O governo de Jair Bolsonaro aprovou na manhã desta sexta-feira, 6, o uso de R$ 3,1 milhões de dinheiro incentivado para a “preservação e digitalização do acervo” de 55 anos da TV Record, a mais fiel aliada do governo. O projeto é assinado pelo Instituto Ressoar (Instituto Record de Responsabilidade Social), ligado à emissora, que chegou a pedir R$ 17 milhões para um plano de 4 anos de manutenção do acervo da emissora – no dia 5 de julho, a prestação de contas do instituto tinha sido reprovada pelo governo, com a sugestão de inabilitação do proponente.
Enquanto isso, em São Paulo, o maior acervo audiovisual da América do Sul, a Cinemateca Brasileira, perdeu parte expressiva dos documentos da História audiovisual do País em um incêndio, atribuído justamente à negligência do governo, e o Ministério do Turismo abriu um procedimento para escolher um novo gestor cujo prazo de seleção vai até 22 de setembro. Não há qualquer ação emergencial em curso relativa à instituição, que guarda 250 mil rolos de filmes e milhares de documentos.
Há alguns dias, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, foi a Angola, na África, para interceder junto ao governo angolano (em nome de Bolsonaro) e mediar crise criada pela Igreja Universal naquele País – a igreja pertence ao mesmo proprietário da TV Record, o bispo Edir Macedo, e é acusada de lavagem de dinheiro e dezenas de outros crimes e irregularidades pelo estado angolano. A viagem, claramente empreendida para defender interesses privados, custou R$ 340 mil aos cofres públicos.
O curioso é que o acervo da TV Record, um dos mais antigos do país (foi criado em 1953 e fica na sede da empresa na Barra Funda, em São Paulo) já está todo digitalizado – reportagem do UOL, do ano passado, visitou o local, que fica numa confortável sala de 88 m² e reúne mais de 4 milhões de GB disponível para armazenamento, espaço para mais de 150 mil horas de conteúdo em formato digital. O material mais precioso, segundo pesquisadores, são os arquivos de música popular dos anos 1960 e 1970, que registram a história dos festivais de música.
A TV Record tem caracterizado sua postura como de canina docilidade ao presidente Jair Bolsonaro mesmo antes de sua eleição. Recentemente, uma jornalista que destoou da atitude de reverência, Mariana Godoy (que considerou “bizarra” uma das lives do presidente) foi advertida por integrantes do governo e sua demonstração de independência gerou uma nova circular interna na TV para “disciplinar” o comportamento de jornalistas.
REPORTAGEM ATUALIZADA ÀS 21h52 DE SEXTA-FEIRA, 6 DE AGOSTO.