Ao ver uma foto de divulgação de Jards Macalé e João Donato, acompanhados de dois cachorros, me veio à imaginação, galhofeira, a ideia: e se estes cães se chamassem Macãolé e Dognato?
Brincadeiras à parte, a foto é parte do anúncio de “Síntese do lance”, disco que eles lançam em duo no próximo dia 15; a faixa-título foi o primeiro single lançado e a gravadora Rocinante, pela qual sai o já tão aguardado álbum, disponibilizou ontem (1º.) nas plataformas de streaming, “Côco Táxi”, segundo single do álbum de inéditas – o arranjo de metais é de Marlon Sette, co-produtor do disco, ao lado de Sylvio Fraga e Pepê Monnerat, sócios da gravadora.
É a primeira parceria de Donato e Macalé, nomes fundamentais da música popular brasileira em qualquer época; o primeiro, acriano, um dos inventores da bossa nova, ao lado de outro João, referência absoluta para ambos e para qualquer um que tenha pintado depois; o segundo, carioca, uma espécie de tropicalista que correu por fora.
Recentemente re-descobertos por novas gerações de músicos e re-valorizados por crítica e público, tendo ambos gravado discos com músicos bem mais jovens para os quais são referência, os singles que antecipam “Síntese do lance” permitem-nos entreouvir um disco cheio de frescor, vibrante, sem nunca forçar a barra, ao contrário de certos roqueiros reaças que não souberam envelhecer com dignidade.
O “Côco Táxi” que dá título à música, com acento e tudo, é um triciclo utilizado como meio de transporte por turistas em Havana, Cuba, em que Donato e Macalé já passearam em momentos distintos, quando realizaram apresentações naquele país, cuja sonoridade se alia à ginga dos brasileiros – a faixa-título remete aos terreiros das religiões de matriz africana, com as antenas da dupla sintonizando frequências fora dos espectros do preconceito e da intolerância.
Discos solo de João Donato e Jards Macalé, por si só, causam grandes expectativas. O par de singles dançantes disponibilizado amplia a promessa de um baita disco.
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Ouça “Côco Táxi”: