O paraense Otto Ramos nasceu há 33 anos em Breves, na Ilha do Marajó, e se radicou aos 16 anos em Macapá, capital do Amapá. Neste ano de 2013, ele e seus companheiros têm R$ 400 mil em dinheiro público para gastar na sexta edição do festival Quebramar, que acontece neste fim-de-semana, a céu aberto e gratuitamente, à beira do rio Amazonas e ao pé da Fortaleza de São José de Macapá. Pelo palco colossal situado à frente de um grande descampado em forma de arena, passarão dezenas de atrações nortistas, além de alguns convidados do eixo sudeste, como Arnaldo Antunes e Emicida.
Do orçamento total, R$ 150 mil vêm do governo federal, via patrocínio direto da Petrobras. O governo estadual, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), comparece com R$ 80 mil. A prefeitura da capital, a única do país dirigida pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol), colabora com R$ 20 mil. Como se vê, ao menos nominalmente, Macapá e o Amapá são governados pela ponta progressista do nosso confuso arco político-ideológico.
A realização do Quebramar é do sistema Fora do Eixo (FdoE), em particular as Casas Fora do Eixo Amazônia (de Belém) e Macapá. Os números citados acima estão (ou era de supor que estivessem), mais do que nunca, sob fogo cerrado, já que o FdoE se converteu em inimigo número um do neoliberalismo cultural que ainda impera nas grandes corporações braZileiras de mídia – mas, paradoxalmente, também de muitas das dissidências progressistas que povoam a esfera virtual.
O FdoE é um dos nortes para o Quebramar e para Otto, mas nem de longe é o único – talvez nem mesmo seja o principal. Otto é músico nas bandas Minibox Lunar e Tem Deck?. É historiador não-formado e pesquisador apaixonado por arqueologia e pelas presenças norte-americana e nazista no Amapá da Segunda Guerra Mundial. É ex-integrante do Movimento Sem Terra (MST) em Belém, no qual dava aulas de história. Evidentemente ninguém faria afirmação diferente da seguinte, mas Otto garante que a prestação de contas do Quebramar aos patrocinadores será feita rigorosamente, alínea por alínea.
A engrenagem dos festivais
Não é mesmo uma conta simples, essa dos festivais. Pior que complexa, é uma conta que apenas raramente o jornalismo cultural conservador se interessa em divulgar. O dinheiro público investido aqui paga desde a entrada franca do público macapaense e a excelente infraestrutura de palco e som até o cachê de Arnaldo Antunes, passando por passagens, estadia e auxílio-alimentação para um jornalista vindo de São Paulo – eu. Neste ano, eu sou o único jornalista do eixo Rio-SP presente por aqui.
Parece um mecanismo incorreto, e é. Não sei se “grandes” veículos foram “convidados” para estar aqui, mas sei, desde meus tempos de repórter da Folha de São Paulo (1995-2004), que não interessa à mídia tradicional enviar seus profissionais para lugares tão, digamos, fora-de-rota. Para que eu viesse e escrevesse esta cobertura sobre o Quebramar, fui custeado pelo próprio festival – ou seja, por vias indiretas, pelo poder público federal, estadual, municipal. Eu poderia argumentar que, jornalista independente levando o FAROFAFÁ às próprias custas, não conseguiria bancar a jornada de outra maneira. É um argumento parcialmente verdadeiro, parcialmente falso.
Viajar “a convite do festival” (como o jargão das “grandes” redações costuma se safar da situação em que o hospedeiro paga a conta da “visita”) é um costume praticado sem pejo nem pudor pelo jornalismo nacional – e mundial. Na Folha, viajei inúmeras vezes dentro dessa matemática esquisitona, mesmo para entrevistar artistas nacionais que estivessem lançando seus novos discos em cidades diferentes daquela onde moro. Na maioria dos casos, quem pagava era a gravadora multinacional que mantinha o artista (e não o jornalista) sob contrato. Há diversos nomes para designar essas práticas, alguns deles tipicamente brasileiros (embora Hollywood seja pródiga na artimanha).
