Há mais de uma geração, em 1983, o britânico Ritchie ajudou a redefinir todos os ditames da indústria fonográfica brasileira, com o simples ato de lançar um álbum pop-rock chamado Voo de Coração. “Você passou no circular/ pela praia do Leblon/ corri atrás, tarde demais/ perdi a condição/ de conversar/ te convencer/ te confessar/ eu quero só você”, cantava “A Vida Tem Dessas Coisas”, rimando condução com condição, em ritmo de tecnopop.
Hoje com 67 anos, Ritchie retoma o Voo de Coração num show de comemoração aos 35 anos (ou 36, na verdade) do álbum que invadiu as rádios e TVs nacionais com uma fileira aparentemente interminável de hits de pop perfeito. Entre eles estão “Menina Veneno” (“menina veneno/ o mundo é pequeno demais pra nós dois/ em toda cama que eu durmo só dá você”), “A Vida Tem Dessas Coisas”, “Casanova” (“boa noite, rainha, como vai?/ sou seu coringa, o seu ás”), “Pelo Interfone” (“chamo por você, ninguém atende/ de repente uma luz acende/ ‘ela não está’/ me diz a voz que vem do interfone”), “No Olhar” (“teu olhar vai vai brilhar na luz do neon/ teu olhar vai negar a luz negra do não”), “Preço do Prazer” (“15 dias na estrada sem poder te ver/ é o preço do prazer”), “Voo de Coração” (“mas eu só no apartamento escrevendo/ memórias no velho computador”)…
O grupo reunido em Voo de Coração será decisivo para a geração pop-rock dos anos 1980, que começou a amanhecer em 1982, com o advento de As Aventuras da Blitz 1. O parceiro na maioria das canções é Bernardo Vilhena, egresso do grupo de poesia Nuvem Cigana. Entre os músicos acompanhantes, estão Lulu Santos, Lobão (ambos ex-companheiros de Ritchie na efêmera banda de rock 1970 Vímana) e Liminha, ex-integrante dos Mutantes.
Mesmo o que não foi sucesso no disco é irresistível, inesquecível – caso da balada lancinante “Tudo Que Eu Quero (Tranquilo)”: “O tempo eu sei que vai passar/ sei que temos que envelhecer/ mas nada me incomoda, não/ pois o que eu só quero é viver/ sempre aqui do teu lado/ vem dançar comigo”.
O show em que Ritchie volta a si mesmo, depois de trabalhos de releitura da obra de Paul Simon (em 2016) e de standards do cancioneiro pop-rock anglo-saxão (no álbum 60, de 2012), acontece em São Paulo numa única oportunidade, no Bourbon Street.