“Poxa, a gente pode fazer música?” foi a pergunta que o pequeno Almério se fez quando ouviu uma vizinha tocar violão. Nascia ali, na cidade natal de Altinho (PE), o artista, que se mudaria aos 20 anos para Caruaru munido de sua “caixinha de sonhos”, para trabalhar numa banca de revistas. Hoje, aos 36 anos, ele vive entre essa cidade do agreste pernambucano e a capital do estado, Recife. Desempena, o segundo álbum do cantor, compositor e ator, nasce contemporâneo da morte do cearense Belchior, antigo compositor de canções sobre artistas nordestinos que migravam para o sul em busca do sucesso e do reconhecimento e tinham de ir dormir na rua.
“Eu consegui ter um alcance mesmo ficando no meu lugar”” comemora o artista, premiado em votação popular para arrebatar edital da gravadora/patrocinadora Natura Musical (que mantém Desempena disponível para download gratuito). “Isso é um movimento muito importante, que eu comungo muito com os meus parceiros musicais. A gente sempre está falando sobre isso, sobre como era bom que a gente pudesse também transformar aqui”, afirma o filho de muitos exílios nordestinos permanentes ou temporários, fosse o de Belchior, o dos tropicalistas ou, mais recentemente, o dos pernambucanos do manguebit.
Influenciada pelos aboios do avô na zona rural de Altinho e pelas bandas de pífanos de Caruaru, a música de Almério nasce com tonalidades modernas e tributária da, digamos, MPB heroica dos anos 1960 e 1970. Apadrinhado pelos pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo e pela paraibana Elba Ramalho (convidada especial na faixa “Do Avesso”), ele conheceu o Rio de Janeiro no mês passado, quando fez abertura para o show O Grande Encontro, dos três artistas nordestinos.
As canções pungentes e de sonoridade maior comunicam-se com as gerações nordestinas anteriores no que têm a dizer sobre o medo, sobre o amor, sobre o não-amor. É o caso de “Não Nasci pro Amor”, dos compositores contemporâneos Juliano Holanda e Martins, numa tradição que vem de Belchior e deságua no “Não Existe Amor em SP” (2011) do paulistano Criolo. “A música já começa dizendo ‘eu não sou do amor’, vixe, eu nunca escutei uma música que começasse assim. Aquilo já me despertou, não pensei em nada, fui tomado pela emoção”, ele explica.”Não diz respeito a mim, não, eu queria cantar isso para as pessoas. Acho que sou muito amoroso”, ri.
À tradição de medo e desamor vem se somar a tradição libertária de Ney Matogrosso, exposta no figurino de asas da capa do CD (já presente no álbum de estreia, Almério, de 2013) e do videoclipe da lancinante “Segredo”, de Isabela Moraes, sobre o amor entre dois homens e uma mulher, sob versos de medo (“esconder o medo/ é guardar-se da chuva no frio”) e de superação do medo (“tentou manter segredo/ mas o mundo viu”). No figurino da capa, uma recombinação entre Secos & Molhados, o “Pavão Mysteriozo” (1974) de Ednardo do Pessoal do Ceará e o personagem alado da telenovela Saramandaia (1976), Almério expõe uma personalidade polissexual ao mesmo tempo que resguarda o autor por trás do personagem por trás do autor.
O medo prevalece ao mesmo tempo que é enfrentado, assim como o pulso das diásporas oscila entre a migração e a permanência. Belchior e o Nordeste forte não morrerão enquanto cantarem por vozes novas como a de Almério.
Pedro Alexandre Sanches: Para começo de conversa, queria que você falasse das suas origens, tanto musicais quanto pessoais.
Almério: Origem musical, eu sempre me entendi, desde que nasci mesmo, como uma pessoa que veio com uma missão de fazer música e arte no mundo, desde pequeno. Fui entendendo isso ao longo da vida. Conheci Paula, uma vizinha minha que tocava violão. Quando ela me mostrou que fazia música, eu disse: “Poxa, a gente pode fazer música?”. Eu só ouvia na televisão e no rádio, e ela estava me mostrando música ali pertinho. Então comecei a compor muito cedo, com 13, 14 anos.
PAS: Isso é em Caruaru?
