dois mil e quatro 2

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há pouco, eu quis destacar black alien, rappin’ hood e tati quebra barraco dentro de um turbilhão 2004. existe o turbilhão. comento o turbilhão a partir dos discos de cd, esse formato velhonovo moribundorrenascido [você localizará ausências e idiossincrasias no texto abaixo – a gente é feito de idiossincrasias – se ficar com preguiça? não leia, ué!!!]

pois 2004 teve, por ordem alfabética:

adriana calcanhotto levando cultura mpb e teias neoconcretistas a um público infantil-inteligente (“adriana partimpim”, bmg ariola).

adriana maciel reinventando o (e puxando o freio do) velho hippismo setentista (“poeira leve”, deckdisc).

andré abujamra adentrando o mundo ainda muito inexplorado das confissões pessoais, sem resquícios da cultura de aparências reprimida nas casas chiques e “sem” imperfeições de “caras” (“o infinito de pé”, spin music/tratore).

arnaldo antunes “popizando” as teias d’aranha dos concretismos (“saiba”, rosa celeste/bmg – rosa celeste é o selo independente de arnaldo antunes).

arnaldo baptista bradando “mais morto é quem me diz e não é feliz” e enchendo de poesia a monotonia do dia a dia (“let it bed”, l&c editora, disco encartado na revista outracoisa, independente, de lobão).

astronauta pingüim “popizando” breguices de churrascaria (“petiscos: sabor churrasco”, apple pine music, independente).

axial, do círculo de influências d’a barca, popizando, concretizando e eletronizando o santo folclore nacional (“axial”, independente).

bocato pirando, pirando, pirando (“cacique cantareira – quebre tudo mas toque certo!”, elo music, independente).

cabruêra afiando a faca das sonoridades compactas (em vez de concretas) dos sertões (“o samba da minha terra”, nikita music, independente).

caetano veloso no eterno retorno ao exílio, tentando fugir pela tangente do brasil de lula (“a foreign sound”, mercury/universal music, dependente).

carlinhos brown se enredando com o gringo dj dero nas teias abstratas do medo do discurso, axé para lá, eletrônica para cá (“candyall beat”, candyall music/old records/universal music, independente e dependente).

carlos careqa procurando pelo pai com paixão e poesia (“não sou filho de ninguém”, thanx god records/tratore – thanx god é o selo independente de carlos careqa).

charlie brown jr. transpirando agressividade acuada (“tamo aí na atividade”, emi, ultradependente).

china puxando sozinho (sem o sheik tosado) o cordão do belo selo cardume (“um só”, cardume/emi).

o clube do balanço de marco mattoli botando o brasil mestiço para gingar (“samba incrementado”, spin music/lua discos/mcd).

o cordão do boitatá pesquisando as tradições, arejando o sopro forte do que não é samba (“sabe lá o que é isso?”, deckdisc).

cris braun procurando a paz, a calma, a tranqüilidade, a beleza (“atemporal”, psicotrônica, independente).

dona inah revalidando o mito de clementina de jesus (“divino samba meu”, cpc umes, independente). dona ivone lara também (“sempre a cantar”, lusáfrica/mza music/universal music).

dulce quental (ex-sempre livre ex-pop até o pescoço) querendo beliscar de novo a poesia (“beleza roubada”, cafezinho music/columbia/sony).

durval ferreira burilando e mesmerizando a mesma batida de sempre (“batida diferente”, guanabara/tratore).

erasmo carlos tentando ser só sem estar à beira do caminho (“santa música”, indie records, indie em parte).

fabiana cozza tentando reinventar o samba, indiferente às novas batidas (“o samba é meu dom”, independente).

felipe dylon dizendo-se nuvem passageira (“amor de verão” – aquele que não sobe serra -, virgin/emi, dependeeeeeeente).

fernanda abreu rebuscando a perfeição pop, sob a maldição do distanciamento recíproco entre o público e fernanda abreu (“na paz”, garota sangue bom/emi – garota sangue bom é o selo [in]dependente de fernanda abreu).

