“Atunbi: Festejo do tempo”, a bela estreia do Pisada da Jurema

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O grupo Pisada da Jurema - foto: Natalia Castro/ divulgação
O grupo Pisada da Jurema - foto: Natalia Castro/ divulgação

Planta tornada religião, a Jurema tem início no seu uso por indígenas da região Nordeste. O Brasil é o país da diversidade e do sincretismo, embora uns insistam em negar nossas maiores belezas (e por vezes não negar a vontade de eliminá-las e a quem as pratica).

A música e a cultura popular, também assentadas na fusão, são duas riquezas incontestes. É nessa toada que o grupo Pisada da Jurema lança nesta sexta-feira (11), o inspirado Atunbi: Festejo do tempo, seu álbum de estreia (faça aqui a pré-save). Batizado pela expressão iorubá que significa renascer, o trabalho reflete a passagem do tempo, com seu chamado à renovação e ao festejo e também à resistência e à continuidade.

O sagrado feminino – incluindo a música, esta espécie de oração – permeia o álbum do grupo formado por Carolinaa Sanches (voz e percussão), Dodô Bertone (voz e percussão), Isabela Lorena (voz e percussão), Naná Souza (voz e percussão), Thais Hamer (voz e percussão) e Débora Almeida (flauta e voz). Atunbi: Festejo do tempo conta ainda com as participações especiais de Giovana Fogaça (percussão), Júlia Marques (voz e percussão) e Maria Carolina Thomé (percussão), ex-integrantes do Pisada da Jurema.

Formado em Londrina, o grupo Pisada da Jurema exala cultura popular e tradições afro-indígenas ao longo de suas oito faixas, fruto de pesquisas e do interesse genuíno de suas integrantes por manifestações como o maracatu, o bumba meu boi, o ijexá, o samba de roda e a música dos terreiros das religiões de matriz africana e seus orixás, entre outros.

"Atunbi: Festejo do tempo" - capa/ reprodução
“Atunbi: Festejo do tempo” – capa/ reprodução

O diálogo harmônico entre urbano e rural, entre os grandes centros urbanos e o Brasil profundo (em geral desconhecido daquele Brasil), é evidenciado desde a capa (de Carolinaa Sanches e Naná Souza sobre fotografia de Natália Castro), onde as musicistas aparecem em meio a uma construção aparentemente abandonada com a natureza seguindo seu curso ao redor, com o verde vicejando.

Carolinaa Sanches, que se divide entre o Pisada da Jurema e a Caburé Canela, além da carreira solo, assina seis das oito faixas do álbum, inclusive “Guarnicê”, toada de bumba meu boi para maranhense nenhum botar defeito. Esta (que já ganhou videoclipe) e “Beira do Mar” foram os dois single lançados antecipando a chegada do álbum. Dela o grupo registra ainda “Nanã”, “Milagre”, “Juremê” e “Vissungo”. O repertório se completa com “Metá metá” (Maria Carolina Thomé) e “Flora me disse” (Maíra Villas Bôas).

É difícil classificar os cantos alicerçados nas percussões do Pisada da Jurema, misto de música popular, reza e canto de trabalho – “Vissungo” (Carolinaa Sanches) fecha o disco de aproximadamente meia hora: o título significa o canto de trabalho de povos africanos em Minas Gerais. Ao mesmo tempo em que reflete o passado, se assenta no presente para projetar o futuro, com a memória, a música e a resistência caminhando de mãos dadas. Quando chega ao fim esta espécie de toada de bumba meu boi afro-mineira é hora de apertar o play novamente.

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Ouça Atunbi: Festejo do tempo:

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