A: Em Altinho, que foi onde eu nasci. Nasci em Altinho, e Caruaru pariu o artista. E com doses muito fortes de MPB. A gente ficava escutando muita MPB, muita música brasileira. Depois fui para Caruaru e conheci as bandas de pífanos de Caruaru, os artistas de Caruaru. Trabalhava numa banca de revista. Um estúdio ficava em frente a essa banca de revista, então comecei a permear esse universo da música em Caruaru. E quando me deparei com a Banda de Pífanos de Caruaru, pensei “meu Deus, eu nunca ouvi um som desse antes na minha vida, nunca vi isso no mundo”. Era tão peculiar e tão poético. Fui me infiltrando nessa música de Caruaru, de Pernambuco. E sou essa parabólica louca, até hoje atento às coisas à minha volta.
PAS: E sobre a origem familiar? Quem são seus pais, de onde vieram?
A: Meus pais são da zona rural. Foram morar em Altinho, mas não tem ninguém ligado à música. A coisa da música veio dentro de mim mesmo. Não teve ninguém, nenhum incentivo. Só o meu irmão mais velho me incentivava. Esse universo rural, do mato, está muito dentro de mim. Sou muito brejeiro. Isso está muito aqui dentro. Cresci na fazenda dos meus avós. Cresci vendo meu avô aboiando, colocando toadas de manhã, colocando aboios de manhã. O jeito dele conduzir os animais da fazenda era aboiando, e eu fui aprendendo a aboiar com ele (faz sons de aboio). Isso me inspirava muito também. Ele subia a porteira e chamava todos os bichos aboiando. Aboiar é um canto, né? Essas coisas interioranas ficaram muito dentro de mim.
PAS: Como é a cidade de Altinho?
A: Altinho é uma cidade pacata. Quando eu morava lá, até uns 15 anos atrás, era uma cidade tranquila, como qualquer cidade do interior, mas não oferecia nada para minha arte. Era tudo em volta da prefeitura, todos os empregos. Não tinha apoio, o poder público não apoia a arte, não incentiva a cultura. Então tive que ir para Caruaru, para fazer música lá. Assim era minha cidade, que hoje está muito tomada pela violência, pela droga. Quando morei lá não havia espaço para fazer arte, então guardei tudo na minha caixinha de sonhos para abrir quando eu tivesse espaço, e foi em Caruaru.
PAS: Com que idade você foi para lá?
A: Cheguei em Caruaru com 20 anos.
PAS: Foi para estudar?
A: Não, eu fui para trabalhar. Trabalhava numa banca de revista no centro da cidade.
PAS: Você é ator também.
A: Aí entrei no teatro. Já fazia peças amadoras na escola, cantava, mas quando fui para Caruaru senti essa necessidade. Porque quando comecei a cantar nos bares, na noite de Caruaru, eu não me movia, não levantava nem uma mão. Eu não tinha gestual. Então entrei no teatro, passei num teste, entrei para me melhorar, para ter uma noção de espaço cênico, me melhorar como artista e cantor, que é o que eu sou. O ator ajudou muito o cantor.
PAS: Hoje você mora onde?
A: Hoje estou entre Caruaru e Recife, mais em Recife. Caruaru, na verdade, é onde está o brejo, onde vou fazer minhas trilhas, entrar em contato com a natureza. E Recife é para trabalhar. A gente está tentando levar meu novo disco para São Paulo, Rio. Abri o show do Grande Encontro mês passado, foi meu primeiro show no Rio. Foi maravilhoso, bem bonito. Nunca tinha ido no Rio, fui e já cantei.
PAS: Nas gerações anteriores de músicos do Nordeste, praticamente todos vinham para o sul para fazer sucesso. Sua história já é diferente dessa.
A: Eu consegui ter um alcance mesmo ficando no meu lugar. Isso é um movimento muito importante, que eu comungo muito com os meus parceiros musicais. A gente sempre está falando sobre isso: como era bom que a gente pudesse também transformar aqui, que tivesse um alcance maior para que os músicos das outras cidades também viessem para cá e tivessem espaço para fazer, esse intercâmbio. Todo mundo ganharia com isso, como ajudaria também centros culturais fortes como São Paulo, Rio. Pernambuco também é muito forte, mas precisa crescer mais. O Carnaval do Recife abriga uma quantidade de músicos maravilhosos, mas o ano todo devia ter mais atuações.
PAS: Falando do trabalho musical, já são dois discos. Sobre o que você canta e escreve?
