Diana, operária da canção popular

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Diana em sua época de maior sucesso - foto Aníbal Philot

As reverências emocionadas à cantora carioca Diana desde sua morte, na quarta-feira, 21, são inversamente proporcionais ao reconhecimento que ela teve em vida, salvo exceções como a do cineasta cearense Karim Aïnouz, que fez de sua canção “Tudo Que Eu Tenho” (1972) uma das protagonistas do filme O Céu de Suely, em 2006. De maneira geral, Diana (1948-2024) padeceu das agruras comuns à totalidade dos artistas tidos como “cafonas” durante os anos 1970.

Rechaçados pela elite intelectual e, por consequência, pela crítica musical, Núbia Lafayette, Odair José, Waldick Soriano, Claudia Barroso, Agnaldo Timóteo, Diana e tantos outros fizeram história localizados entre o limbo, o sucesso popular de massa e a condição muito alardeada mais tarde (mas não à época) de sustentadores da indústria musical brasileira, enquanto a chamada MPB se responsabilizava pelo prestígio junto às elites intelectuais e aos críticos culturais.

Mesmo que música popular seja sinônimo de divertimento e farra, certo puritanismo intelectual tratou como pecado capital a música criada com os objetivos de divertir, fazer dançar e cantar despreocupadamente, chorar por amor e fazer sonhar (ou ter pesadelos). Ainda que muita coisa tenha mudado do tempo de Diana para cá, a muralha segue erguida, suscitando rejeição preconceituosa em bloco contra sertanejos, tecnobregas, funkeiros, forrozeiros, arrochadores, pisadinhos etc.

Em 1982, o último compacto duplo por uma grande gravadora (a nacional Copacabana)

A história de Diana foi exatamente essa, com o agravante de que ela era mulher e, além de cantar, queria também compor suas baladas românticas e seus country-rocks à brasileira. Num de seus cantos de cisne no mainstream multinacional brasileiro, “Você Tem Que Pagar o Que Me Deve” (1982), a cantora-compositora revelava atitude desprendida diante de tanto preconceito, tanta rejeição e tanta incompreensão: “Você tem que pagar o que me deve/ já não aceito mais suas promessas pra depois/ aquele chope que eu ainda não tomei/ aquele abraço forte que ainda não dei”.

Hoje desaparecidas, as primeiras gravações de Diana, “Confia em Mim” (do compositor de marchinhas carnavalescas João Roberto Kelly) e “Não Me Deixe Mais” (da dupla-símbolo do samba-canção Jair Amorim e Evaldo Gouveia), saíram em 1968 pela Philips, exatamente quando o diretor recém-empossado André Midani promovia uma demissão em massa de artistas na multinacional, preparando a revoada tropicalista que nortearia o elenco fortemente emepebista da gravadora nos anos 1970.

“Menti pra Você” (1969) e a estreia como compositora: “Agora eu vivo tão tristonha”

No ano seguinte, pelo selo Caravelle, Diana lançou o segundo compacto, com o melodrama “Menti pra Você” e o tema infantil “Sítio do Pica-Pau Amarelo“, ambos assinados por uma certa Ana Maria – que na verdade era a própria Diana (cujo nome de batismo era Ana Maria Siqueira Iório), pulando obstáculos para trilhar uma carreira de compositora. “Ao conhecer você nem sei o que senti/ todo meu ser vibrou e sei que menti/ quando você perguntou/ se existia um outro alguém/ eu respondi que sim/ mas não existe ninguém/ e não sei o que fazer pra você entender que eu menti pra você/ agora eu vivo tão tristonha a meditar/ sobre a verdade toda que eu vou contar”, escreveu Ana Maria, imbuída da ingenuidade jovem-guardista já em decadência e da tristonhice que seria uma de suas marcas registradas.

A fase CBS: Raulzito, versões e mais versões

Em 1970, Diana se integrou ao espólio da jovem guarda na gravadora CBS, onde já estava o também iniciante e então namorado Odair José, sob a guarda do diretor artístico baiano Raulzito, que só três anos depois explodiria nacionalmente como Raul Seixas. Ali, as primeiras gravações foram o iê-iê-iê romântico “Não Chore, Baby“, do cantor-compositor colega de gravadora Pedro Paulo, e o rockão pós-tropicalista “Eu Gosto Dele”, assinado por Odair José.

