Opa! O diploma de jornalista roubou os holofotes da Xuxu no tópico aí abaixo, então eu vou também.

Tenho dificuldade de falar no assunto, primeiro porque não tenho nenhuma opinião fechada, e segundo porque fico dividido entre as duas bandas que tendem a dividir esse debate.

De cara, não me sinto nem um pouco contra derrubarem a obrigatoriedade. Infelizmente, o nosso jornalismo está hoje construído como um amontoado de generalidades, a tal ponto que fica difícil defendê-lo como alguma ciência especializada como medicina ou sei lá o quê.

A propósito, uma das principais sensações que me deixou o curso de jornalismo na USP (e que, ao contrário, não tinha me deixado o curso de farmácia na UEM) é a de que passei quatro anos lá sem aprender nada de concreto. Mesmo assim foram alguns dos melhores, mais divertidos e mais felizes anos da minha vida – inclusive no sentido da aprendizagem, embora raramente conseguida em livros.

[Depois de formado na “progressista” USP, fui ser serviçal da tradicional sociedade direitista paulistana (e brasileira), mas isso é outra conversa, que a gente pode ter outra hora…]

Mas eu lamento que a derrubada da obrigatoriedade coincida com este momento de esculhambação e de desprestígio máximo da profissão do jornalismo. Quem fez essa mixórdia com o jornalismo fomos os jornalistas (quer dizer, também nossos patrões, mas…), e nesse caso não adianta reclamar que a sociedade está desvalorizando a nossa especificidade, o nosso patrimônio, o nosso know-how. Quem desvalorizou primeiro fomos nós.

Só que essa coincidência histórica leva a coisa pra uma outra banda de que eu não gosto nem um pouco, que é esse modismo de que diploma não serve pra nada, de que não é preciso estudar jornalismo, de que fazer jornalismo é igual a fritar ovo, de que o jornalismo já era. Aí acho que vão alhos e bugalhos (e não entendo, Dafne, como seja possível a gente se “decepcionar” com o Leandro Fortes porque ele é pró-diploma, ou só por causa de uma diferença de opinião). O raciocínio pró-esculhambação só pode levar a mais esculhambação ainda, não?

Como eu poderia resumir o que estou tentando dizer? Talvez afirmando que, sei lá, acho magnífico um cara poder exercitar jornalismo sem diploma – seja ele o José Sarney, a Marina Silva, o Gerald Thomas, o FHC, o Luiz Inácio ou você que está lendo isto agora. Mas que, outra vez, isto não é caso de “ou”, mas sim de “e”. Diploma pode não ser obrigatório, mas continua a ser algo ótimo, maravilhoso, que ajuda a formar alguns dos melhores profissionais do pedaço (alguns, não todos, longe disso).

Cruzes, isto aqui ficou com cara de editorial… Isso porque afirmei que eu não tinha (e não tenho) opinião formada…

Mas que a celeuma dá margem pra umas situações engraçadas, dá. Do tipo Gilmar Mendes retribuindo o amor que os jornalistas lhe devotam chamando-(n)os de cozinheiros… Ou do tipo Otavio Frias Filho, que tanto se escandalizava com o fato de Lula não ter diploma, defendendo que não precisa ter diploma pra trabalhar no jornal dele, ou que não precisa ter diploma de jornalista pra ser jornalista “dele”…

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