A: O humano me interessa muito. Eu gosto de ficar olhando as pessoas na rua. Às vezes vejo uma pessoa com um olhar que vai dar no infinito, aquele olhar perdido. Quero saber onde é esse infinito, onde essa pessoa está, onde ela pretende chegar com aquele olhar. O humano me inspira muito. E as coisas pelas quais passamos todos os dias. As crises humanitárias me deixam muito abalado, a violência. Nós somos estimulados todos os dias por tragédias, truques, mentiras, coisas demais. Isso tudo me deixa muito triste, de saber que há um bloqueio no humano. Está todo mundo muito triste, muito sem saber para onde ir. Isso me deixa muito triste também. Mas minha sonoridade é mais terral, nos dois discos. Busco mais uma crueza, um som mais terral, dos tambores que extraí das bandas de pífano. Tento dar minha cara, desmembrar a banda de pífano e botar ali minha digital.
PAS: Você pode explicar o significado dessa palavra, terral?
A: Terral… É um som mais cru, mais direto, mais (pensa)… Sabe quando você sente seus pés no chão? Quando você bate, tem um som mais cru. É essa crueza que quero levar, de pé batendo no chão. Tanto que vem das forças também, da areia, da terra.
PAS: Talvez seja uma palavra nordestina, tinha uma música do Pessoal do Ceará (Ednardo, Rodger Rogério e Téti) chamada “Terral” (1973). Aqui a gente não ouve essa palavra, por isso perguntei.
A: É, e o terral vem das danças daqui, o xaxado, o coco. Comunga muito com a sonoridade que as bandas fazem, o som dos tambores da banda de pífanos, a alfaia, a zabumba. Quando canta coco, você sai batendo o pé no chão, feito sobre tambor. Tento levar esses sons para a sonoridade dos meus discos, essa cultura popular, só que dando as minhas intenções para isso.
PAS: O xaxado, o coco, essas variáveis todas não são tão imediatamente audíveis no seu som.
A: O coco, quando você coloca as tamancas, faz um som maravilhoso. Você tira o som do próprio pé. Tem muito a ver com a zabumba das bandas de pífano, um som seco, feito com as mãos. É muito mais terra que o próprio som do instrumento. A pele da zabumba tem que dar uma aprochada para não ficar tão aguda, para ficar mais gravona.
PAS: Acho que nem é de sua autoria, mas a canção “Não Nasci pro Amor” me faz pensar no Belchior, que perdemos outro dia. Ele tinha canções sobre não acreditar no amor…
A: Essa música é de Juliano Holanda, que é produtor do meu disco, com um jovem compositor daqui de Recife chamado Martins. Quando eles me mostraram, vou ser bem sincero, eu nem pensei em nada. Só que a música já começa (canta) “eu não sou do amor”, vixe, eu nunca escutei uma música que começasse assim. Aquilo já me despertou. Não pensei em nada, fui tomado pela emoção. Depois comecei a refletir sobre a música, sobre esses estímulos todos que sofremos todos os dias e nos fazem desacreditar mesmo do amor que a gente inventou. A gente inventou Deus, como inventou o amor. Quando você não acredita mais no amor, é uma desilusão, uma desilusão maior que uma desilusão amorosa – que também é, mas é uma desilusão humana, humanitária, existencial. Então tive vontade de cantar e mostrar essas músicas para as pessoas. Elas precisam ouvir essa música, ela começa muito forte.
PAS: Essa letra diz respeito ao Almério, ou não tem nada a ver?
A: Não. Ela não diz respeito, não. Eu queria cantar isso para as pessoas. Não tem, não, acho que sou muito amoroso (ri).
PAS: É curioso que esse tema tem voltado, o Criolo tem “Não Existe Amor em SP”, agora aparece essa.
A: Pois é. Eu gosto de cantar esse tema. Mas eu tenho muito amor pelas coisas, pelas coisas à minha volta, pelos elementos, pelas pessoas. Não é que eu não seja um ser que acredita, esperançoso com a humanidade, não é isso. Eu tenho amor pelas pessoas.
PAS: O amor que a gente acostumou a entender é uma invenção também. Não é ser contra o amor, mas talvez contra uma leitura sobre o que seja o amor?
A: Pronto, uma leitura, exatamente.
PAS: Se fosse resumir o que você canta, quais são seus temas mais caros?
