Sesc São Paulo nega capitulação ao conservadorismo

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Fachada do Sesc Guarulhos, a mais nova unidade da instituição
Fachada do Sesc Guarulhos, inaugurado em maio

O diretor-geral do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, nega que esteja em curso uma movimentação de retrocessos comportamentais e um encolhimento de investimentos na instituição que dirige. Esse recuo seria fruto de um cerco do grupo bolsonarista. “Sempre tivemos uma ação livre, totalmente libertária, e nunca deixamos de ter”, afirmou. “Nós não estamos moldados na cartilha bolsonarista, em hipótese alguma. A abertura sempre foi, e continua sendo, total em relação a questões de gênero, raça, crença”, afirmou. “Ninguém faz cultura sem lidar com essas temáticas, como o poder e a democracia. Não tem um criador que não leve isso para o palco, para a tela, para sua arte”, ponderou.

Danilo abordou um caso relatado por CartaCapital na reportagem O trator obscurantista, publicada na edição desta semana da revista. No dia 30 de agosto, a artista trans Luh Maza denunciou um ato de censura de que teria sido vítima no Sesc Avenida Paulista. Segundo Luh, o espetáculo que criou, o Queerbaret, um show multimídia com 20 artistas das artes circenses e musicais, tinha estreia pré-agendada em outubro no Sesc Avenida Paulista. Mas, subitamente, Luh foi informada que tinha sido cancelado seu projeto. Ela disse crer que o motivo, não declarado, teria sido a temática (queer é um termo que define pessoas fora do modelo tradicional de orientação sexual ou identidade de gênero).

Danilo avalia o caso como um mal-entendido. Segundo o diretor, tratava-se de algo ainda em negociação, mas, em função dos valores e dos prazos, o Sesc teria considerado o projeto incipiente. “Estava meio cara, não estava completa. Vamos continuar conversando. A artista já fez projetos com o Sesc e vai continuar fazendo no futuro”, afirmou. “Não tem nada a ver com censura. Todo mundo sabe que o Sesc tem abrigado todas as manifestações, é um compromisso do qual não arredamos pé”. Ele exemplificou com o trabalho de Renata Carvalho, atriz e ativista trans, autora do manifesto da Representatividade Trans, abrigado pelo Sesc Belenzinho.

Danilo Miranda diz que não há a menor chance de o Sesc São Paulo recuar em sua política de privilegiar a excelência e a inovação nos projetos artísticos, e o risco de censura é zero. Mencionou simpósio internacional capitaneado pelo filósofo Adauto Novaes no Sesc Pinheiros, Democracia em Colapso, que será aberto por Marilena Chauí no dia 19 de outubro com um painel intitulado “O Neoliberalismo É o Novo Nome do Totalitarismo” (além da palestra “A Liberdade É uma Luta Constante”, pela ativista norte-americana Angela Davis, ícone do feminismo negro). Segundo Danilo, a multiplicidade de visões vai continuar sendo foco do trabalho do Sesc.

Danilo admite, entretanto, que tem recebido ameaças, mas que não pretende ceder a tentativas de intimidação. “É uma ação que influi no plano comunitário, cultural. É fruto de trabalho de muitos anos”, ponderou.

Quanto aos investimentos do Sesc São Paulo, Danilo desmentiu que tenham sido postergados ou abandonados os projetos citados na reportagem, como a construção de Sescs nas cidades de Franca e Marília. “Pelo contrário. Recebemos um terreno novo em São Bernardo, para uma futura unidade, outro em Mogi. As previsões seguem absolutamente normais”, afirmou.

O atual ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou um corte de 30% nos recursos do Sistema S em todo o País. Danilo avalia que tudo ainda é nebuloso e o percurso de qualquer mudança passará por um longo processo de debates. “Quando o governo federal anunciar alguma medida concreta de cortes, avaliaremos”. Mas, por enquanto, ele não vê necessidade de recuos. Na visão do dirigente do Sesc, o artigo 240 da Constituição Federal ampara o trabalho do Sistema S, que é feito em parceria com Estados e municípios.

Esse artigo da Constituição versa a respeito das contribuições compulsórias dos empregadores sobre a folha de salários e sua destinação às entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical, caso do Sesc. Portanto, qualquer mudança no sistema partiria de uma ilegalidade, em sua visão.

Segundo Danilo, a reação da comunidade tem sido muito forte em relação a uma redução de serviços no Sesc. “Muita gente me procura para oferecer ajuda. ‘O que eu faço?’, me perguntam. Eu digo simplesmente: nada. Não há nada concreto. Não tem por que reagir se não há uma ação efetiva”.

Danilo Miranda também comentou decisão do Sesc Copacabana de vetar texto do poeta e acadêmico da ABL, Geraldo Carneiro, em um programa de teatro. O texto é crítico em relação à atual gestão do governo federal. “Temos princípios comuns em todo o País, mas cada Estado tem sua autonomia. Não posso falar pelos outros Estados”, disse.

 

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