ih, vexame, eu devo ser a última pessoa no planeta a ler este livro, o faladíssimo (imagino que não na “grande” mídia, né?) “a cauda longa” (campus/el sevier, 2006), do cara da “wired”, chris anderson.

cheguei eu mesmo lááá na cauda do cometa, atrasado que só eu, mas, vá lá, copio aqui alguns dos trechos embasbacantes, pedindo perdão desde já para quem sabe dessas coisas de cor e salteado há mil anos-internet. (os grifos? são meus.)

capítulo 1, “a cauda longa”, subcapítulo “a maioria oculta”, página 24:

“Uma maneira de raciocinar sobre as diferenças entre as escolhas limitadas de ontem e a abundância de hoje é comparar nossa cultura com um oceano em que só aflorassem na superfície as ilhas de sucessos. Nele se avistam uma ilha de músicas feita apenas das mais ouvidas nas paradas de sucesso, uma ilha de filmes composta somente de campeões de bilheteria, um arquipélago de programas populares de TV do horário nobre e assim por diante.

Imagine a linha de flutuação como sendo o limiar econômico da categoria, o volume de vendas necessário para satisfazer os canais de distribuição. As ilhas representam os produtos que são bastante populares para erguer-se além da superfície e, portanto, lucrativos o suficiente para serem oferecidos por meio de canais de distribuição com capacidade escassa, ou seja, o espaço de prateleira da maioria dos grandes varejistas. Perscrute o horizonte cultural e o que se destaca são os picos de popularidade elevando-se acima das ondas.

No entanto, as ilhas são, na verdade, apenas os cumes de grandes montanhas subterrâneas. Quando o custo de distribuição cai, é como se o nível da água baixasse no oceano. De repente, despontam na superfície áreas até então submersas. E o que está abaixo da linha d’água é muito maior do que à tona. Agora, à medida que os varejistas on-line exploram suas extraordinárias eficiências econômicas, começamos a divisar as encostas de grandes montanhas de escolhas, onde antes se avistava apenas o pico.

Hoje, mais de 99% dos CDs existentes no mercado não estão à venda no Wal-Mart. Dos mais de 200 mil filmes, programas de televisão, documentários e outros vídeos que foram lançados comercialmente, uma loja típica da Blockbuster oferece apenas três mil. O mesmo se aplica a outros importantes varejistas e a praticamente qualquer outro produto, desde livros até artefatos de cozinha. A grande maioria das mercadorias não está disponível nas lojas. Por necessidade, a economia do varejo tradicional, movida a hits, limita as escolhas.

Quando se é capaz de reduzir drasticamente os custos de interligar a oferta e a demanda, mudam-se não só os números, mas toda a natureza do mercado. E não se trata apenas de mudança quantitativa, mas, sobretudo, de transformação qualitativa. O novo acessos aos nichos revela demanda latente por conteúdo não-comercial. Então, à medida que a demanda se desloca para os nichos, a economia do fornecimento melhora ainda mais, e assim por diante, criando um loop de feedback positivo, que metamorfoseará setores inteiros – e a cultura – nas próximas décadas”.

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capítulo 2, “ascensão e queda dos campeões de venda” (adoro!), subcapítulo “a economia movida a hits produz uma cultura movida a hits” (adoro!), páginas 37 e 38:

“Em nossa fixação pelo poder das estrelas, vibramos com o salário astronômico das grandes celebridades e observamos suas vidas públicas absurdas com interesse que excede em muito nosso interesse por seu trabalho. Não importa que se trate de atletas superstars ou de executivos carismáticos, prestamos atenção desmedida à ponta do topo do monte. Em outras palavras, fomos treinados para ver o mundo através das lentes dos hits.

Se não for sucesso é fracasso. Não passou no teste econômico e, portanto, nunca devia ter sido produzido. Com essa mentalidade movida a hits, a história do entretenimento é escrita pelos arrasa-quarteirões e o melhor teste de qualidade é a receita das bilheterias. E tais paradigmas não se limitam a Hollywood. Esse também é o critério para distribuir espaço nas prateleiras de lojas, definir os programas que entram no horário nobre da televisão e elaborar as playlists das emissoras de rádio. Tudo se resume em alocar recursos escassos aos mais ‘merecedores’, o que significa dizer os mais populares.

Em última instância, nossa resposta à cultura de hit é reforçar ainda mais a cultura de hit. O jogo do espaço das prateleiras é um jogo de soma zero: um produto toma o lugar do outro. Forçado a escolher, cada elo da indústria do entretenimento opta, muito naturalmente, pelos produtos mais populares, outorgando-lhes posições privilegiadas. Ao concentrarmos toda a força comercial nos grandes vencedores, estamos, na verdade, ampliando o abismo entre os vitoriosos e o resto. Sob o ponto de vista econômico, isso é o mesmo que dizer: ‘Se pode haver apenas uns poucos ricos, que pelo menos sejam super-ricos’. A conseqüência disso é que a encosta íngreme da curva de demanda torna-se ainda mais escarpada.

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mas, no entanto, contudo, porém, todavia, capítulo 5, “os novos produtores”, subcapítulo “democratização das ferramentas de produção” (adoro!), páginas 61 e 62:

“A conseqüência de tudo isso é que estamos deixando de ser apenas consumidores passivos para passar a atuar como produtores ativos. E o estamos fazendo por puro amor pela coisa (a palavra ‘amador’ vem do latim amator, ‘amante’, de amare, ‘amar’). O fenômeno se manifesta por toda parte – a extensão em que os blogs amadores estão disputando a atenção do público com a grande mídia, em que as pequenas bandas estão lançando músicas sem selo de gravadora e em que os colegas consumidores dominam as avaliações on-line de produtos e serviços é como se a configuração básica de produção tivesse mudado de ‘Conquiste o direito de fazê-lo’ para ‘O que o está impedindo de fazer?’.

O autor Doc Searls chama esse fenômeno de mudança do consumismo para o ‘producismo’ participativo:

‘A ‘economia do consumo’ é um sistema controlado pelos produtores, no qual os consumidores não são nada mais do que fontes de energia que metabolizam produtos em dinheiro. Esse é o resultado absolutamente corrompido do poder absoluto dos produtores sobre os consumidores, desde que os produtos ganharam a Revolução Industrial.

‘A Apple está oferecendo aos consumidores ferramentas que os convertem em produtores. Essa prática transforma radicalmente tanto o mercado quanto a economia que nele floresce‘”.

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reflet, no brasil as pontas de ilhotas, geleiras, icebergs se chamam joão, caetano, chico, gilberto, roberto e assim por diante, não é mesmo? por baixo deles há muita bahia subterrânea, muito nordesde submerso, muito brasil latente.

márcio, “tropicalismo – decadência bonita do samba” e “como dois e dois são cinco” estão láááá no fundão das montanhas submersas, né?… dizem que tudo que mora lá embaixo é lixo, mas eu é que não compro essa esparrela, não!!!

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Editor de FAROFAFÁ, jornalista e crítico musical desde 1995, autor de "Tropicalismo - Decadência Bonita do Samba" (Boitempo, 2000) e "Como Dois e Dois São Cinco - Roberto Carlos (& Erasmo & Wanderléa)" (Boitempo, 2004)

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