A: Olha, poxa, acho que vou ser meio repetitivo, mas insisto, acho que eu gosto de melhorar o outro através da minha música. E chegar no outro. A música facilita muito isso. Me entendo como intérprete-compositor, mas o intérprete também é muito forte dentro de mim. Gosto de cantar o humano e tudo que o envolve.
PAS: Se fosse para você citar alguns nomes de artistas brasileiros, quem é referência para você? Quem te influencia? Essa pergunta é meio chata…
A: Eu gosto, eu gosto. Estou muito escutando as próprias músicas daqui, muito voltado para as produções daqui de Recife. A música pernambucana me agrada muito, Juliano Holanda, que é produtor do meu disco e é por isso mesmo que eu o escolhi, Geraldo Maia, que é um grande intérprete daqui, Martins, Isadora Melo, Mas também, poxa, não paro de escutar Caetano Veloso, ele sempre me surpreende. Acho os discos novos que ele tem feito maravilhosos. Gosto muito de Otto. Mas continuo me maravilhando com Adriana Calcanhotto. Às vezes revisito as obras do lado B do artista, volto para a obra de Alceu Valença, tenho me maravilhado com o disco Quadrafônico (1972), dele e Geraldo Azevedo. É incrível, a MPB psicodélica de Pernambuco. É um disco que me surpreende muito. Saio absorvendo. Escuto muita coisa. Não paro de escutar Cinema Paradiso, que é trilha de cinema, gosto demais.
PAS: O texto da Natura sobre o disco novo cita Ney Matogrosso e Elba Ramalho – ela também porque participa do disco, e ele como influência.
A: Elba é muito inspiradora para a gente, é uma flor psicodélica no meio do chão mais seco, da região mais seca, da cultura agrestina. Fico muito emocionado com tudo que ela conquistou. Ela é uma grande inspiração para mim, tanto no modo de cantar, que é muito dela, muito único, como na escolha do repertório e na força que tem no palco. E Ney nunca foi uma influência direta para mim. Ney influenciou todo o Brasil. Toda a fase de androginia que veio à tona foi por causa de Ney. Ele é o grande mestre. Mas depois que fui beber de outras fontes, bebi muito Ney nos 20 e poucos anos, nem como performer, mas mais como intérprete mesmo, de voz, o jeito de cantar. É um ser divino para mim, muito corajoso, muito inspirador. Tudo que ele fez vai soar por séculos, nos abriu muitas portas.
PAS: E na questão da androginia? A capa do disco faz lembrar.
A: Eu não sou muito livre, não tinha aquele universo de liberdade no palco. Eu não vestia figurinos. O teatro foi que me abriu essa coisa do gestual e do figurino. A primeira vez que fiz um show com figurino me senti muito poderoso. Me deu um entendimento de palco maior. Eu pude ser outro. Então cantei mais forte, fiquei mais forte, mais perto do público. Encarava mais o público, tive mais coragem, porque estava encouraçado, com um figurino que me deixava muito potente. Foi aí que me aproximei da coisa que o Ney fez. Foi muito natural, não foi querer o mesmo estilo, querer ser ele, não foi. Quando vesti o figurino, disse: “Gente, não sei se vou ter coragem”. Minha produtora disse: “Não, você nunca mais vai poder tirar esse figurino, vai ter que entrar com ele agora”, e me empurrou para o palco. Quando vi estava no palco, com figurino, com as asas. Caralho, o que é isso que eu estou sentindo? Foi uma coisa que me invadiu, muito forte. Aí não deixei mais, não consigo mais sair do figurino, que me faz ser livre no palco, fazer os movimentos que dançam com meu canto, contam uma história.
PAS: Foi curioso, você deve ter ouvido já, sua resposta foi exatamente igual à do Ney. É o que ele fala, que se fantasia entre aspas, ou veste figurinos diferentes porque acabam protegendo ele, que na realidade é muito tímido e diferente do personagem.
A: Caramba, eu nunca ouvi isso, lhe juro, que coisa linda. Que lindo, que foda.
PAS: Mas é o que você sente também? Você falou “encouraçado“, é uma palavra muito significativa. É uma proteção?
A: É uma proteção. Acho que, além da proteção, ela também me ajuda a contar esse show, essa história. Um show para mim é um livro cantado. Um disco para mim é um livro cantado. Então me ajuda a contar, a envolver o público, a me envolver com o show, com os músicos. E me dá um respeito. Quando chego de figurino nos lugares, por mais chamativo que ele seja, as pessoas param, têm respeito. Sei lá, eu fico invisível, o que é muito bom. É ótimo, eu adoro ficar invisível.