Festivais megalomaníacos como Rock in Rio e Lollapalooza (ambos fortemente ligados à Rede Globo) são o paraíso dos jornalistas culturais. Que o(a) leitor(a) que tenha em mente que, quando vê um repórter do Fantástico entrevistando um ídolo pop internacional in loco ou um crítico de jornal viajando “a convite” de um festival gringo ou (multi)nacional comercial, provavelmente o dono da festa estará pagando as despesas ou, no mínimo, rateando custos com a mídia que propagandeará o evento pelos quatro cantos.
De modo análogo, se você pensa que os R$ 400 mil investidos pelo poder público no Quebramar têm algo de especial, procure saber o alcance de mecanismos tipo Lei Rouanet, que injetam dinheiro público em troca de desconto de imposto de renda mesmo em eventos ultracomerciais e hiper-rentáveis como festivais pop gringos ou multinacionais. Dinheiro público brasileiro ajuda a irrigar a fortuna do seu roqueiro norte-americano favorito, mas os donos de mídia e os jornalistas culturais neoliberais não se zangam com isso, nem gostam de investigar essa parte obscura da geringonça do, digamos, entretenimento.
“Grande” mídia, Mídia Ninja, Quebramar
Mas voltemos a Otto, um dos carinhas (e moças) do Quebramar. Por dois anos, ele ocupou o cargo de presidente do Conselho Estadual de Cultura, com salário pago pelo estado – o conselho é paritário, e Otto entrou como representante da sociedade civil (a qual, portanto, ganhou a presidência de um conselho apto a definir distribuição de verbas para a cultura local). A dupla função o colocou na linha de tiro da crise aberta após a passagem dos fora-do-eixo Pablo Capilé e Bruno Torturra pelo programa Roda Viva, da TV estatal (tucana) paulista. Quase sempre esquecida da existência da Amazônia ou do Amapá, a Folha o entrevistou em busca de provas contundentes da promiscuidade entre festivais fora-do-eixo e poderes públicos tendentes à esquerda do espectro político.
No Roda Viva, a resposta de Capilé e Torturra à pergunta sobre o diálogo do grupo com os partidos políticos e a falta de diálogo com o PSDB certamente enfureceu os neoliberais (não só da cultura) de plantão e ajudou a aprofundar o fosso público-privado que se abriu aos pés do FdoE a partir das manifestações de junho e o advento da Mídia Ninja, coligada do sistema. Disseram que não dialogam com o PSDB porque o PSDB tem como política pétrea jamais dialogar com movimentos sociais (disseram PSDB, mas poderiam ter se referido a qualquer pessoa jurídica ou física de matiz conservadora, mesmo as situadas mais à esquerda, mesmo eventualmente petistas). A casa do Fora do Eixo começou a cair naquela segunda-feira na TV Cultura. Ou não.
Voltemos, mais uma vez, a Otto. Quem é ele? Filho de um frentista que ainda hoje trabalha como taxista e de uma dona-de-casa que participa da liderança evangélica da Assembleia de Deus em Macapá, Otto é um índio brasileiro. Na igreja (que mais tarde abandonou), aprendeu a tocar seus instrumentos de eleição, teclados e sintetizadores.
“A família da minha mãe tem origens indígenas misturadas com os portugueses que chegaram à Ilha do Marajó. A família do meu pai é ribeirinha. Estou mais para caboclo indígena que para negro. Digo que sou indígena, por manifesto mesmo”, afirma Otto.
O Quebramar se chama Quebramar porque é um outro nome para pororoca, ou seja, o encontro das águas do rio Amazonas com o oceano, a três horas de distância da capital (e da linha do Equador, onde a ministra Ana de Hollanda colocou um ovo em pé), de barco.
