SAUDADES DO FREE JAZZ

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Monique Gardenberg, Zé Nogueira, Sylvia Gardenberg, Paulinho Albuquerque e Federica Boccardo nos tempos pioneiros do Free Jazz Festival
NO MESMO ANO DO ROCK IN RIO, FREE JAZZ FEZ HISTÓRIA

Há 30 anos, um festival de música internacional ousou trazer nomes pioneiros da eletrônica, emergentes do rock e lendas do jazz

As irmãs Sylvia e Monique Gardenberg culpam o amor: ambas namoravam músicos na época, Rique Pantoja e Zé Nogueira. Por causa deles, intensificaram o interesse pela música e rodaram o mundo produzindo shows de Djavan. Nesse tempo, conta Monique, ficaram fascinadas pelos novos talentos que despontavam no jazz dos anos 1980: Wynton Marsalis, Pat Metheny, Bobby McFerrin, David Sanborn, Stanley Jordan.

“Veio então o desejo de trazer essa gente toda pra tocar aqui. De outra forma, esses músicos demorariam décadas para chegar ao nosso país”, lembra Monique. De fato, é doideira pensar que a gente pôde ver Sarah Vaughan e Art Blakey no Anhembi, ou, na mesma noite, no Pacaembu, Chuck Berry e Little Richard.
Sylvia morreu em 1998, o festival transmutou-se, mudou de nome, mas festejou 30 anos esse ano com uma edição especial batizada como Brasiljazzfest, que teve mais de 20 mil espectadores. Monique lembrou em uma entrevistinha da trajetória do já lendário festival.

Quando surgiu o Free Jazz Festival, o que havia àquela altura? Qual era o cenário? Era muito difícil? Quais as dificuldades?

Havia uma fama ruim.  De não pagamento, de não devolução de equipamento, falta de profissionalismo generalizado.  Foi difícil refazer a imagem, resgatar a confiança no nosso mercado.  O Free Jazz e o Rock In Rio, nascidos no mesmo ano, foram responsáveis por esta virada.  Paulinho Albuquerque foi muito importante também neste sentido, porque era amigo de Quincy Jones e pudemos contar com a ajuda do consagrado produtor para nos recomendar a alguns agentes.  Outra peça fundamental foi John Philips, braço direito de George Wein, produtor dos maiores festivais de jazz dos Estados Unidos.  Ele nos deu o caminho das pedras.  Não tínhamos idéia de como chegar nos artistas, não havia internet, ainda operávamos via telex em 1985.  Pedimos os contatos dos artistas que queríamos convidar e ele respondeu: “Information is gold” (informação é ouro).  Nós replicamos:  “Friendship is more than gold” (amizade vale mais que ouro).  Mantemos contato até hoje.

Qual foi a primeira escalação do festival e como foi feita? Você sempre teve um grupo de curadores?

O festival nasceu com a curadoria e consultoria de Paulinho Albuquerque, Zuza Homem de Mello e Zé Nogueira.  Mais tarde, com a triste perda de Paulinho, seu filho Pedro o substituiu.  A curadoria do jazz sempre foi esta, desde 30 anos.  A primeira escalação?  Vou lembrar de alguns, mas Zuza Homem de Melo é que vai saber dizer com exatidão: Chet Baker, Moacir Santos, Joe Pass, Pat Metheny, Bobby Mc Ferrin, Toots Thielemans, Ernie Watts, entre outros. 

Qual você considera que foi o grande momento do Free Jazz, aquele que valeu a pena ter produzido?

O festival em si mudou a história do país.  Da nossa cultura e da nossa imagem.  Acredito na força motriz de um festival, na sua capacidade de despertar talentos e ambições nacionais.

Qual foi o maior público e o acontecimento memorável?

A característica do Free Jazz ou do Tim Festival era acontecer em locais menores, com toda intimidade e conforto.  Então, sua lotação não variava. A grande maioria dos shows lotava. Nossa lotação média ao longo do tempo foi de 94%.  A maior catarse para mim? Nina Simone, Brian Wilson, Chet Baker, Gil Evans Orquestra, Art Blakey, Stevie Wonder, Chuck Berry, Jeff Beck, Björk, Kraftwerk, Daft Punk, Aphex Twin e Philip Glass. Chuck Berry e Chet Baker deram muito trabalho, e Philip Glass se tornou um grande amigo.

O que a levou a deixar o festival de lado e investir em festivais de menor porte?

Nosso interesse permanece, mas depois que a Tim interrompeu o patrocínio, ainda não conseguimos uma empresa que pudesse retomar o formato total do festival. Festivais de fora passaram a se realizar no nosso país.  Então decidimos voltar às origens, começar de novo, com o jazz.  O jazz sempre foi o pilar de tudo. Mas não desistimos.

Você nota influência do Free Jazz e do Tim Festival nos festivais de hoje?

Sim. Mas o Free e o Tim festival eram plataformas de lançamentos de nomes que ainda eram inteiramente desconhecidos da grande mídia ou do grande público.  A confiança do público na programação artística do festival, que contava com a curadoria pop/rock/eletrônica de Hermano Vianna e Ronaldo Lemos, era tão grande que o fato de determinado grupo estar escalado para o festival já gerava uma curiosidade, um frisson.  Disso eu sinto falta.

 

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