Vinaa no show de lançamento de Elementos e hortelã na terra dos eucaliptos. Foto: Dney Justino
Vinaa no show de lançamento de Elementos e hortelã na terra dos eucaliptos. Foto: Dney Justino
Elementos e hortelã na terra dos eucaliptos. Capa. Reprodução
Elementos e hortelã na terra dos eucaliptos. Capa. Reprodução

O cantor e compositor Vinaa lançou ano passado seu segundo disco, Elementos e hortelã na terra dos eucaliptos. O aguardado sucessor de Bordel de amianto e a glória dos loucos por sex appeal tem uma sonoridade difícil de rotular, passeando por bolero, ska, divino e até marcha militar – a irônica, provocativa e atual Bienvenidos a U.R.S.A.L.

Sua opção por títulos longos antecipa ao fã-clube que ele tem o que dizer e sabe como fazê-lo. São 10 faixas autorais, em disco cheio de cor, frescor, força, misticismo. Vinaa hasteia bandeiras sem soar panfletário. Faz música para dançar e pensar.

Ano passado fez um concorrido show de lançamento do segundo disco na Concha Acústica Reinaldo Faray, na Lagoa da Jansen. No Festival BR-135 agitou a plateia ao dividir o palco com Romero Ferro e Cláudio Lima. Hoje (15) ele sobe ao palco do Buriteco Café (Rua Portugal, Praia Grande), às 20h, para um show em que passeará pelo repertório dos dois álbuns, além de releituras.

Zeca Baleiro, que em Elementos e hortelã na terra dos eucaliptos faz uma participação especial em Cicatriz (No regresa), é o convidado especial da noite – de ingressos limitadíssimos (e já esgotados). Vinaa será acompanhado por André Ótony (piano), Filipe Façanha (violão) e Luiz Cláudio (percussão).

O artista conversou com exclusividade com Farofafá. Na entrevista, lembrou os ensaios na garagem da casa dos pais há 10 anos, os discos, a participação especial de Zeca Baleiro, a luta a que dá voz e, obviamente, o show de hoje.

Vinaa com Zeca Baleiro na sessão de gravação de Cicatriz. Foto: divulgação
Vinaa com Zeca Baleiro na sessão de gravação de Cicatriz. Foto: divulgação

Zema Ribeiro – O show de hoje no Buriteco será um novo lançamento do disco novo?
Vinaa – Será uma noite que também vai passear pelo novo disco, mas não apenas. É um formato que pouco utilizamos, mas que ficamos sempre muito à vontade para fazê-lo. Tocar um violão acompanhado de um piano é algo que me acompanha desde sempre. Lembro, há dez anos, desse mesmo formato se apresentando na garagem da casa dos meus pais, meu irmão Junior, que na época se aventurava nas teclas pra me acompanhar, e meu fiel escudeiro Filipe Façanha fazendo a melodia de nossas primeiras canções nas cordas. Hoje a gente retoma o mesmo formato pra revisitar a carreira, as canções que marcaram nossa trajetória e que fazem parte de nosso presente. Será um presente pra nós e pro público!

A base do repertório são os dois discos, então. Alguma releitura?
Nessa noite nós vamos passear pelos dois discos já lançados. Vai ser uma noite mais próxima do público que acompanha meu trabalho. Nós vamos poder contar as histórias por trás de cada canção e também as nossas histórias. Vamos aproveitar o clima intimista e apresentar versões exclusivas de canções que nos inspiram, de artistas que nos influenciam e também da nova música popular brasileira. Posso antecipar que em nosso repertório, por exemplo, temos versões de As Bahias e a Cozinha Mineira, Lulu Santos, Alcione, Belchior, Tim Maia, Alceu Valença e até de Tears for Fears.

