Após o episódio em que censurou obra dos artistas Eduardo Bruno e Waldírio Castro, revelada com exclusividade pelo Farofafá no dia 28 de maio, o Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil (CCBNB) em Fortaleza (CE), aprofundou sua crise e cancelou essa semana toda sua programação artística.
Todos os artistas que tinham projetos em andamento ou preparavam shows, concertos, exposições e apresentações no Centro Cultural estão sendo informados paulatinamente que os compromissos foram suspensos. Atividades como o projeto Jazz em Cena, que promovia um show por mês, receberam um comunicado lacônico de cancelamento.
A situação é tão grave que os artistas nem estão sendo informados dos motivos da suspensão das atividades. Nem um e-mail receberam, apenas um telefonema dos técnicos do banco responsáveis por cada área. Muitos artistas têm recursos investidos nas atividades programadas, além de tempo e dedicação.
O imbróglio no Centro Cultural começou com a censura à instalação “O que pode um casamento (gay)?”, dos artistas Eduardo Bruno e Waldírio Castro. Tratava-se de um registro da união do casal no ano passado, um documento das semanas que antecederam seu compromisso conjugal e das performances que fizeram. Os artistas expuseram uma faixa na fachada do centro cultural, na qual estava escrito “Em terra de homofóbico, casamento de gay é arte”. A direção do banco mandou retirar a faixa, e os artistas, em protesto, retiraram o trabalho todo.
Eduardo e Waldírio denunciam homofobia no caso, porque o trabalho tinha sido submetido ao corpo curatorial que programa o chamado Salão de Abril, e aprovado. “Não aceitaremos censura e homofobia!”, disse Waldírio. Em seguida, eles escreveram com spray, na parede em que estava seu trabalho: “Obra censurada pelo CCBNB”.
O Banco do Nordeste argumentou que a faixa tinha sido retirada por “interferir na identidade visual do prédio”, que é histórico (e cedido pela Prefeitura ao banco). Outro argumento é que a instituição não pode se posicionar de forma política. Mas a única obra que incomodou a direção do banco foi a de Eduardo e Waldírio, o que leva à conclusão de que a censura se deveu ao mesmo temor que moveu o Banco do Brasil a vetar uma propaganda por ordem do presidente da República: receio de se contrapor ao pensamento homofóbico do bolsonarismo.
O cancelamento da programação cultural pode ser também uma estratégia de retaliação aos artistas da região, que demonstraram solidariedade ao casal de artistas censurado. Segundo levantamento do jornal O Povo, três centros culturais do Banco do Nordeste (em Fortaleza, Juazeiro do Norte e Souza já cancelaram ao menos 70% de sua programação). Conforme disse ao site Miséria o diretor do CCBNB do Cariri, em Juazeiro, Ricardo Pinto, as instituições estão sem recursos e o que ele dispõe só permite o funcionamento até o final desse mês.