Este ano, ‘Roberto Carlos em Detalhes’ completa 10 anos de seu lançamento. Por conta de um acordo judicial, é a única biografia de um artista brasileiro que não pode ser relançada
Amargo destino cumpre esse livro, Roberto Carlos em Detalhes. Lançado há exatos 10 anos, fruto de 15 anos de pesquisas e mais de 200 entrevistas, é atualmente a única biografia de um artista brasileiro que não tem como chegar aos leitores. O autor, Paulo Cesar de Araújo, já escreveu até um livro sobre o imbróglio, O Réu e o Rei, pela Companhia das Letras. Mas Roberto Carlos em Detalhes segue na berlinda, embora o escritor tenha planos de fazer uma nova edição este ano – juridicamente, é problemático, porque contrariaria decisão judicial.
“É o último livro proibido. Até o livro do Hitler (Mein Kampf, Minha Vida) foi liberado”, diz o escritor. É possível que, fora das livrarias, o livro já tenha vendido mais de 70 mil cópias. Durante anos, era encontrável em livrarias virtuais pelo mundo todo. Sua prensagem original foi de 60 mil exemplares, os primeiros 30 mil venderam tudo. Do segundo lote, 11,7 mil foram apreendidos e levados a um depósito em Diadema, no ABC paulista.
Eu me lembro como tudo começou. Em dezembro de 2006, eu estava na coletiva anual de imprensa de Roberto Carlos no Ritz, no Leblon. O livro tinha alguns dias de lançado. Como Roberto demorava, fui ao cafezinho e encontrei a Ivone Kassu, assessora dele. Eu perguntei: “Ivone, o que o Roberto achou da biografia dele?”. Ela gelou: “Pelamordedeus, Jotabê, não pergunta a ele sobre isso. Ele está possesso. Os advogados dele já estão tomando providências”.
Bom, então não poderia ser outra minha primeira pergunta a Roberto Carlos. Eu nunca tinha visto o ‘Rei’ tão nervoso. Aquilo deflagrou um auê entre os centenas de jornalistas, o cantor não esperava, acabou abrindo para uma espécie de debate. Roberto foi de fato à Justiça. Pediu o recolhimento do livro e, em caso de negativa, R$ 500 mil por dia da editora, além da prisão do autor. Com medo, a editora acabou aceitando os termos de um acordo proposto no tribunal.
Mas o caso foi tão simbólico que funcionou como um aríete para a decisão do STF, no ano passado. Reencontrei o texto que escrevi sobre aquela coletiva de 2006 e que mandei de um cybercafé para o jornal, ali na avenida Visconde de Pirajá. Enviei para a Tereza Ribeiro, então no plantão, que publicou a reportagem imediatamente. Depois, encontrei um amigo num café no Leblon e ele tinha levado um outro amigo – era o Paulo César Araújo.
Paulo César me disse essa noite que sonha em ver o livro nas livrarias do jeito que o idealizou, com atualizações. “Vou argumentar que o livro foi vítima de um erro do julgador”, diz o escritor, que escora-se na decisão do STF, do ano passado. O Supremo clareou a interpretação que se dava ao artigo 20 do Código Civil, o artigo que embasava decisões de juízes que proibiam biografias. O livro de Paulo César foi banido com base nessa interpretação.
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Estamos na torcida para que o livro saia, enfim. É um belíssimo trabalho, valioso.
Em 2006, salvei o meu exemplar antes que tudo fosse recolhido.
Mas, o livro continua sendo vendido em Portugal, pela mesma editora que deixou PC na mão. É só fazer uma pesquisa para confirmar. Da última vez que vi custava algo próximo a 27 euros.
Verdade, continua sendo vendido. O que é pirataria oficial, eu acho