Bob Dylan no Mato Grosso

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A banda Vanguart por Juan Pablo Mapeto

A banda mato-grossense Vanguart baila na corda bamba em seu novo álbum, Vanguart Sings Bob Dylan. São 16 canções do cavalheiro folk estadunidense reinterpretadas sem muita eira nem beira, sem razão especial que justifique a empreitada a não ser o amor da banda americana-do-sul pelo compositor americano-do-norte.

É preciso ter peito para fazê-lo. Com sua voz esquisita, Dylan é o melhor intérprete de si mesmo em qualquer tempo, lugar e circunstância. Ainda assim, gente de peso deu versões inesquecíveis para seu cancioneiro – gente como Sam Cooke e Stevie Wonder (“Blowin’ in the Wind”), Cher (“Like a Rolling Stone”), Jimi Hendrix (“All Along the Watchtower”), Nina Simone (“The Times They Are a-Changing”, “Just Like a Woman”), Elvis Presley (“Don’t Think Twice, It’s All Right”), Bryan Ferry (“A Hard Rain’s a-Gonna Fall”), Marianne Faithfull (“It’s All Over Now, Baby Blue”), Patti Smith (“Changing of the Guards”), Joan Baez, The Byrds, centenas e centenas e centenas de outros mundo afora. Mesmo no Brasil já houve ousadias maiores, como as de Gal Costa ao transformar “It’s All Over Now, Baby Blue” em “e não tem mais nada, negro amor”, de Cida Moreira ao verter “Hurricane” em “Furacão” ou de Zé Ramalho ao devotar um disco todo ao universo dylanesque, também em português.

Cantando em inglês, Hélio Flanders, o vocalista de quase todas as faixas, não tem o que acrescentar a esse território sagrado, e não o acrescenta. São releituras simples de canções complexas, na maioria das vezes reverentes e fiéis às versões originais (fidelidade que, por sinal, nem o próprio Dylan pratica mais há décadas). Nas poucas ocasiões em que ousa alterar o andamento das canções – “Don’t Think Twice It’s All Right”, a delicadíssima versão de “Just Like a Woman” -, a banda acerta em cheio e deixa gosto de quero mais. No contraponto, por vezes, ao soar fiel demais, chega a soar redundante (caso dos épicos “Hurricane” e “Ballad of a Thin Man”).

Não significa que seja um álbum de desacertos. A petulância extrema, de exercitar conexões neuronais entre a gaita dylanesa e o violino de Fernanda Koschtschak, entre o country estadunidense e o sertanejo mato-grossense, rende ao Vanguart o grande prêmio da coragem. Produzem material digno a partir de matéria-prima extraordinária, e entregam um álbum coeso, sentido, gostoso de ouvir. Dá vontade de saber o que mr. Dylan pensaria ao ouvir os aprendizes brasileiros.

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