Na Virada Cultural, era muito aguardado o retorno da banda Metrô, uma das pioneiras do pop nacional, dos anos 1980. Primeiro, porque estava havia 30 anos sem se apresentar com sua formação original (o último show profissional da banda fora no Gigantinho, em Porto Alegre, em 1985).
Mas pouco antes da Virada morreu o marido da cantora, Virginie Boutaud, e eles cancelaram.
Nessa sexta, o grupo finalmente volta para um show fechado, somente 296 pessoas verão a apresentação (e os ingressos já estão esgotados).
Mas como eu tinha entrevistado, há mais de um mês, como o baterista Dany Roland (que ficou famoso ao estrelar o comercial “Bonita Camisa, Fernandinho” – ele era o Fernandinho), vou postar aqui a conversa que tivemos.
O Metrô tem fãs de diferentes campos. Tem quem goste deles por causa do disco A Mão de Mao, que era experimental, um tanto viajante (eles vieram do campo progressivo). Eu, particularmente, era fã do canto e da postura de palco da vocalista,Virginie Adèle Lydie Boutaud-Manent. Ela tinha uma delicadeza quase quebradiça na voz e um ar nonchalance aristocrático.
EU – Por que o Metrô acabou e por que está voltando?
DANY ROLAND – O Metrô acabou por tantos motivos… Acabou porque foi engolido pela indústria. Não conseguimos nos adaptar ou não conseguimos lidar com toda a pressão do sucesso. Não tivemos o apoio necessário e fomos vítimas de vários empresários inescrupulosos. Apesar de tudo foi uma ótima época, onde aprendemos muito e nos “profissionalizamos”, seja lá o que signifique isso. Pudemos conhecer e viajar pelo Brasil, chegar perto do povo através dos shows, que eram gigantescas festas. Esse povo é o maior motivo do nosso retorno.
EU – Eu vivi os anos 1980 e até entrevistei a Virginie no apartamento dela na época. Eu me lembro que havia um preconceito forte contra o pop, especialmente o pop que era mais popular e tinha hits, como Kid Abelha, Metrô e outros grupos. Por que você acha que havia esse preconceito? Seria mais fácil hoje?
DANY – Como bem dizia Tom Jobim,”no Brasil, sucesso é ofensa pessoal.” O único preconceito que existia era de parte da imprensa, principalmente de São Paulo (e na Folha de S.Paulo), mas não do público, que nos recebia sempre com muito carinho por onde íamos, e fomos até os cafundós do Brasil. Nada é fácil … não tem partida ganha, e a expressão “matar um leão por dia” cai bem aqui.
A voz da Virginie era muito distinta, equivaleria hoje ao estilo da Fernanda Takai, do Pato Fu. Mas, naquela altura, penso que poderia soar sutil demais para o público médio, era uma época menos refinada do ponto de vista musical, as bandas brasileiras ainda não tinham o domínio técnico que têm hoje. Você concorda?
Virginie, que era top model, fez merecidamente um estrondoso sucesso como cantora e figura publica nos anos 80. Creio que as características que mais a notabilizaram foram a maneira de cantar baixinho, saindo radicalmente da tradição dos cantores de rock, além de um canto de extrema espontaneidade e alegria, sem afetaçoes e vícios de “cantor”, tipo impostar a voz, etc… Aí é que reside a excelência da cantora que ela é e que não se percebeu até hoje… Ela é extremamente sosfisticada e segue a tradiçao de João Gilberto, Rita Lee… Sim, as bandas não tinham domínio técnico pois eram todos muito jovens, amadores, o que é bom, e a maioria nunca havia adentrado um estúdio de gravação. Não havia acesso a bons instrumentos e a entrada de importados no Brasil fora só muito recentemente autorizada. Até então era no contrabando. Os estúdios eram domínio das grandes multinacionais e até a década de 80, praticamente, só gravavam cantores e intérpretes. Mas não eram só as bandas que não tinham domínio técnico; os engenheiros de som dos estúdios também não sabiam como gravar rock, pois só gravavam MPB. Faltava cultura geral. Acredito que o Maluly, nosso produtor na época, e o Roberto Marques, eles souberam nos ajudar a traduzir no disco Olhar a energia que nos conduzia a uma sonoridade que já atravessa os anos, sem destoar. Foi uma época muito rica em aprendizado, para todos.
Vocês começaram com um som progressivo, tinham referências musicais de um outro mundo. Quando assinaram com uma gravadora, mudaram o nome da banda e também o conceito. O que buscavam, àquela altura?
Buscávamos ser “profissionais” da música, buscávamos o sucesso.Mas não só isso. Buscávamos novos caminhos.A verdade é que quando assinamos com a gravadora já estávamos cansados de tocar temas de 20 minutos, improvisos e solos.Estávamos interessados em novas linguagens, estávamos interessados em musica POP. Era um tremendo desafio poder dizer tudo o que queríamos em apenas três minutos, menos é mais. Nosso maior incentivador foi o baixista Tavinho Fialho (que tocou uma época conosco e era o único músico “profissional” entre nós). Ele nos dizia que podíamos tocar músicas mais simples “e sermos felizes”. Acho que é isso:no fundo buscávamos a felicidade.
METRÔ EM SÃO PAULO
Sexta-feira, 21/08, às 20h30
Unibes Cultural (11 3065 4333)
(R. Oscar Freire, 2.500 – Sumaré – SP)
(R. Oscar Freire, 2.500 – Sumaré – SP)
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