A montagem Uma Lei Chamada Mulher, da diretora Lenise Pinheiro, conta a histórica trágica e corajosa de Maria da Penha
Última peça escrita por Consuelo de Castro, Uma Lei Chamada Mulher ganha uma montagem forte pelas mãos da diretora Lenise Pinheiro. Mais conhecida das artes cênicas como fotógrafa, por seu extenso trabalho com os principais diretores brasileiros, Lenise encarou o desafio de contar a trágica e corajosa história de Maria da Penha. A farmacêutica cearense travou uma luta heróica para conseguir que seu companheiro fosse condenado por sucessivas agressões a ela e a suas filhas.
A peça começa por seguir a linha cronológica de toda relação amorosa: a leveza do primeiro encontro, a paixão que leva a uma vida a dois, a gravidez da primeira filha, as primeiras crises de todo casal. Até esse momento, Iuri Saraiva, que vive o companheiro de Maria da Penha, Marco Antonio Heredia Viveros, rouba a cena. Todos sabem que o personagem do economista colombiano é o vilão da história, aquele que tentou matar Maria da Penha duas vezes. Mas Lenise faz questão de mostrá-lo como alguém com humor e sedutor.
Ao fugir do maniqueísmo simplista, Uma Lei Chamada Mulher colabora para jogar verdadeiras luzes sobre a questão da violência doméstica. O inimigo, na maioria das vezes, está dentro de casa. As atrizes Isabella Lemos, que vive Maria da Penha, Natália Moço (amante de Marco Antonio) e Lucia Bronstein (empregada e amiga da cearense) assumem, do meio da peça em diante, o protagonismo da história. Elas não chegam a reduzir o papel do “vilão”, mas deixam claro que não é mais sensato para a plateia rir das piadas de um agressor de mulheres.
Uma Lei Chamada Mulher, em cartaz no Sesc Ipiranga, tem duas horas de duração, e talvez o tempo tenha sido pouco para dimensionar a história dessa grande brasileira que virou nome de uma lei – contestada bovinamente pelo exército bolsonarista. No final da peça, quando se poderia mostrar como Maria da Penha se tornou a incansável defensora dos direitos das mulheres, as atrizes narram, em um quase jogral, o restante da história.