PAS: É isso que o Ney fala mesmo, o figurino tem esse significado.
A: É ótimo, porque quando a gente está invisível dá para sentir mais a vida, absorver mais da vida, das coisas, das pessoas. Não quero perder o contato com as pessoas. Faço meu trabalho, mas não quero, a arte para mim não pode ser só vaidade. Se for só vaidade para mim não tem sentido. Eu tenho que interferir em algumas coisas. Eu me entendo como missão no mundo, meu caso de amor é com a música.
PAS: Sem o figurino existe uma timidez? Ou não chega a ser por isso?
A: Uma timidez com o figurino?
PAS: Não, quando você não está com ele. O Almério original, digamos assim, é tímido ou não?
A: (Pensa.) Eu já fui muito, hoje não sou, não. Já fiz teatro. Sou na minha, respeito as pessoas, fico na minha. Tenho minhas patotas, gosto de farra, de ficar às vezes livrão, correr, deitar na grama, gritar para o mundo. Tenho meus acessos também. Não sou um homem tímido, não. Hoje mais não, já fui muito. Não sou, não. Sou um homem, sou na minha, respeito todo mundo, e pronto. Sei me comunicar com as pessoas, gosto de me comunicar. Olho nos olhos das pessoas, não sou um homem tímido, não. Mas já fui, já fui muito. O teatro foi que abrandou isso. Às vezes me amedronto com algumas coisas, mas não é timidez, é mais insegurança. Tenho minhas inseguranças, mas não sou um homem tímido, não. Com você eu estava meio inseguro.
PAS: Ah, para com isso… Ao vivo seria mais legal que por telefone, um dia vamos fazer.
A: Um dia a gente se encontra e se dá um abraço. Achei muito bonita sua declaração, fiquei muito emocionado. Mesmo não fazendo a correlação entre eu e Belchior, mas você me dar essa força através de suas palavras, que têm muita força também. Muito obrigado.
PAS: Que é isso, você mais que merece. Comecei a ouvir o disco naquele dia e cada dia gosto mais. É muito bom.
A: Que coisa boa, que coisa maravilhosa de escutar. Estamos tentando fechar dias 8 e 9 no Sesc Santana, está para confirmar.
PAS: Você nunca tocou aqui?
A: Nunca toquei em São Paulo. Participei de um musical de João Falcão, Gabriela, um Musical, e passei cinco meses aí. Me apresentei no Instituto Tomie Ohtake, fiquei cinco meses com 21 atores no palco, cantando Gabriela, um musical lindíssimo, com muitos números de música brasileira. Foi bem bonito, uma experiência única. Mas nunca fiz show em São Paulo, não. É meu sonho. Passei no Teatro de Arena, no lugar onde Elis Regina se apresentava, na praça Roosevelt. Tomei doses de uísque lá, muito emocionado, lembrando que Elis cantou ali, que Maria Bethânia cantou ali. Ah, já fiz tudo que todo mundo faz, fui na esquina em que Caetano compôs “Sampa”. Tenho muita vontade de abraçar São Paulo com meu canto. São Paulo é muito inspiradora, tive a sorte de conhecer através de Isabela Moraes, uma compositora que está fazendo shows por aí. Conheci uma São Paulo muito poética, muito bonita, mesmo sabendo de todas as dificuldades que ela tem. É uma cidade que precisa de remédios para dormir, mas uma cidade muito inspiradora.
PAS: E você acabou citando a referência de Elis, que não tinha citado antes.
A: Elis Regina, muito forte. Elis, Bethânia, acabei esquecendo de citar.
PAS: Foi porque falou só dos homens.
A: Foi. Elis, Cássia Eller, Bethânia. O jogo que elas fazem e fizeram é um jogo que eu gosto de fazer, um jogo cênico muito forte. Atinge diretamente, e é verdadeiro, não é mentiroso. Não gosto de tudo muito plástico. A música hoje em dia está muito plástica. Isso me incomoda. Tem coisas no meu disco que eu deixei, coisas que estão gritadas, mas deixa assim, está verdadeiro. Quero que seja assim. Não corrige, deixa assim.
Entrevista maravilhosa de Almério ! Que ele nunca perca essa autenticidade esse terral (como ele mesmo disse) e essa força, essa raça e essa poesia linda que ele busca e dispõe pras pessoas !