Desde o início da carreira, Zeca Baleiro sempre foi um artista muito generoso, no sentido de apoiar nomes de sua terra natal, entre veteranos e novatos, seja em participações especiais, produções ou lançamentos por seu selo Saravá Discos. Como você avalia e enxerga a trajetória dele e como se sentiu com sua participação especial em seu disco?
Zeca é um ouvinte antenado com o mundo. Todo grande artista, ou que tem a voz como seu instrumento de trabalho, precisa ser antes de tudo, um exímio ouvinte. Ouvir o gueto, o morro, as ruas. Escutar ativamente a cena, o movimento, o público, sentir e deixar falarem. Zeca faz isso com maestria. Olha seus primeiros discos, como traduzem o espectro urbano. São incríveis. E nesse processo de escuta, muita gente da nova geração e da estrada acabam sendo capturados por suas antenas. E eu fico muito honrado por estar no radar de alguém que muito admiro. Além de minha admiração pessoal pelo ídolo que representa em minha carreira, tenho grande admiração pela sua própria carreira, pelas suas conquistas e por ser de nossa terra. Isso inspira demais. Ter o Zeca em meu disco é um presente dos deuses que habitam as noites frias dos lençóis maranhenses.

Você rapidamente galgou uma posição de destaque na cena nova, sem abrir mão de bandeiras e posições políticas; a meu ver, de algum modo, isso até contribuiu para o que digo. Você concorda com essa análise?
De certo modo você tem razão. Não que isso tenha ocorrido de uma forma cartesiana. Não paramos, sentamos e decidimos levantar bandeiras. Elas apenas coexistem em nossa vida. Na rua, nas filas, em casa, são as lutas que bradamos todos os dias por ser nordestino, por ser LGBT, por não ser plenamente aceito por milhares e ao mesmo tempo por ser adorado por outros milhares. Não somos a voz que representa ninguém, somos a voz que representa a nossa luta. Essa é a nossa voz. Essas são as nossas verdades e nos sentimos muito gratos por ver que a nossa verdade faz sentido pra muita gente. E que muita gente se vê e se reconhece em nossas lutas. Até sinto que neste último disco, deixamos algumas bandeiras de lado. Mas não abandonamos aquelas causas. Seguimos lutando por elas também. Só decidimos verbalizar outras lutas importantes que também bradamos todos os dias.

Quem estará contigo no palco, que banda te acompanha?
Nessa noite especial, relembrarmos o quintal da casa dos meus pais, há dez anos, e teremos o mesmo formato no palco. Violão, piano e a minha voz. Filipe Façanha, guitarrista que gravou nos meus discos, e que está comigo há dez anos, assume as cordas nessa noite. André Ótony, sensível especialista das teclas, que gravou participação no meu primeiro disco, na música Saga de um eterno seguidor, e venera a obra e o artista que é Zeca Baleiro, também compõe minha escuderia. E além da participação especial de Zeca, que por si já diz muito sobre o encantamento que será esse encontro, teremos a participação do produtor musical e percussionista que já gravou em canções do Zeca e também já gravou comigo, Luiz Claudio, da Zabumba Records [estúdio e selo].

Quais os seus planos para 2020? Como está a agenda?
2020 é um ano regido pelo astro rei. O sol é o astro regente do meu signo [leão]. E eu sinto desde o primeiro minuto do ano, que teremos um grande ano pela frente. Especialmente em minha carreira. Tenho recebido muitos convites pra levar o novo show a festivais Brasil afora. Iremos apresentar nosso trabalho nos pitchings do Porto Musical (PE) dia 13 de fevereiro e no dia 28 de março estaremos dividindo palco com Liniker (SP), Selvagens à Procura de Lei (CE) e mais sete atrações no Magnólia Festival, em Chapecó (SC). Já temos agenda em janeiro de 2021 no Rio Grande do Sul. E até lá, temos muitas novidades. Vamos relançar nosso último disco com versões remixadas por 10 djs de diferentes estilos, flertando nossa mensagem com o mundo eletrônico. Temos incríveis clipes sendo produzidos e devem ser lançados até dezembro. Temos alguns projetos inéditos também. E estamos com a banda pronta pra circular levando os ritmos tradicionais do nosso estado pro mundo.

Tua música faz pensar e é dançante ao mesmo tempo, o que no Brasil sob Bolsonaro pode parecer uma contradição (ou não). Será possível dançar no Buriteco?
Já afastamos todas as mesas do meio do salão [risos]. O formato será acústico, classudo, impetuoso e cheio de fervor! Pra ouvir histórias, pra cantar e pra dançar. Sabe aqueles acústicos daquela emissora pseudo-jovem que não transmite mais clipes hoje e tem música no nome? Resgataremos com louvor os dias de glória!

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Ouça Elementos e hortelã na terra dos eucaliptos:

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