p.s.: ilustrado com pistolas de guerra (ainda que cuspindo flores), o disco condensa na capa o primor de contradição que é, qual “a guerra dos meninos” de roberto carlos, um pedido de paz oculto atrás de um grito de guerra – ou vice-versa).

fernanda porto girando livre-presa nos formatos (“giramundo”, trama).

ferréz imprimindo poesia na bagunça do dia a dia do hip hop (“determinação”, 1dasul/caravelas, independente).

fred martins morando na filosofia da poesia (“raro e comum”, macaya music, independente).

funk como le gusta funkcomolegusteando (“fclg”, st2 records, independente).

george israel fazendo eco masculino ao faro de dulce quental (e vice-versa) (“quatro letras”, siri music/universal music).

gilberto gil velhonovodenovo (“eletracústico”, warner/wea music, dependente).

hamilton de holanda voando alto em instrumental, para lá das invenções com zélia duncan (“música das nuvens e do chão”, velas, independente).

helião e negra li transpirando domínio e dominação, subsídio e submissão (“guerreiro, guerreira”, mercury/universal music, dependentes rebelados).

hyldon se repetindo, mas por conta própria (“balanço”, dpa/distribuidora independente).

itamar assumpção continuando depois de morto seu projeto épico e ambicioso (“isso vai dar repercussão”, elo music, de que naná vasconcelos, zélia duncan e zeca baleiro precisam se entender coadjuvantes).

jorge ben jor reabrindo a cortina do passado, a cortina do presente, a cortina do futuro, tudo ao mesmo tempo agora (“amor reactivus est”, mercury/universal music, dependente rebelde rebelado, carolina carol bela).

jumbo elektro esfumaçando a cortina do passado, a cortina do presente, a cortina do futuro, a cortina da linguagem e a cortina de fumaça (“freak to meet you”, reco-head records/tratore, independente e artesanal, alô, antonio adolfo).

junio barreto correndo atrás/à frente da tradição de modernidade mangue bit (“junio barreto”, mundo melhor, independeeeeeente).

karine alexandrino beliscando as botas do rei (“querem acabar comigo, roberto”, independente/tratore).

latino “popizando” o mundo cão (“as aventuras de djl – festa no apê”, dependências emi).

leela “popizando” o rock’n’roll (“leela”, dependências emi).

leila maria mi(s)tificando qualidades e clichês (“off key”, rob digital, independente).

lula queiroga bordando fantasmagorias (“azul invisível vermelho cruel”, luni produções, produções dele mesmo).

marcelo d2 bailando nas curvas, funk-sambando nas cordas bambas, errando na dose (“acústico mtv”, mtv/epic/sony music, duplamente dependente).

marcos sacramento polvilhando delicadeza no(s) samba(s) (“memorável samba”, biscoito fino, banqueira independente – ah, se todos os bancos fossem iguais a você…).

maria bethânia rendendo graças a rosinha de valença (de rosinha quero falar mais depois), sob grande elenco (“namorando a rosa”, quitanda – quitanda é o selo independente da poderosa dentro do banco musical da biscoito fino).

maurício negão declarando “eu sou a noite/ eu sou a canção”, sendo a canção, sendo a noite, sendo o dia, sendo alguns versos, sendo todos os versos (“todos os versos”, rastropop/tratore).

mombojó fazendo tudo de novo, fazendo tudo novo, fazendo tudo muito novo (“nadadenovo”, l&c editora/tratore, olha lobão aí de novo).

mula manca e a triste figura reescrevendo o mangue bit e o nordeste agreste, a bordo de cervantes (“o circo da solidão”, “cd independente” – está escrito na contracapa).

nei lopes aguerrido, lutando, fincando posição (“partido ao cubo”, finaflor, nobreza independente).

nervoso, precursor e conseqüência de los hermanos, embaralhando a cópia e os originais (do samba) (“saudade de minhas lembranças”, midsummer madness/tratore, independente).

