Greta, do cearense Armando Praça, está inscrito no index do neoBrasil: por determinação do governo Bolsonaro, uma ajuda de custo de 4.600 reais pela Ancine foi cancelada, mas mesmo assim Greta estreia nacionalmente no dia 30, com Marco Nanini num personagem jamais visto em sua já longa carreira.
O ator vive Pedro, um enfermeiro homossexual na terceira idade, que vaga pela cidade de Fortaleza em busca de centavos de afeto e prazer. Carregado e soturno, Greta é abundante em cenas de nudez (inclusive a de Nanini, frontal), sexo fugidio em saunas, fragilidade humana dentro de um hospital público, sangue, morte, tristeza. As agruras de um indivíduo idoso diante da vida (poderia ser um heterossexual, não faria diferença) preenchem a tela de incômodo e desconforto.
Paradoxalmente à crueza das imagens, Greta é um filme antiquado, baseado na peça teatral Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá (1973), de Fernando Mello, que recebeu inúmeras montagens ao longo das décadas, sempre em tempo de comédia ligeira, por vezes caricatural. O diretor extrai do filme a caricatura, para colocar no lugar em seu lugar o drama, em determinadas passagens o melodrama. O objetivo parece ser mostrar a gravidade por trás do que era encenado como farsa nos anos 1970, por obra da censura e da vigilância exercidas pela ditadura moralista. Por ironia da história com H maiúsculo, Greta veio cair num tempo tão antiquado quanto o da velha peça desbotada.