A radionovela Beleza: Um Suspiro de Esperança é uma obra de deslocamentos. A começar por transpor para um formato audiofônico bastante específico, a radionovela criada 80 anos atrás, uma obra clássica da literatura mundial, O Idiota, de Fiódor Dostoiévski. Mas se trata de uma homenagem aos 200 anos do escritor russo adaptada para os tempos atuais, num cenário pós-pandêmico. Elimina-se a ambientação original do romance, no século 19, para retratar a história num tempo imaginário, mas visivelmente contemporânea.
Em tempos pandêmicos como os dois últimos anos, Dostoiévski ganhou um súbito aumento de buscas no Google. Nascido em Moscou em 11 de novembro de 1821, o russo é autor de obras-primas da literatura, como Crime e Castigo, Os Irmãos Karamázov e O Idiota. Nos seus romances, Dostoiévski desfila uma variedade de personagens que revelam a complexidade das relações humanas. Mais que isso, por meio deles, trata de tecer ácidas críticas a instituições da sociedade, a política, a economia e a religião. São narrativas fincadas no passado, mas cuja vivacidade de sentidos e reflexões levantadas pelos personagens não se esgotam.
Com O Idiota não é diferente. A história gira em torno de Michkin, o príncipe, que retorna de trem para a Rússia, que teve de abandonar para se tratar de uma epilepsia. Depois de uma internação na Suíça, volta de trem e conhece um homem, Parfión Rogójin, com quem manterá uma amizade. Humanista ao extremo, tido por “idiota” por muitos, esse jovem de 27 anos precisa se reinserir na sociedade russa, acaba se apaixonando por uma bela mulher, Nastássia Filíppovna, e em meio a esse romance improvável começa a perceber uma sociedade movida pelo dinheiro e pelas mentiras.
Em Beleza: Um Suspiro de Esperança, Michkin é Miguel, um grafiteiro que ganha vida na voz do ator Eduardo Silva. O amigo Rogójin vira Ragô (William Mezzacapa), que viverá um triângulo amoroso com a jovem em ascensão social Natalia (Pamela Machado), a Nastássia do original. Miguel retorna de trem de uma internação por causa de uma peste que assolou o Brasil. Ele é, como o príncipe de Dostoiévski, um personagem ingênuo, que vai se deparar com relações abusivas contra a mulher e o racismo, permeados em um País marcado pela desigualdade social e por relações escusas pelo poder.
A direção é de Américo Córdula, idealizador do projeto, com roteiro de Ivan Andrade, diretor teatral. O projeto foi realizado pelo Instituto Casa Comum. A estreia da radionovela ocorre na segunda-feira (29), às 20 horas, com o lançamento de três episódios. Os cinco restantes serão divulgados nas quartas, sextas e segundas seguintes.