A Prefeitura Municipal de São Paulo apagou os grafites que foram feitos ao longo dos últimos anos nas colunas e nas laterais do Complexo Viário João Jorge Saad, mais conhecido como Cebolinha, na Avenida 23 de Maio, na frente do Parque do Ibirapuera. Na manhã desta quinta-feira, 7 de dezembro, uma brigada de operários da Superintendência de Obras Viárias da administração municipal lixou e repintou de branco os viadutos grafitados, retirando os grafites e as intervenções artísticas feitas com lambe-lambes (colagens em grandes dimensões).
A grande blitz de obras que a prefeitura tem empreendido para recuperar ruas, praças e viadutos, com vistas à melhoria da aprovação popular do atual prefeito, Ricardo Nunes, pré-candidato à reeleição, atinge indistintamente a arte pública, que não é objeto de uma avaliação técnica ou abordagem estética. No último dia 30 de novembro, a juíza federal Sílvia Figueiredo Marques concedeu uma liminar determinando a suspensão imediata do processo de apagamento do mural A Cidade é Nossa, da artista Rita Wainer, realizado em 2017.
A ação foi movida pelo bloco de carnaval Acadêmicos do Baixo Augusta, o maior de São Paulo, e a autora do painel, Rita Wainer, que foram à Justiça com o intuito de garantir a preservação que já desfruta de status de patrimônio cultural da capital paulista. A obra fica na Rua da Consolação (entre a rua Caio Prado e a Praça Roosevelt), e a obtenção da liminar foi considerada uma vitória em defesa da diversidade cultural e artística. A pintura foi encomendada pelo bloco Acadêmicos do Baixo Augusta por ocasião de seu desfile de 2017.
Os grafites do Complexo Viário João Jorge Saad deram cor e personalidade a uma área um tanto degradada da Vila Mariana. Nenhum artista com obras no local se manifestou até agora, mas, em 2017, o artista Mauro Sérgio Neri da Silva, célebre pelo trabalho nas ruas da Capital, chegou a ser preso ao tentar restaurar um dos seus grafites que tinha sido apagado em uma ação similar. No momento em que se preparava para revitalizar sua obra, Silva recebeu voz de prisão de policiais militares e foi levado para o 36º DP. Foi naquele mesmo ano que o então prefeito João Dória pintou de cinza todas as laterais da 23 de Maio, atitude que o levou a uma condenação em 2019 – com indenização por dano ao patrimônio cultural e artístico da cidade fixada na ocasião em mais de 700 mil reais.
“Daqui a pouco eles vêm e fazem de novo”, disse um dos operários que pintavam as colunas na manhã desta quinta-feira. O local do apagamento abriga uma obra pública da artista Amélia Toledo (1926-2017), a Programação Cromática, que consiste em um imenso jardim de pedras coloridas polidas ou parcialmente polidas.