Uma nova chance para ‘Hedda Gabler’

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Hedda Gabler (Karen Coelho) entra em cena como senhora Tesman. Recém-chegada da lua-de-mel com Jorge (Guilherme Gorski), com quem casou sem muita convicção e decididamente sem amor, ela é uma mulher que o tempo foi tratando de torná-la como uma personagem de antipatia notável. Inteligente e mesquinha, bela e invejosa, imaginativa porém cruel, muitos adjetivos podem tê-la lançado para o limbo dos personagens odiáveis. Mas Henrik Ibsen, em 1890, tinha pretensões que fazem, hoje, Hedda Gabler merecer uma nova chance.

Em cartaz no auditório do Masp, a tragicomédia Hedda Gabler conta a história da filha única de um militar de quem herdou apenas duas pistolas e um espírito livre. A peça se passa dentro de uma bela casa burguesa cercada por um jardim em Cristiânia (hoje a capital norueguesa Oslo). Em pouco tempo, a protagonista se vê sozinha e rejeitando as hipóteses para sua nova vida: submeter-se a morar ao lado de quem não ama ou aceitar um amante, como propõe o juiz Brack (Sergio Mastropasqua).

O texto de Ibsen se insere como um drama realista e, como tal, dificulta a vida para o encenador. Não há solilóquios ou apartes, e a quarta parede é difícil de ser rompida. Os espectadores são convidados a se tornarem convidados invisíveis, quase como se adentrassem no palco para acompanhar o desenrolar das cenas. A disposição dos atores, o tempo todo no palco, nos induz a esse convite. As músicas, executadas ao vivo, por Gregory Slivar, complementadas por cantos da atriz Nábia Villela, faz a experiência se tornar mais vívida. Esta montagem, sob direção de Clara Carvalho, quer investigar a psique de seus personagens, cujo elenco se completa com Carlos de Niggro, Chris Couto e Mariana Leme. Mas será possível descobrir o que se passa na mente de Hedda Gabler, de Jorge Tesman, juiz Brack ou dos outros personagens, enquanto as cenas da vida diária se desenrolam?

É fácil rotular Hedda Gabler como uma neurótica, um caso patológico,, afinal quem pode defender quem queima livros e ainda demonstra satisfação pelo ato? Mas o grande desejo por liberdade, objetivo maior desta personagem ibseniana, permite que lancemos um outro olhar à protagonista. Já no século 21 quem há de ser contra alguém que se rebela contra o que se apresenta à sua volta: um futuro de cartas marcadas e limitador? É pecado querer recuperar a vida humana do seu presente que se revela sufocante, burguês e medíocre?

Hedda Gabler. De Henrik Ibsen. No Auditório do Masp, sextas-feiras e sábados (20 horas) e domingos (18), até 25 de agosto. Ingressos a 80 reais.
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