“Eu Gosto Dele” (1970), do namorado Odair José: “Eu só sei que eu gosto dele”

“Se ele é estudante eu não sei/ se ele é Flamengo eu não sei/ se ele é poeta eu não sei/ (…) se ele é baiano eu não sei/ seu estado civil eu não sei/ se ele tem crença eu não sei/ eu só sei que eu gosto dele, eu gosto dele”, cantava a letra de “Eu Gosto Dele”, por cima de uma guitarra estridente, mais para tropicália que para iê-iê-iê. Parecia diretamente decalcada em “Meu Nome É Gal” (1969), que Roberto Carlos e Erasmo Carlos compuseram para Gal Costa cantar em sua fase mais roqueira.

Em 1971, a cantora entrou na dança das cadeiras em que a CBS tentava reacomodar ídolos caídos da jovem guarda em duplas do tipo Leno e Lilian: gravou uma versão iê-iê-iê do clássico “Carinhoso” (1937), de Pixinguinha e João de Barro, em dueto com Ed Wilson.

Após várias tentativas infrutíferas, em 1972 Odair José cravou nas paradas, sob direção artística de Rossini Pinto, o hino popular “Vou Tirar Você Desse Lugar“, de sua própria autoria. Delineando o amor romântico e apaixonado do narrador por uma prostituta, o hit fez com que André Midani tirasse Odair daquele lugar e fosse compor a face mais popular (e comercialmente rentável) do elenco da Philips, no selo Polydor, liderado por Tim Maia. Diana permaneceu no elenco popularíssimo da CBS, liderado desde 1963 por Roberto Carlos.

“Ainda Queima a Esperança” (1971): “Meus parabéns agora/ depois que tudo acabou”

É que o lado A de “Carinhoso”, uma faixa solo de Diana, iria se tornar também o primeiro sucesso pop de Diana. “Ainda Queima a Esperança” foi composto com grande tino comercial por dois produtores da CBS, Mauro Motta e Raulzito. Se Diana não conseguiu sustentar uma carreira estável para além dos anos 1970, a letra melodramática e a melodia sedosa de “Ainda Queima a Esperança” continuaram a povoa, não sem certo tom jocosido, festas de aniversário pelas décadas afora e pelo Brasil adentro: “Uma vela está queimando, hoje é nosso aniversário/ está fazendo hoje um ano que você me disse adeus/ eu não sei se nessa chama ainda queima a esperança/ eu só sei que a saudade já me queima o coração/ meus parabéns agora/ e feliz aniversário, amor/ estás feliz agora, depois que tudo acabou?”.

“Tudo Que Eu Tenho” (1972): “Se você não voltar/ vou sozinha ficar/ solidão vai morar comigo/ vou viver infeliz”

Esse primeiro êxito abriu as portas para o irretocável álbum de estreia, de capa pop-colorida e intitulado simplesmente Diana – e cuja íntegra está barbaramente indisponível nas plataformas de streaming, como grande parte da obra da artista, em especial a fase CBS (hoje Sony Music). A faixa mais querida, desde que Karim Aïnouz utilizou-a com efeito catártico em O Céu de Suely, é “Tudo Que Eu Tenho”, uma tradução infiel de Rossini Pinto para “Everything I Own” (também de 1972), da banda estadunidense de soft rock Bread. “E nem eu mesma sei por que/ eu só quero amar você/ tudo que eu tenho, meu bem, é você/ sem seu carinho eu não sei viver”, canta a doce Diana, num crescendo suculento. É daqueles casos raros e excepcionais em que a versão deixa o original na poeira, pelo menos para ouvidos brasileiros.

“Estou Completamente Apaixonada” (1972): “Vivo sonhando acordada, amor”

Repleto de levadas jovem-guardistas de órgão elétrico, Diana se divide harmoniosamente entre versões e composições originais do diretor artístico Raulzito. No segundo grupo, minoritário, há os iê-iê-iês “Estou Completamente Apaixonada” (“estou amando e amando muito, eu sei/ aconteceu pela primeira vez”), “Você Tem que Aceitar” (“chorar não vai fazer ele voltar”) e “Hoje Sonhei com Você” (“a saudade é o que restou/ foi um sonho que passou/ como nuvem lá no céu”) – além de “Ainda Queima a Esperança”.

As versões, divididas entre Rossini Pinto e Raulzito, seguem a linha soft rock/folk/country/pop de “Tudo Que Eu Tenho”, com identidade feminina na saltitante “Quero Te Ver Sorrindo” (versão de “When My Little Girl Is Smiling“, de Carole King, lançada em 1962 pelo grupo The Drifters) e no baladão “Pegue as Minhas Mãos” (versão para “Take My Hand for Awhile” (1968), da canadense de origem indígena Buffy Sainte-Marie.

