A CASA DE BRANCA

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No número 526 da Rua Bispo Azeredo Coutinho, em Olinda, algumas escavações nos fundos de uma loja de artesanato revelaram objetos e restos de edificação que parecem ter sido de uma sinagoga. Foi identificada ali uma micvá (piscina para imersão e purificação espiritual) e aparatos escultóricos que parecem demonstrar essa tese. Religiosos têm ido até lá para rezar. “Cada vez mais”, diz uma balconista. A descoberta disso alvoroça fieis e pesquisadores.
Atualmente, é possível entrar na micvá, tocar nas peças (uma pia de pedra e outros resquícios) e caminhar nas escavações. Não há placas nem cuidados especiais para controlar o turismo.
O blog Morashá, de Semira Adler Vainsencher e Jacques Ribemboim, publicou em 2011 um texto afirmando peremptoriamente que aquela foi a antiga residência da cristã-nova Branca Dias.
Branca Dias foi uma senhora de engenho que virou lenda no Nordeste. Cristã-nova (descendente de judeus portugueses convertidos à força ao cristianismo no final do século XV) teria vivido ali no século 17 ou 18, de onde teria saído presa pela Inquisição e levada a Lisboa para execução sob acusação do crime de judaísmo.
Sua figura é tratada tanto pela cultura popular quanto pela erudita. Em Romance da Pedra do Reino, do escritor Ariano Suassuna, Dom Quaderna, herdeiro da corte sertaneja, fala em Branca Dias e sua tragédia. Há diversas Brancas Dias na arte. Na peça O Santo Inquérito, Dias Gomes teatralizou sua história nos anos 1970, com Regina Duarte no papel da protagonista. Há também uma personagem de romance do século 19, de Joana Maria de Freitas Gamboa, autora pernambucana.
Em Pernambuco, Branca Dias é tratada como uma heroína local. Na Paraíba, idem.
Ocorre que o pesquisador Irineu Joffily foi fundo na busca das origens e real existência de Branca Dias, concluindo que a única Branca Dias real teria sido paraibana, na verdade, possuidora de um engenho e grande fortuna. “Vivia na memória dos paraibanos e, como toda memória, tinha um aspecto presencial. A personagem continuava presente na região, mesmo tanto tempo depois de seu suposto martírio”, escreveu.
Segundo o blog Morashá, os cristãos-novos reuniam-se secretamente e mantinham uma intensa vida comunitária judaica, organizando esnogas (pequena  sinagoga não oficial onde são realizados o culto a Deus, a leitura da Torá, a recitação de salmos etc.), guardando o shabat e a cashrut, e comemorando suas festividades. Mas havia a ameaça do Santo Ofício.
“Neste ambiente, destacava-se o casal Diogo Fernandes e Branca Dias, que mantinha duas sinagogas, uma no recôndito da casa de Olinda, outra no engenho Camaragibe, a poucas léguas de distância”. Para eles, essas escavações de Olinda apresentam indícios que mudam a História: ali seria efetivamente o local onde viveu Branca Dias com sua família e, por conseguinte, a primeira sinagoga das Américas.

Nascida em Portugual, Branca Dias, acusada de práticas judaizantes pela própria irmã (e talvez também pela mãe) quando ainda vivia em solo lusitano, foi presa pela Inquisição e conduzida às masmorras de Lisboa. Teria escapado para o Brasil e se reencontrou com o marido, Diogo Fernandes, em Pernambuco.
Não encontrei muita coisa sobre o caso das escavações de Olinda em periódicos e nem pesquisas mais apuradas.
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