Além de um meio de campo compacto e letal, o Corinthians protagonizou uma outra novidade nesse clássico com o Palmeiras, ontem: a selfie tirada por Romero após o primeiro gol do seu time.
Foi uma curiosa iniciativa (de Romero? ou do marketing do time, que no final das contas foi quem divulgou oficialmente o resultado?), num mundo em que tudo está definido em contratos de direitos de imagem. Ou em processos por uso não autorizado de direitos de imagem. Para se ter uma ideia, o próprio Romero receberá do Corinthians R$ 1,8 milhão referente a direitos de exploração de suas imagens em 2017 (Jô tem a cifra mais alta, R$ 7 milhões). Será que a selfie já está liberada ou entra na conta geral?
A foto de Romero já viralizou. Há até uma reação de um palmeirense que editou a foto, mostrando Romero cercado de juízes do campeonato brasileiro, insinuação de que o Corinthians recebe vantagens da arbitragem em campo.
É provável que isso se alastre por times menores, e breve teremos o jogador com a torcida no alambrado, o jogador puxando o saco do “professor”, o jogador fã que vai até o ídolo Neymar ou Cristiano Ronaldo e coisas do tipo. Em seus shows, Wesley Safadão recolhe celulares dos fãs com os pés, faz fotos de si mesmo e devolve para a plateia.
A selfie de Romero replicou uma outra famosa, de 2014, definida como “a melhor foto de todos os tempos” pela apresentadora do Oscar, Ellen DeGeneres. Naquele ano, a foto sacada no celular do ator Bradley Cooper durante a cerimônia dos Oscars teve mais de 2 milhões de retuítes somente nos primeiros dias (batendo os “meros” um milhão da selfie de Obama no dia em que foi reeleito).
A imagem clicada por Bradley Cooper durante a cerimônia mostrava a euforia dos atores Jared Leto, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Julia Roberts, Brad Pitt, Lupita Nyong’o, além da própria Ellen DeGeneres e de Bradley Cooper. Atrás de todos eles, como numa profecia, esticando o pescoço, lá estava um sorrateiro Kevin Spacey, insinuando talvez que o assédio viria pela retaguarda.
Segundo noticiou o G1, o telefone celular usado ontem na foto corintiana pertence ao próprio Romero, que o tinha deixado guardado com Daniel Augusto Jr, fotógrafo oficial do Sport Club Corinthians Paulista. A comemoração já estaria “ensaiada” entre eles havia três meses, mas houve um contratempo: o último gol de Romero havia sido em 11 de junho, nos 3 a 2 contra o São Paulo, também em Itaquera. A foto esperou muito para sair, mas parece que o ensaio valeu a pena.

Não tenho muito o que dizer sobre selfies. Seu exibicionismo está sempre a exigir uma sentença moralista, mas não sou moralista. Já usei muito (não eu pessoalmente, mas as dos outros, que me fornecem fotos preciosas para uso profissional). Uma vez, poucos minutos após ser confirmada como ministra da Cultura por Dilma Rousseff, a ex-ministra Ana de Holanda fez uma foto comemorando com Antonio Grassi no carro em que estavam no trânsito. Publicada no jornal, aquela foto foi o retrato bem-acabado da entronização. Teve o cara que faz a selfie com a jibóia dentro d’água no Amazonas, teve o que está de boia no mar enquanto o avião em que viajava afunda atrás de si.  Tem selfie fofa e tem selfie sem noção. Eu confesso que amava um tempo de pré-selfies do programa do Chico Anysio. Aquelas do Seu Boneco quando ele ia em direção à câmera e dizia: “Eu vou pra galera!”. Ou aquela do Costinha, na qual ele puxava o microfone e dizia: “Uááááááááá!”.
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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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