JACK

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Certamente todo mundo já viu isso, mas eu só descobri ontem.
Jack Kerouac na TV, no Steve Allen Show.
Steve Allen ficava tocando um blues ao piano, e matraqueando, e perguntou a Jack se ele estava nervoso, e Kerouac não estava nem um pouco nervoso. E Allen perguntou a Kerouac em quanto tempo ele tinha escrito o livro On the Road, e ele disse “três semanas” e contou que ficou “sete anos” na estrada, e Allen brincou que ficou três semanas na estrada uma vez e levou sete anos para escrever a respeito (nós sabemos que Kerouac inventou isso, que foi bem mais de três semanas, que essa era a forma de ele alardear sua tese de uma escrita espontânea como o jazz).
E Jack contou aquela história de como escreveu tudo num único rolo de papel de máquina de telex e como via com simpatia a definição “beatnik” para o tipo de literatura que praticava.
Depois, Kerouac leu um trecho de Pé na Estrada:

“Assim, na América, quando o sol se põe, eu me sento no velho e arruinado cais do rio olhando os longos, longos céus acima de Nova Jersey, e consigo sentir toda aquela terra crua e rude se derramando numa única, inacreditável e elevada vastidão, até a Costa Oeste, e a estrada seguindo em frente, todas as pessoas sonhando naquela imensidão, e em Iowa eu sei que agora as crianças devem estar chorando na terra onde deixam as crianças chorar, e você não sabe que Deus é a Ursa Maior? A estrela do entardecer deve estar morrendo e irradiando sua pálida cintilância sobre a pradaria, reluzindo pela última vez antes da chegada da noite completa, que abençoa a terra, escurece todos os rios, recobre os picos e oculta a última praia, e ninguém, ninguém sabe o que vai acontecer a qualquer pessoa, além dos desamparados farrapos da velhice. Então, penso em Dean Moriarty, penso no velho Dean Moriarty, o pai que jamais encontramos, penso em Dean Moriarty.”

Rapaz, não gosto de ficar torrando a paciência dos amigos com links para o YouTube, porque sei que todo mundo tem a manha de buscar seus próprios interesses no YouTube. Mas isso aqui é demais.

http://www.youtube.com/watch?v=QzCF6hgEfto&feature=related

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter desde 1986 e escritor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019), Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021) e O Último Pau de Arara (Grafatório, 2021)

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