Uma pesquisa inédita divulgada nesta quinta-feira, 3 de março, realizou um mapeamento e análise dos projetos existentes para formação de leitores no Brasil. O levantamento, O Brasil que Lê, analisou 382 ações em 24 Estados brasileiros, incluindo projetos da sociedade civil e de gestões públicas, e que atendem 220 mil pessoas. O resultado é amplo, mas algumas conclusões ajudam até mesmo a compreender como se estrutura a sociedade brasileira atual como um todo – por exemplo: 74% dos projetos de formação de novos leitores são encabeçados por mulheres, hoje o principal foco de civilidade do País em quase todas as frentes, do político ao social.

Outro dado que chama a atenção é que a grande maioria desses projetos surgiu a partir dos anos 2000. Essas iniciativas eram praticamente inexistentes nas décadas anteriores, e voltaram a minguar no ano de 2021. O poder público negligencia seu papel nesse esforço, sendo responsável por apenas 28% dos projetos analisados. São esforços desenvolvidos primordialmente nos ambientes físicos (36%) e que atingem muito timidamente comunidades indígenas (10%), quilombolas (8%) e refugiados (6%).

O conceito de leitura, para a maioria dos projetos, é de ampliação do universo cultural e fonte de conhecimento (88%), enquanto 71% veem como ferramenta de formação do pensamento crítico e inserção na vida política. 39% desse projetos funcionam com recursos próprios dos seus organizadores, e os pesquisadores estranharam a falta de resposta aos questionários de projetos conhecidos e de vários anos de execução. Após telefonemas, a conclusão foi que muitos acabaram desistindo por não ter recursos para continuar sem apoio. “Muitos chegaram ao limite da resiliência, desanimados e sufocados pela contundência cruel de um governo que não apenas abandonou as políticas públicas de formação de leitores desde 2016, mas que deliberadamente as sufocava, as destruía desde janeiro de 2019”, disse José Castilho, professor, consultor de livro e leitura.

A pesquisa O Brasil que Lê é um levantamento inédito do Instituto Interdisciplinar de Leitura e Cátedra Unesco de Leitura da PUC-Rio com o Itaú Cultural. Traça ainda um perfil dos mediadores de leitura, origens, sustentabilidade, público e uso de tecnologias. Parcela significativa atua de forma voluntária em espaços não-formais de educação. Apesar do Plano Nacional de Livro e da Leitura, de 2019 até hoje não há subsídios federais para a manutenção e permanência destas ações.

Os projetos registrados são oriundos de todos os estados brasileiros, com exceção de Acre, Alagoas e Sergipe, se distribuem pelas capitais e interiores e atendem às mais diversas pessoas. Estes mediadores atuam em lugares e com públicos diversos. Em sua maioria, as atividades são desenvolvidas por pessoas físicas, em um total de 42,15%, e por bibliotecas, 34,03%. Dos mediadores de leitura, 60,21% são professores; 53,14% contadores de histórias; 42,41% fazem mediação em eventos culturais, e 31,41% são bibliotecários. 50,79% deles têm qualificação para a tarefa que desempenham, por outro, 9,42% não têm formação específica.

Boa parte dos projetos se estabeleceu em instituições – 44,2% em bibliotecas, 42,75% em escolas públicas. Porém, uma significativa parcela atua em espaços não-formais de educação como ruas, praças e hospitais.

Nos dias 8 e 9 de março (terça-feira e quarta-feira), das 14h30 às 16h, o Itaú Cultural promoverá o webnário Balanços e Perspectivas da Pesquisa O Brasil que Lê, baseado nos resultados do levantamento. A transmissão será feita pela página da instituição no YouTube
www.youtube.com/itaucultural e tem participantes como Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, Gilda Carvalho, mestre em literatura e diretora do iiLer/Cátedra Unesco de Leitura da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Aline Frederico, doutora em educação e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Viviane Moreira, mestre em teologia e analista de mídias digitais, Eliana Yunes, graduada em filosofia, e o professor José Castilho, entre outros.

 

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