ney matogrosso procurando a fonte da juventude na juventude veterana de pedro luís e a parede (“vagabundo”, globo universal/som livre, [in]dependente da rede globo).

paulo ricardo e seu pr.5 derrapando nas curvas, samba-rockeando nos precipícios (“zum zum”, bola b/som livre, in-DE-pen-den-te).

paulinho boca de cantor , velho novo baiano, nutrindo de dignidade e experiência a mesmice “ao vivo” (“gerasons – ao vivo”, atração fonográfica).

paulo lepetit raciocinando, raciocinando, suingando, raciocinando (“peças”, elo music – elo music é o selo independente de paulo lepetit e vange milliet).

paulo moura e yamandú costa infiltrando o velho no novo, o yin no yang, o preto no branco (“el negro del blanco”, biscoito fino).

pexbaA complicando para esclarecer (“pexbaA”, independente).

picassos falsos cantando tudo velho de novo, contando tudo novo de velho (“novo mundo”, psicotrônica).

raimundo fagner surfando/derrapando na não-mesmice do ineditismo (“donos do brasil”, indie records).

romulo fróes, de mansinho, inventando o samba desde que o samba é samba (“calado”, bizarre, independente).

roque ferreira lembrando que o samba (também) nasceu foi lá na bahia (não só) – nasceu no mar, no navio negreiro, como sabe carlinhos brown (“tem samba no mar”, quelé, independente).

supla superpop deixando escapar pela tangente machismos do pai, machismos da mãe, machismos de menino supla (“menina mulher”, supla/universal music).

surica revalidando o mito da velha guarda da(s) portela(s) (“surica”, finaflor/rob digital).

teresa cristina e grupo semente reinventando o samba desde que o samba deixou de ser só samba (“a vida me fez assim”, deckdisc).

tereza gama rejuvenescendo o mito de Clementina de Jesus, o mito das velhas guardas, o mito do samba, os mitos paulistas (“aos mestres com carinho – homenagem ao partido alto”, rio 8, independente de são paulo).

theo de barros trazendo saudades amargas de geraldo vandré, memórias doces da música popular com pê grande (“theo”, maritaca/núcleo contemporâneo, independente).

vander lee fazendo sobreviver no mínimo o samba mineiro (“ao vivo”, indie records/universal music).

vanessa da mata florindo a angústia da influência (“essa boneca tem manual”, epic/sony music, jovem dependente).

veiga & salazar florindo a angústia do rap (“ontem já era”, st2 records).

vitor ramil soprando milongas no vento gelado da poesia gaúcha, fita isolante, fita isolada (“longes”, satolep music – satolep, pelotas ao contrário, é o selo independente de vitor ramil).

wado e realismo fantástico melancolizando o nordeste alagoano de santa catarina, o sul barriga-verde de alagoas (“a farsa do samba nublado”, outros discos/tratore, independente).

wander wildner y sus comancheros sentando a pua, metendo o pé na estrada, des-isolando o rio grande do sul da américa latina hispânica (“paraquedas do coração”, independente).

wilson das neves masculinizando o mito de clementina de jesus (“brasão de orfeu”, quelé – quelé é rainha quelé, clementina de jesus, independente pela própria natureza).

zélia duncan se multiplicando em mil, relendo a canção brasileira para se transformar nela mesma (“eu me transformo em outras”, duncan discos/universal music – duncan discos, desnecessário dizer, é o selo quase independente de zélia duncan).

* * *

foi pouco? faltou alguém? pois conte um conto, aumente um ponto. e desculpe a insistência no termo “independente”, é que tá na cara, só não viu quem não viu.

no mais, procurem se inteirar, bonecos e bonecas (alô, torquato neto). o mundo novo já chegou, está acontecendo ao nosso redor, dentro da gente.

que mais? ah, parafraseando as camisetas que circulam pelo fórum social mundial, sou “100% luta”. [o que não é assim tão diferente da camiseta deles, “100% lula”, né? caguei se foi o pt que mandou fazer as camisetas. esgotaram na hora.]

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