“Porque Brigamos” (1972): “Quando é noite de regresso/ você briga por qualquer motivo”

Na mesma linha, o hit exagerado e exasperado “Porque Brigamos” é tradução tonitruante de Rossini Pinto para “I Am… I Said” (1971), country rock nova-iorquino de Neil Diamond: “Ó, meu amado,/ por que brigamos?/ não posso mais viver assim sempre chorando”. Insistindo na linha determinada pela CBS no estrondo jovem-guardista, Diana traz, ainda, versões de canções em espanhol (“Meu Lamento“, original do peruano Raul Vasquez, e “Canção dos Namorados“, versão de “La Vals de las Mariposas“, da dupla espanhola-estadunidense Danny & Donna) e italiano (“Fatalidade“, sucesso sensível original na voz de Gigliola Cinquetti).

Enquanto Diana parecia deslanchar na CBS, Odair, igualmente apaixonado pela matriz norte-americana de folk-country-rock, começava a lançar pela Philips uma série de canções inspiradíssimas e bem mais engajadas que o pop ultra-romântico de Diana. Nesse pique, abordou temas sensíveis, alguns deles tabus para a ditadura, como religião (“Cristo, Quem É Você?“, 1972), sexo despreocupado (“Esta Noite Você Vai Ter Que Ser Minha“, 1972, “A Noite Mais Linda do Mundo“, 1974), sexo sem contraceptivos (“Pare de Tomar a Pílula“, 1973), pornografia (“Revista Proibida“, 1973), drogas (“Viagem“, 1975)…

Em 1973, Diana casou-se oficialmente com Odair e voltou à carga com o LP Uma Vez Mais, mantendo a fórmula do disco anterior, mas já sem crédito de produção para o agora roqueiro Raul Seixas. Quatro canções originais perdem brilho sem a assinatura de Raulzito – destaca-se entre elas a soft porn “Não Sou Mais de Ninguém” (“quero guardar dentro de mim/ o seu calor”), de Roberto Corrêa, dos Golden Boys, e Jon Lemos.

“A Música da Minha Vida” (1973): “A canção falava de um casal que se amava”

Entre as versões, há releituras de country-pop-rocks gravados por Glen Campbell (“Uma Vez Mais“) e Donna Fargo (“Não Te Esqueças de Mim“), mais um hit pop internacional lançado pelo grego Demis Roussos (“A Música da Minha Vida”, no original “My Reason“) e mais versões do espanhol e do italiano.

A fase Polydor: versões e Diana compositora

Em 1974 e 1975, o casal Diana & Odair, já pouco aceito nas páginas de cultura dos jornais, passou a frequentar o noticiário policial, numa espiral de brigas cujo clímax, reza a lenda, seria Odair esfaqueado por Diana. À mesma época, a cantora rompeu o vínculo com a CBS e voltou à Philips onde tudo começara, agora no selo popular Polydor, o mesmo onde Odair reinava soberano.

Somente com o desligamento da gravadora que apostava tudo na música popular brasileira traduzida de matrizes gringas, Diana conseguiu dar vazão à atividade de compositora, já a partir do LP de estreia na casa nova, Você Prometeu Voltar… (1974). Não era simples ser mulher numa indústria fonográfica que permitia pouco mais que a existência das composições femininas (e por vezes feministas) de Rita Lee (de saída da Philips justamente naquele ano).

Na clave imperturbável do hiper-romantismo, Diana compõe quatro canções sozinha em Você Prometeu Voltar…: a faixa-título, “Que Vontade Eu Sinto de Voltar“, “Quando Chega a Noite” e “Talvez… Quem Sabe” (essa bastante parecida com os baladões setentistas de Roberto Carlos). Desencontros e desavenças formam a tônica das canções, cuja melancolia desta vez é atenuada por abundantes e sedosos arranjos de cordas – o virtuosismo instrumental era uma praxa nas gravações populares da Philips/Polydor.

“Foi Tudo Culpa do Amor” (1974): “Só sei que está tudo acabado/ entre eu e você”

Brigas à parte, mais duas faixas são parcerias de Diana com Odair: “Esta Noite Minha Vida Vai Mudar” e a incrível “Foi Tudo Culpa do Amor”: “Peço perdão mais uma vez/ se compliquei sua vida/ não tenho culpa se você chorou/ se não deu certo/ foi tudo culpa do amor”.

