já imaginou o “tremendão” erasmo carlos de terno e gravata, presidindo uma gravadora? não, isso não existe, não é verdade. mas é.

a gravadora coqueiro verde iniciou atividades há dois anos, pilotada por léo esteves e marcos kilzer.


léo é o filho caçula de erasmo. kilzer, além de ex-executivo de gravadoras multinacionais, é filho de jair amorim (1915-1993), co-autor, com evaldo gouveia, de emblemas da antiga canção romântica nacional, como “sentimental demais”, “brigas”, “alguém me disse”, “conceição”, “alguém como tu”, “tango para teresa”, “onde estarás”…

léo co-pilota o negócio há dois anos, mas eu não me lembrava de, até há pouco, ouvi-lo falar abertamente sobre o real ponto de partida da gravadora, que por sinal já estava inscrito no nome de batismo da empresa – “coqueiro verde” é um samba-rock de erasmo & roberto, lançado em 1970, no álbum “erasmo carlos e os tremendões”. é aquela que diz assim que “já fumei um cigarro e meio e narinha não veio”.

pois bem, erasmo carlos é mesmo o patrão. “no dia-a-dia, quem administra somos eu e o kilzer. mas no contrato social erasmo é o dono, a empresa é dele. é o presidente do conselho, aquela coisa do pajé”, conta léo. e brinca: “ele vem aqui de 15 em 15 dias assinar os cheques”.

conforme léo descreve a empresa, é possível perceber que a participação de erasmo não é só pró-forma. “a gente leva para ele listas de títulos a serem lançados, ele opina muito. como saiu da tijuca, tem aquela ligação com o rock (dos anos 1950), e quer lançar dvds de elvis presley, carl perkins, fats domino, ray charles, como se fosse uma retribuição dele à música de forma geral.”

tal preocupação, diga-se, já estava presente no artista pelo menos desde 1972, quando lançou o lindamente idílico lp “sonhos e memórias – 1941-1972” – nas entrevistas de então, sempre manifestava carinho, nostalgia e preocupação com os pioneiros do rock’n’roll, já em declínio àquela época. e segue naquela pista aé hoje, como demonstrou, por exemplo, o dvd das apresentações de elvis presley no “ed sullivan show”.

o filho de seu esteves acrescenta mais informações: “erasmo sempre quis ter outros negócios. teve restaurante, boate. mas viu que tinha que investir em música mesmo”. de fato, a coqueiro verde não é sua primeira experiência no gênero “do it yourself”. nos anos 1980, erasmo abriu a gravadora independente lança, em parceria com jairo pires (co-produtor, por exemplo, do álbum de estréia de tim maia, de 1970). a lança durou pouco tempo, mas veiculou trabalhos de gente de gabarito como tim maia, paulo diniz, walter franco, antonio carlos & jocafi.

de volta ao presente, a coqueiro verde não possui um elenco propriamente firmado. o maior carro-chefe deverá ser o próximo disco de, adivinhe, erasmo carlos. sai ainda neste semestre, com produção do parceiro e ex-mutante liminha. léo descreve os humores do pai-patrão: “ultimamente ele estava fazendo samba-rock, balada. este será um disco de resgate do erasmo carlos, mas não o da jovem guarda, e sim a coisa mais crua, o seu lado roqueiro”. a propósito, a fase de rock cru do artista rendeu alguns de seus melhores títulos, como o histórico “carlos, erasmo…” (1971), “1990 – projeto salva terra!” (1974), o extraordinário “banda dos contentes” (1976) e “pelas esquinas de ipanema” (1978).

o que faz a gravadora atual, se não tem elenco fechado, é algo intrincado de explicar, mas você pode recolher informações completas no site oficial da coqueiro verde. pode-se registrar, a título de exemplo, a coligação com o selo também independente discobertas, do jornalista e escritor marcelo fróes, ocupado em recuperado faixas raras de artistas como jackson do pandeiro e zé ramalho.


o próximo lançamento discobertas/coqueiro será um álbum duplo dos (sempre subestimados) golden boys (cantores de, entre outras, “erva venenosa”, “alguém na multidão”, “fumacê”), com material lançado originalmente entre 1958 e 1965.

outro acordo recém-firmado é com o poderoso grupo de comunicação freemantle media (inventor, por exemplo, do formato “american idol”). nesse contrato de licenciamento, a coqueiro lançará em dvd o autodocumentário “for the record”, de britney spears. os independentes também querem vender e ganhar dinheiro.

léo esteves explica, sem meias palavras, como a pequena gravadora tremendona conseguiu se associar ao mamute freemantle, e como o audiovisual mainstream de britney foi parar em seu colo, e não em qualquer das multinacionais do disco: “o brasil tem fama de mau pagador, e nós só tentamos fazer o básico, pagar royalties e direitos autorais. e, também, as majors não têm estrutura ou não se interessam em lançar, a sony daqui não lança produtos da sony frança, da sony itália…”.

e arremata: “nessa lacuna procuramos atuar, vira uma oportunidade para pequenas empresas. nós temos maior agilidade, não precisamos de plano de marketing nem de um monte de reunião para tomar decisões. a gente resolve tudo rapidinho”.

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Editor de FAROFAFÁ, jornalista e crítico musical desde 1995, autor de "Tropicalismo - Decadência Bonita do Samba" (Boitempo, 2000) e "Como Dois e Dois São Cinco - Roberto Carlos (& Erasmo & Wanderléa)" (Boitempo, 2004)

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