"Danças Gaúchas" (1961), de Inezita Barroso

Inezita BarrosoDanças Gaúchas, Som/Copacabana, 1961.

1. “Levante” (Barbosa Lessa-Paixão Côrtes)/ “Tirana do Lenço” (Barbosa Lessa-Paixão Cortes)
2. “Pezinho” (Paixão Côrtes-Barbosa Lessa)
3. “Quero-Mana” (Paixão Côrtes-Barbosa Lessa)
4. “Rancheira de Carreira” (Barbosa Lessa)
5. “Chimarrita-Balão” (Paixão Côrtes-Barbosa Lessa)
6. “Balaio” (Paixão Côrtes-Barbosa Lessa)
7. “O Anu” (Paixão Cortes-Barbosa Lessa)
8. “Tatu” (Paixão Cortes-Barbosa Lessa)
9. “Maçanico” (Paixão Cortes-Barbosa Lessa)
10. “No Bom do Baile” (Barbosa Lessa)

Uma obra quase totalmente abandonada por plataformas musicais como Apple Music, Deezer e Spotify (YouTube é exceção) é a discografia original da paulistana Inezita Barroso, e a ausência se estende a Vamos Falar de Brasil (1958), destacado como verbete em Álbum 1Lá Vem o Brasil (1956), o feminista Inezita Apresenta (1958, só com compositoras mulheres) ou Eu Me Agarro na Viola (1959), embora vários títulos tenham sido lançados em CD há dez anos, por esforço do pesquisador Rodrigo Faour. É caso também de Danças Gaúchas (1961), citado de passagem no verbete dedicado no livro a O Gaúcho Coração do Rio Grande (1960), de Teixeirinha. Trata-se aqui do nativismo gaúcho, pouco valorizado pela música brasileira fora do Rio Grande do Sul.

Pesquisadora incansável das muitas realidades musicais interioranas do Brasil, Inezita já havia dedicado um LP de 10 polegadas ao cancioneiro do Sul, também chamado Danças Gaúchas (1955), com o acompanhamento do Grupo Folclórico Brasileiro de Barbosa Lessa. Tratavam-se de temas tradicionais recolhidos e adaptados pelos nativistas Barbosa Lessa Paixão Côrtes, que se repetem na versão de 1961, sem as intervenções faladas da edição original, com novos (e pomposos) arranjos do mineiro Hervé Cordovil e o acréscimo da picaresca faixa “Tatu” (na reedição, as composições não são classificadas mais como tradicionais, mas atribuídas diretamente a Lessa e Côrtes). “O tatu é bicho manso, nunca mordeu a ninguém/ só deu uma dentadinha na perninha do meu bem”, canta Inezita, traduzindo um humor gaúcho a um tempo ingênuo e ferino.

O apanhado de Inezita inclui danças/estilos metalinguísticos como tirana, rancheira e chimarrita, em mimos como “Pezinho” (“ai, bota aqui, ai, bota ali o teu pezinho/ o teu pezinho bem juntinho com o meu”), “Chimarrita-Balão” (“a chimarrita-balão, ai, não é pra todos dançar/ é pra quem tem os pés leves, ai, meu bem, pra quem sabe sapatear”) e “Maçanico” (“maçanico, maçanico, maçanico do banhado/ quem não dança o maçanico/ não arruma namorado”). Teixeirinha levava mais longe a acidez pampeira, compondo e cantando peças duras como “Coração de Luto” (1960), inspirada em fatos reais vividos por ele na infância: “O maior golpe do mundo/ que eu tive na minha vida/ foi quando com 9 anos/ perdi minha mãe querida/ morreu queimada no fogo/ morte triste e dolorida/ que fez a minha mãezinha/ dar o adeus da despedida”.

 

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