Otto vê o Quebramar como um Regatão cultural. Regatão? “Regatão é um supermercado ambulante, que funciona num barco que vai de capital a capital parando nas comunidades ribeirinhas”, explica. “É um processo histórico daqui, onde não só se vende como se troca mercadorias também, se troca camarão das ilhas por peixe da capital.”
Só aqui venho aprender o que é um minibox, nome que jamais vi em qualquer outra cidade – é o nome local dado às inúmeras mercearias de bairro que vendem um pouco de tudo. O Minibox Lunar é, portanto, uma mercearia lunar, lunática, de conexões tropicalistas, microamostra de uma macrocultura amazônica diversificada, em estado bruto e refinado.
Em seu primeiro dia na faculdade de história da Universidade Federal do Amapá (Unifap), Otto foi à aula vestido com uma farda de um tio policial militar, estilizada por ele com um emblema do Exército Zapatista. “Pensaram que eu era ligado às Farcs”, ri. Na Unifap, participou da criação de um grupo de inspiração anarquista, o Gelb, Grupo de Estudos Libertários Babilônia.
No Gelb, que logo passou a promover atividades culturais e shows na universidade, se conheceram vários dos companheiros e companheiras que mais adiante se tornariam o Fora do Eixo amapaense, por afinidade via internet com o grupo mato-grossense de Capilé, o Fora do Eixo. Não foram eles que entraram no FdoE, foi mais o contrário. O espelho narcisita pelo qual os FdoE passaram a se enxergar como salvadores da cultura braseira talvez seja a melhor das explicações de-dentro-para-fora para os apuros vividos pelo coletivo neste 2013.
As conexões com o poder público e com a sociedade
Egos à parte, a capilaridade com que a rede de afinidades se espraia é outro fator que desconcerta e enfurece opositores, principalmente aqueles que costumam proclamar aversão pela arte da política. Heluana Quintas, também integrante dos coletivos e do Minibox Lunar, é atualmente assessora do senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP). Há foras-do-eixo locais no governo estadual e no gabinete do prefeito Clécio Luís.
A crise pós-Roda Viva evidentemente abalou o sistema, inclusive na Casa Amapá. Otto conta que, na refrega local, foi acusado até de agressão física. Pergunto se a denúncia tem fundamento. Ele dá um sorriso cândido e desconsolado que parece significar que nunca bateu numa mosca.
O embate, no entanto, não enfraqueceu o movimento no Amapá, ao contrário. Eram dez integrantes antes do ataque especulativo, hoje são 23. “Se afastaram dois ou três guris de bandas, mas ganhamos quadros pra caralho nos últimos meses. Muita gente tem se aproximado da gente – gente idônea, politicamente idônea.” O FdoE se mistura e se interpenetra com movimentos de base social, a Federação Espírita local, grupos aficionados por anime e cosplay, agentes públicos que desenvolvem programas no sistema carcerário. Todo mundo é meio fora-do-eixo numa cidade como Macapá.
O caixa coletivo, banda larga, José Sarney
Os FdoE daqui tentam se dividir em dois grupos, segundo Otto: metade se dedica exclusivamente ao coletivo, metade se desdobra em outros empregos, seja nos governos, no Banco da Amazônia, na academia, na iniciativa privada. Os salários, ele diz, entram vão para o caixa coletivo da casa local, outro procedimento que escandalizou o Brasil do eixo (bancário). É de fato difícil, para nós que pertencemos ao antigo regime, compreender uma engrenagem que modifica o valor do dinheiro – mas Otto afirma, com convicção, que todos saem ganhando com isso.
A troca de experiências via internet ajudou a criar o atual cenário cultural local, mas paradoxalmente as conexôes virtuais são precárias e morosas aqui. Não existe banda larga no Amapá. Gasto com este texto certamente o triplo do que gastatria em São Paulo – é exasperante.
