A minha história é talvez igual a tua

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Nesta segunda-feira, Belchior faria 74 anos; aqui, uma história de como sua música, viva e vibrante, segue percorrendo sua trajetória de maravilhamento pelo universo

 

Uma pergunta que nunca consegui responder direito sobre Belchior sempre foi a seguinte: “Como foi a receptividade à música de Belchior em outros países? A música dele alcançou quais terras longínquas?”.

Como Belchior era um joalheiro da língua portuguesa, busquei artigos nos arquivos dos jornais de Portugal sobre discos e shows, não achei nada. A pergunta acabou ficando mesmo sem resposta nos últimos três anos, tempo transcorrido desde que lancei Belchior – Apenas um rapaz latino-americano (Todavia Livros), a biografia do bardo de Sobral.

A resposta a essa questão (qual seria o apelo de Belchior além de outras fronteiras culturais) me assaltou até o último dia 19 de setembro, às 11h13. Foi quando recebi a seguinte mensagem pelo Facebook:

“Oi, Jotabê. Aqui é Andrea, um cara da Itália que vive na verdade em Hong Kong. Sou um grande fã de música, muito aberto a todo tipo de música, incluindo a MPB. Cerca de 10 dias atrás, o Spotify me sugeriu ouvir algumas canções de Belchior, artista que eu sinceramente não conhecia. Desde então, me encontro arrebatado, tocado. Tenho 57 anos, mais de 40 deles ouvindo música incessantemente. Escrevo sobre música, ajudei a lançar alguns discos. Mas raras vezes eu fiquei tão surpreso e tocado assim. Não falo português, posso entender alguma coisa porque sou italiano, na minha tentativa de entender as letras e a história dele. Encontrei seu livro no Kindle e tento ler, mas é muito difícil por causa da língua”.

Desde que recebi essa mensagem, passei a conversar com frequência com Andrea, que me pediu dicas para encontrar traduções para o inglês das histórias, letras e mito de Belchior. Contei a ele de como Belchior viveu num mosteiro, de como estudou medicina, o significado de uma ou outra letra – ele amou A Palo Seco, por exemplo. “Poucos músicos me tocaram desse modo. É um gênio. Suas letras me afetam, embora me seja tão trabalhoso compreendê-las”, ele me disse. Contou que fez uma rapa na internet e só achou dois artigos em inglês – ele foi editor de livros na Itália. “Estou ouvindo Belchior agora e me perguntando porque ninguém sabe dele na Itália. Como um gênio desses não é conhecido no mundo todo?”, disse Andrea, inconformado.

A mensagem do genovês Andrea respondia com notável entusiasmo àquela minha dúvida sobre a universalidade de Belchior, a quem o italiano chegou por meio do algoritmo, uma inovação tecnológica que muitos ainda demonizam no meio musical. Ele não se deixou intimidar pela barreira da língua, pelas dificuldades de acesso à informação. Eu perguntei a Andrea, já que é o aniversário de Belchior neste dia 26 de outubro, se ele me autorizaria contar sobre sua descoberta em um artigo aqui. Ele não apenas permitiu, como disse: “Amanhã eu vou visitar Sham Shui Po, um dos bairros mais vibrantes aqui de Hong Kong. Vou enviar a você uma foto bacana!”. Mandou logo três!

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