011, mais discos do que Luan Santana, Michel Teló, Ivete Sangalo, Exaltasamba, Maria Gadú e Caetano Veloso.
 
Para os machistas que chegaram até aqui, talvez seja o caso de dizer: Paula Fernandes só é gostosa por acaso.

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9 COMENTÁRIOS

  1. Esse é o estilo dela. Compõe dentro de seu universo musical.Gostar é lance subjetivo. Roberto Carlos gostou mas não levou. Depois que decretaram que o Brasil é sertanejo, a música sertaneja deixou de frequentar apenas lares de bóias frias e outros deserdados para instalar-se confortavelmente nas suítes e palcos de luxo desse Brasilzão de Padim Ciço. Nada contra. Apenas o que intriga-me é a evidência de que aqui alguns dizem o que é ou não, o que pode ou não, o que será agora e amanhã, talvez. Os patrões da cultura tupiniquim.

  2. Gostar é subjetivo, sim, para pobres, ricos, brancos, mulatos e mestiços, boias-frias ou empresários. Ignorar que a música sertaneja exista por puro gosto pessoal é uma opção de cada um, mas não dá para ignorar como fenômeno midiático. Michel Teló tem quase 350 mihões de views com seu clipe “Ai Se Eu Te Pego”, o que diz que há algo a ser estudado/debatido/apreciado/criticado. Senô, muitos anos atrás, a Tropicália era espinafrada por parte da classe média tupiniquim, mas hoje são raros os que não se rendem a ela. Isso aconteceu também com a Jovem Guarda, não é mesmo? E o que dizer do axé? Toque numa festa Segura o Tchan e veja a reação de muitos, senão a maioria? O sertanejo pop, universitário, caipira, raiz, seja ele qual for, está nos dizendo algo e vale a pena não virar as costas

    • Alguns estudiosos consideram “música caipira” e “música sertaneja” dois gêneros completamente independentes.Em conversa com Sérgio Reis que este ve aqui em Brasília a semana passada, ele afirmou que o que está acontecendo muito é rotularem baladas e músicas bregas, de música sertaneja tendo como único escopo o lado comercial .É óbvio que pessoas que vivem do ramo precisam realizar um produto vendável e que tenha alguma qualidade aos olhos do consumidor. O que falo é de algo mais além.
      É de segmentos que ditam normas e dizem: essa é a música brasileira e não essa também é a música brasileira. Como produto de consumo tudo isso que voce citou está dando excelente resultado: sertanejo pop, universitário; mas isso nunca foi e nunca será música caipira, mas sim o substrato dela.

  3. Não me preocupo com a aparência de um artista. Serei objetivo então. Que não me atrai nada na música da bela Paula (elogio sincero) primeiramente é a sua voz empostada, forçada, tipo que cantando com a mandíbula, emulando as cantoras pop/country estadunidense. Cito também o fato de suas melodias serem pasteurizadas e suas letras rasas, povoadas de clichês e lugares comuns. Mas por outro lado é sim louvável que uma mulher possa assumir esse posto na indústria cultural. Vejo que ao menos suas músicas são bem produzidas, bem tocadas, porém se resume a um mero produto. É um produto até melhor que a maioria do gênero, mas não dá para ver como algo diferente de um produto. Obviamente a garota é inteligente, sabe se promover, tem uma boa postura no palco, mas sua música mesmo…

  4. Excelente ponto de vista, Das Couves. A questão da pasteurização das melodias e das letras, ao meu ver, faz parte de um referencial marcante do nosso tempo. Quem está escrevendo hoje letras genuinamente elaboradas? Chico Buarque veio com essa: “Hoje pensei em ter religião/ De alguma ovelha, talvez, fazer sacrifício/ Por uma estátua ter adoração/ Amar uma mulher sem orifício”. E, presume-se, que ele burilou muito para chegar a essa rima.
    É sempre possível ver os artistas, todos eles, hoje em dia como parte de um produto da indústria cultural. Mas isso não os condenam a nada. Gaby Amarantos tenta desesperadamente entrar nesse universo, fazer parte do mundo do entretenimento global, e ela tem mais do que qualidades para isso. De certa maneira, está rompendo, pelas bordas, esse cerco e chegando lá. Esplêndido. É certo que as gravadoras viram no sertanejo universitário, o das duplas que artistas singles, uma tábua de salvação para seu negócio. E estão investindo pesado nisso. Dá para condenar já de partida? Se é assim, por que não condenávamos os hoje clássicos medalhões da MPB, que usaram do mesmo expediente, décadas atrás?

    • kkkkk. Gostei dessa observação Eduardo. Que negócio é esse de amar uma mulher sem orificio? quem sabe ele não quis usar o “amar uma mulher presa no hospício” ou “amar uma mulher louca é suplício’ ,mas deve ter achado muita barra para seus olhos anglo saxônicos.Aliás o ilustre Chico andou escrevendo algo tipo A voz do dono e o dono da voz, creio que numa alusão às manietações do pessoal da indústria culturosa que andava querendo dizer o que ele deveria escrever e as palavras a utilizar.Voce tem razão Eduardo a gente precisa ganhar dinheiro, temos contas a pagar e se para isso precisarmos escrever essas tristes linhas e rimas porque não aproveitar a fase em que as pessoas estão apreciando o rescaldo como se fosse biscoitos finos?

  5. Eu não tenho nada contra as pessoas ganharem dinheiro, eu tbm quero ganhar, porém o produto que elas vendem não me agradam mesmo. Agora, sem querer ser advogado do diabo, a expressão “mulher sem orifício” é genial! Um amor contemplativo, apenas sentimental, ideal, é uma expressão bastante interessante. Mas podemos também sair dos medalhões da mpb e ver que tem gente boa fazendo letra bacana. O Rômulo Froés é um excelente letrista, a turma mineira do Graveola e o Lixo Polifônico, o próprio queridinho da crítica Criolo, Karina Buhr, etc.

    • Das Verduras ,nessa altura do campeonato nem sei mesmo para que Chico iria querer uma mulher com orifício se o penduricalho dele já estiver pendurado a chuteira, então fica esse negócio de platonismo mesmo.Não acho genial. Esse negócio de contemplação é meio zen budista e nem de longe tem alguma afinidade com Chico dos zóim azur mesmo porque nem acredito que ele tenha navegado para essas águas paradas.Eu que cresci ouvindo Chico, mesmo com essas derrapagens o considero um excelente compositor. Cantor?Quem falou em cantor?

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