Morreu no Recife hoje o poeta e compositor Flaviola, aos 68 anos, de complicações da Covid-19. Farofafá o entrevistou longamente no ano passado por ocasião do relançamento em vinil do seu lendário disco Flaviola e o Bando do Sol, pela Polysom.
Ao longo dos anos, em fitas que passavam de mão em mão, em cópias piratas de todo tipo, o disco Flaviola e o bando do Sol tornou-se um mito da cultura underground brasileira. A poética era de ruptura, com a presença, no disco, de dois poemas musicados do espanhol García Lorca (Canção de Outono e Romance da Lua, Lua) e um do russo Vladimir Maiakovski (Balalaica). Havia um trecho musicado do Hamlet, de Shakespeare (“Noite, noite, noite eterna/Trevas, quando se dissiparão?”). Lula Côrtes, primeiro parceiro de Zé Ramalho, fornece as outras pedras de toque da poética. “Essas palavras/O vento imaginou que eram nuvens”, diz uma letra de Henriqueta Lisboa. A sonoridade parece materializar Flaviola como um Mark Sandman (do Morphine) do sertão, uma entidade estranha. Era artista de confronto: por causa de seu erotismo acentuado, Flaviola foi intimado pela Polícia Federal em uma de suas apresentações, naquela década, acusado de algo parecido com “indecência”.
Em 2015, Flaviola foi um dos artistas a se apresentar na 23ª edição do Festival Abril Pro Rock, o que iniciou o seu resgate. Vivia então no Rio de Janeiro, mas retomou as atividades artísticas e voltou ao Recife recentemente.