olhemos para a contramão um pouco agora.

vão em direções divergentes das de pena schmidt as posições de marco mazzola. atual dono da gravadora independente mza e ex-diretor de multinacionais como as falecidas philips e ariola, ele é produtor de discos históricos que hoje povoam e alegram a blogosfera, assinados por artistas como elis regina, raul seixas, jorge ben, gilberto gil, rita lee, milton nascimento, chico buarque, ney matogrosso, martinho da vila, elba ramalho, marina lima, rpm, chico césar, zeca baleiro, ivete sangalo etc. e tal.

mazzola conversou por e-mail, foi mais ou menos assim:

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pedro alexandre sanches – qual sua opinião geral sobre o atual momento do conflito entre indústria fonográfica e internet, especificamente esse focado nos blogs compartilhadores de música? por um lado, consumidores disseminam sem autorização material que é de propriedade de gravadoras, editoras e autores. por outro, a indústria tem de reprimir e ameaçar justamente aqueles que deveriam ser seus maiores aliados, os amantes de música. não há algo descompassado aí?

marco mazzola – claro que os moldes estão errados. na minha opinião, quando esta história de internet surgiu, as gravadoras como sempre fizeram “ouvidos moucos” para a questão, achando que isso nunca iria acontecer. de algum tempo pra cá a realidade deste assunto tomou proporções absurdas, e logo as gravadoras internacionais começaram a tentar proibir e punir os que praticavam este ato e tentar acordos de vendas com os provedores que distribuem música paga. as gravadoras demoraram para acompanhar a nova tendência, as autorizações para venda de música digital são muito morosas, portanto até o momento de um artista ou gravadora conseguir disponibilizar TODO o seu catálogo para a venda, se passou muito tempo. enquanto isso, elas já estavam desde o dia do lançamento nos sites compartilhados. agora a indústria corre atrás do tempo perdido para fazer que estes admiradores da música encontrem em todos os sites a música que gostam e está cada vez mais fácil. a briga é uma questão de hábito. e, pelos números citados no final do meu e-mail, acho que vamos conseguir.

pas – particularmente, você se sente prejudicado por este novo mundo em que todos os discos, de raridades fora de catálogo a pré-lançamentos, vão rapidamente parar na rede e são disseminados gratuitamente?

mm – sim, na minha opinião, as medidas que devem ser tomadas tem que ser no nível radical, punindo e prendendo os que praticam esta causa, como já vem sendo feito nos estados unidos e inglaterra. você fica três meses dentro de um estúdio criando com o artista um CD, gastando em músicos, estúdios, capa, marketing etc. e em seguida ao lançamento, e muitas vezes até antes do produto estar no mercado, este produto já está disponibilizado na rede. às vezes até mesmo raridades que não estão no mercado (muitas vezes para a gravadora que detém um catálogo imenso e discos que não estão à venda do mercado, a própria gravadora, como sabemos, como sempre não está preocupada em vender poucos cds, levando com isso ao descaso este trafego de música ilegal.

pas – compartilha da posição muito difundida entre instituições ligadas à música, de que todo baixador de música via internet é “pirata”, portanto “criminoso”?

mm – o cara que faz este tipo de negócio para vender para terceiros, sim, está cometendo crime.

pas – vê algum modo pelo qual pudéssemos equacionar e harmonizar os pontos de conflito, de modo a buscar soluções, e não só as brigas e censuras que gastam enormes energias hoje em dia?

mm – acredito que estamos começando a organizar este tipo de negócio. hoje em dia, praticamente todo o catálogo do artista já está disponível para a venda, em todos os sites do mundo, basta o sujeito procurar pela música nos sites de buscas que irá encontrar um site com a VENDA de música. é muito fácil e surgem cada vez mais facilidades e promoções via internet e celulares para quem baixa música PAGA.

alguns dados recentes da abmi [associação brasileira da música independente, criada como uma alternativa ao domínio da abpd, associação brasileira dos produtores de discos, que é controlada pelas multinacionais e pela som livre (da globo)] para você ter uma idéia de como estamos evoluindo neste caminho:

– em 2007 o comércio de músicas on line registrou um aumento de 1.619%;

– estima-se que em aproximadamente cinco anos as vendas física e digital dividam 50% do mercado fonográfico;

– em 2007 a venda de música digital cresceu 185% em relação a 2006;

– em 2007 as vendas de músicas digitais foram estimadas em 9 bilhões dé dólares;

– em 2007 a venda de álbuns virtuais cresceu 54%.

temos um exemplo de um grupo chamado el niño, que é desconhecido da grande mídia e foram registrados mais de 250 mil downloads pagos a 3,99 reais. ou seja, a população começa a mudar seus hábitos.

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avisei a ele que a reportagem tinha saído e mazzola, em comentário generoso, reclamou gentilmente de no texto eu ter deturpado o que ele disse. reavaliando agora, acho que tem toda razão (e aí você pode ver o perigo de mau jornalismo, quando o repórter recebe de má vontade uma opinião da qual ele próprio discorda). eis o que ele esclareceu (e para o que eu de fato tinha feito “ouvidos moucos”) num segundo e-mail:

“oi pedro, muito boa a matéria.

porém você não colocou minha citação mais importante e o que representa a indústria e minha opinião.

o cara que faz este tipo de negócio para vender para terceiros [este grifo é dele], sim, está cometendo crime.

são para essas pessoas que eu defendi a punição, e não para qualquer internauta ou colecionador que disponibiliza a música gratuitamente, apesar da legislação ser muito omissa neste sentido. o tema ainda é embrionário e existem inúmeras opiniões.

como a matéria também está no seu blog, existe a possibilidade de fazer esta correção ON LINE?

se puder, agradeço!”

posso, e devo, mazzola! está feita a correção on line. e olha só que interessante a convergência: eu admito que interpretei de má vontade uma posição “da indústria”, e mazzola dispõe da blogosfera para retificar e reafirmar sua opinião (que tomei a liberdade de adaptar para letras minúsculas, o que é uma bobagem, mas tem lá sua simbologia). bacana. bem bacana.

(de brincadeira, imagina só como seria essa mesma correção no cantinho do “erramos” da “folha”. imagina como seria na escalada do “jornal nacional”.)

(*) o título foi adaptado de “os ‘pingo’ da chuva” (1973), dos novos baianos. ao que me consta, mazzola não os produzia naquela época. mas, sei lá por que, essa história me trouxe aquela letra à cabeça.

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