As versões sobrevivem em quatro faixas, “Sonhos Infantis” (mais uma da lavra folk-indígena de Buffy Sainte-Marie, originalmente “He’s an Indian Cowboy on the Rodeo“, com adaptação de próprio punho), “Alguém pra Me Fazer Feliz” (original italiano cantado por Marcella Bella e composto por Giancarlo Bigazzi, autor também, em 1982, do hit tecnopop “Eva”, na voz do co-autor Umberto Tozzi, que no Brasil de 1983 o grupo pop Radio Taxi transformará em “minha pequena Eva/ o nosso amor na última astronave”), “Não Sei Viver Assim” (“Love Is a Four Letter Word“, do guitarrista inglês Paul Brett) e o clássico country & western “Jambalaya” (1952), de Hank Williams.

Em 1975, Uma Nova Vida parece ansiar por mudanças, desde e o tom roqueiro à maneira de Raul Seixas e o tema do rock-título assinado por Odair: “Da cor dos seus olhos eu não lembro mais/ seu rosto bonito eu já esqueci/ a sua saudade me trouxe paz/ eu não volto atrás porque eu decidi/ viver minha vida com quem eu quiser/ provar pra você que sei ser mulher/ o seu sobrenome já não me acompanha”. O tom suavemente feminista é revertido em parte pelo plot twist dos últimos versos: “Eu acho que sou mulher o bastante/ pra não aceitar essa vida de amante/ eu quero um amor que tenha raiz/ um homem sincero que me faça feliz”.

“Lero-Lero” (1975): “Eu não sei por que/ você insiste em ser esnobe assim”

Diana é autora de seis das 12 faixas, inclusive o ponto alto do LP, o animado e irritado “Lero-Lero”: “Um dia vou acabar com esse seu lero-lero/ vou arranjar um alguém que ponha você no chinelo”. Detalhe constrangedor é que duas das composições atribuídas a ela são, na verdade, o vistoso reggae “I Can See Clearly“, de Johnny Nash (1972), transformado em “Ainda Sou Mais Eu“, e “Anticipation” (1971), da cantora e compositora pop Carly Simon, convertida em “Muito Obrigada“.

“Medo” (1976): “Eu não sou bicho-papão/ bicho do mato ou coisa assim”

Em 1976, os encrenqueiros Diana e Odair tiveram uma filha e se despediram da Polydor, no caso dela após um derradeieo álbum, Diana (1976), que conserva uma única versão, “Sem Barulho“, original do egípcio/francês Georges Moustaki. A artista assina sete composições, algumas na clave negativa de sempre (o rock “Hoje Que Você Disse Adeus“), outras esboçando um inédito otimismo (“Deixa o Sol Entrar na Sua Casa“, “Estado de Graça“, “Tudo Vai Dar Certo“).

“Com alma nova você vai ter mais coragem pra viver/ todos os momentos lindos que a vida lhe oferecer/ você vai ver/ tudo vai mudar/ você verá/ tudo melhorar”, diz a esperançosa “Deixa o Sol Entrar na Sua Casa”, em sintonia com as baladas de libertação feminina então compostas e interpretadas por Vanusa. “Se liberte desse mundo imundo/ e venha logo, venha viver”, tateava o funk suingado “Medo“, tentando se livrar do medo.

A fase RCA, a independência, a margem

Em 1976, o casal está na RCA Victor, onde Odair estreia com o álbum conceitual provocador e malcompreendido O Filho de José e Maria (1977), versando sobre tabus como a virgindade de Maria, a homossexualidade de Jesus Cristo e o divórcio (que ficou proibido no Brasil até 1977).

“Vida Que Não Para” (1978): “Máquina que voa/ quanta gente andando à toa”

Diana debuta no ano seguinte com mais um álbum sem título, no geral bem menos roqueiro, no qual a compositora assina “Mundo Moderno“, “A Vida Que Eu Tanto Sonhei“, “Domingo de Flores” e “Tapete Mágico“, entre outras. De Odair é “Vida Que Não Para”, gravada originalmente pelo autor em 1972 e um antídoto contra o negativismo e a melancolia tão apreciada por Diana: “Conte comigo/ sou sua amiga/ pode acreditar em mim/ não tenha medo/ não faça segredo/ pois a vida não é assim/ você que pensa que o mundo é quadrado/ você que pensa que o amor não existe/ você que acha que anda tudo errado/ por causa disso é que está sempre triste”.

