Duas horas de filme, oito minutos de vida e por fim deixa para quem viu a dúvida:
Temer por saber a “Que Horas Ela Volta?” ou viver articulando a “Boa Esperança”.
Mais um filme bem feito, padrão Globo, que insiste em ridicularizar as opções que sobrou pra favela. Mostra o cachorro gordo e não esconde pulga atrás da orelha, deixando a dúvida:
Como vai ser o amanhã?
Repetimos o padrão de vida que eles querem, fumamos maconha junto deles, escondemos a maconha para protegê-los, e a vida toda eles fingem ser nossos amigos, mas se comportam como nossos donos!
Você já os convidou, e eles foram à sua casa para comer à sua mesa, sem que você sentisse vergonha?
Pouco antes das eleições de 2014, fui na casa de um cliente importante. Sua empregada, cozinheira e tudo mais tem toda a família no interior de Pernambuco e há mais de 20 anos trabalha para a mesma pessoa aqui em SP. Tem uma filha hoje com seus 18 anos e mora numa casa simples no Campo Limpo, casa essa comprada com empréstimo “dado” pelo seu patrão. Ela aparentemente tem ele em “boa cota”, porém, algo revelador aconteceu numa conversa nossa:
_ e aí, você vai votar em quem?
_ rsrsrs, não comenta aqui hein, mas é em Dilma… pra minha família lá no interior nem sei como faríamos se não fosse o Lula… mas pra eles digo que é no outro que eles sempre falam…
A Boa Esperança é acreditar que devemos trabalhar, ir até lá (casa deles) buscar o dinheiro deles, fazer com que aos poucos a gente fique tão perto que eles não saibam mas como agir sem nossa presença.
No final do filme, da Casé, o que gostei foi ver a empregada não explicar os reais motivos que fazem ela pedir as contas. Ela simplesmente fala do senso comum, “preciso cuidar da minha filha”. É assim que deve ser, não devemos ensinar a nos amar, isso deveria ser natural, não por troca do que precisam que façamos a eles.
É tipo moisés e os hebreus, pés no breu
Onde o inimigo é quem decide quando ofendeu
Muitos estão em casa tranquilos dizendo: o capital vai mandar na vida daquela família no dia seguinte, pois tem que pagar o aluguel, manter a filha na escola, criar uma criança sem pai. Sim, repetimos o processo danoso mais uma vez, porém temos um trunfo: não podem saber o tamanho de nosso ódio sem que a gente fale!
Aguarde cenas no próximo episódio
Cês diz que nosso pau é grande
Espera até ver nosso ódio
Pode ter faltado muito Machado de Assis pra nós, mas nos sobram orixás. A necessidade das coisas sempre vão existir, mas seremos protagonistas em novas formas de economia.
Eles não sabem que “arte é fazer parte, não ser dono”. Pensam que apenas o ser competitivo pode vencer neste mundo. Desconhecem que o ser colaborativo é quem sobrevive ao caos e que o mercado financeiro é uma coisa criada por eles, para que eles tivessem medo, para que acreditassem que o que vem de baixo não os atinge, mas o jogo mudou!
Por mais que você corra irmão
Pra sua guerra vão nem se lixar
Esse é o xis da questão
Já viu eles chorar pela cor do orixá?
E os camburão o que são?
Negreiros a retraficar
Favela ainda é senzala jão
Bomba-relógio prestes a estourar
Então, pra mim, saber que horas ela volta não importa, quero mesmo é focar na Boa Esperança!
(Texto publicado originalmente pelo autor, sob o título “Que horas ela volta, o caralho! Boa esperança, porra!“.)
Foda o clipe, hein? Pena que por mais que se esfregue na cara, tem gente que finge não ver os séculos de escravidão e ainda sai latindo besteira por aí…
O nome da menina é Domenica, não Domingas 🙂