Nem Odair nem Diana teriam vida longa na RCA Victor. Ele lançou mais um álbum com sobras de O Filho de José e Maria (que concebera como álbum duplo), ela não lançou mais nada. Em 1980 estavam ambos na gravadora nacional Continental, Odair ainda lançando LPs, Diana relegada a um único compacto duplo em 1980, com quatro faixas – duas composições dele, apenas uma dela (“Amava Todas as Mulheres“).

O casal se separou definitivamente em 1981, e a partir dali Diana seguiu trajetória errática, se apresentando em palcos dos interiores brasileiros e lançando apenas mais dois álbuns independentes de estúdio, Pra Você (1989) e Diana (1995), e um Ao Vivo em 2002.

“Sem Ressentimentos” (1982): “Vou sumir da sua vida sem ressentimentos”

Em 1982, no último compacto duplo, a dramática balada autoral (escrita em parceria com os compositores populares Gilson e Joran) “Sem Ressentimentos” tentava seguir adiante, entre humilhações e laivos de orgulho feminino: “É, eu hoje integralmente me senti mulher/ disposta a qualquer tempo para o que vier/ capaz de ter um homem que também me quer/ é, durante todo o tempo em que eu me perdi/ eu tive muito tempo para refletir/ e vim pedir perdão ao homem que eu feri”.

“Latino-Americana” (1989): “Adoro mesmo é quem me chama/ americana/ do Sul”

À margem, Diana lançou Pra Você (1989) por um selo chamado Somarj e trocou os arranjos virtuosos da fase Polydor por uma cama de sintetizadores. Ali, afirmou-se “Maluca e Teimosa” (numa composição assinada por dois homens) e, contra a corrente norte-americanizada, proclamou-se orgulhosamente “Latino-Americana” (de punho próprio em parceria com Carlos Marabá): “Eu sou americana/ da América/ do Sul/ maravilha tropicana/ sou da América/ do Sul/ latino-americana/ sou América/ do Sul/ adoro mesmo é quem me chama/ americana/ do Sul”.

“Por Te Querer Demais” (1995): “Como te tirar do pensamento?”

Diana (1995), editado por uma tal Maurício Produções, fechou a tampa autoral com seis composições próprias nos conformes de sempre, entre elas a robertocarlesca “Por Te Querer Demais”, “Aventuras“, “Jogando Conversa Fora” (“aonde você se esconde, alegria?”) e “Meu Dilema“, mais a versão “Eu Acredito em Mim“, de “Winning” (1976), do hard rocker inglês Russ Ballard.

Érika Martins regrava “Ainda Queima a Esperança” (2007)
Bárbara Eugênia relê “Porque Brigamos” (2013): “Diana é responsável pelo meu maior hit, porque o hit é dela”

As manifestações de carinho diante de sua morte são comoventes, mas ninguém parecia saber o que fazer com Diana nas quatro décadas em que esteve incompatibilizada com a indústria musical e midiática. Pior, ninguém parecia querê-la por perto, com as exceções honrosas da paulista Érika Martins, que fez uma versão envenenada de “Ainda Queima a Esperança” em 2007, e a niteroiense Bárbara Eugênia, que em 2013 regravou “Porque Brigamos” em tom pop-rock de veludo e em 2023 nomeou todo um álbum em referência a Diana: Foi Tudo Culpa do Amor (2023).

Bárbara se apresentou com Diana no Sesc Pinheiros, em 2014, e relembrou nas redes sociais no dia da morte: “Ela tava tão radiante! Não cantava em São Paulo há 30 anos, não tinha espaço na mídia há muito tempo”. Não deve ser à toa que Érika e Bárbara são mulheres e compositoras, assim como foi Diana. Não foi fácil, continua não sendo.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Tomei conhecimento hoje (sábado) de sua morte,não vi repercussão nenhuma – Diana foi minha cantora favorita nos anos setenta,meu gosto pela MPB surgiu muito depois;ela e Odair José foram meus primeiros ídolos na música.Ele teve mais sorte que ela,a cantora,por ser mulher,teve seu nome apagado completamente.

  2. Só tomei conhecimento de sua morte hoje (sábado),não vi repercussão nenhuma,Diana foi minha cantora favorita nos anos setenta,meu gosto pela MPB surgiu muito depois;ela e Odair José foram meus primeiros ídolos na música.Ele teve mais sorte que ela,que por ser mulher,teve seu nome apagado completamente.

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