Pergunto o porquê do não-empenho dos poderes públicos em intgrar o estado ao país em termos informáticos, e Otto atribui o atraso e a demora a, adivinhe, José Sarney. Você há de se lembrar, o ex-presidente da República e líder maranhense do PMDB, aliado próximo de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, é senador eleito pelo… Amapá. “Não interessa ao Sarney que o Amapá tenha banda larga. O Plano Nacional de Banda Larga, do governo federal, vai construir um duto a partir do Ceará, mas está atrasado no Amapá”, descreve Otto.
O governador anterior do estado, Waldez Góes (PDT), pertencente ao círculo de Sarney, foi preso em 2010 na Operação Mãos Limpas, acusado de integrar uma quadrilha que teria desviado R$ 300 milhões de recursos para educação do estado e da união. Eleito na esteira das denúncias, o atual governador, Camilo Capiberibe, é filho de João Capiberibe, ex-exilado político, inimigo político de Sarney, ex-governador também cassado e atual senador amapaense. Camilo articula com a Oi, a Telebrás e a telefônica francesa Guyacom a chegada da fibra ótica ao estado via Guiana Francesa.
Manifestações de junho: um estado com tarifa zero
Se a internet rápida tarda a chegar ao Amapá, as manifestações de junho colocaram o estado na vanguarda em relação ao transporte público. O governo socialista acaba de anunciar que implantará o passe livre em todo o território. No calor de junho, Macapá reuniu 25 mil manifestantes nas ruas, com “direito” a bombas de gás e todo o aparato repressivo que se viu em outras cidades brasileliras – e também a repórteres-ninja trabalhando de dentro das trincheiras. “O Amapá nunca tinha visto 25 mil pessoas juntas nas ruas”, espanta-se Otto. Ele diz que o Quebramar, em seus melhores dias, chega a reunir de 8 mil a 10 mil espectadores.
A passagem de ônibus custava R$ 2,45 em Macapá, e não havia aumentado quando eclodiram os atos nacionais do Movimento Passe Livre (MPL). A pressão dos movimentos sociais fez o preço ser reduzido para R$ 2,10. Agora, se a promessa se cumprir, as tarifas descerão a zero neste estado de 735 mil habitantes, 437 mil deles vivendo na capital. É uma notícia que daria status de vanguarda ao Amapá e mereceria destaque nas cabeças de página da mídia nacional. Mas, mais uma vez, os veículos tradicionais de comunicação elegeram não chamar atenção para a novidade: alarde zero.
Trazido ao Conselho de Cultura por sua inserção junto a movimentos sociais orgânicos, Otto acabou por desempenhar papel de ponte nessas e em outras negociações. Ele diz uma frase que já ouvi de outras bocas por aqui: “Somos uma galera jovem que tem o telefone direto do governador e do prefeito”. E completa, dizendo-se até assustado com a rapidez com que o diálogo vem se estabelecendo: “É um gol quase feito”.
Essa sensação descrita por Otto me acompanha desde que cheguei a Macapá. Aqui parece haver menos degraus separando atores dos governos, dos movimentos sociais, da comunidade cultural, das religiões, dos cidadãos “comuns”, da penitenciária.
Nosso passado circense também me vem constantemente à cabeça: Otto e diversas outras pessoas que conheço aqui atuam em muitas posições simultaneamente: alternam-se nas posições de equilibristas, roteiristas do espetáculo, músicos da bandinha, bilheteiros, pipoqueiros, palhaços, carregadores de caixas e assim por diante.
Música, Roskilde, cachês, moedas solidárias
De todos os assuntos afins, o que Otto demora mais a abordar é a música. Quando provocado, demonstra orgulho em observar que o Minibox Lunar só não tocou em dois estados do Brasil. Carlos Eduardo Miranda, homem-ponte entre o SBT, o programa Ídolos e o circuito indie nacional, aguarda (com impaciência, ao que parece) para produzir o primeiro álbum da banda.
O Minibox já recusou, entre outros, cinco convites para se apresentar no canal Multishow, um para o festival dinamarquês Roskilde e um para o indiano NH7. A resistência exaspera fãs e profissionais do showbiz brasileiro, que não compreendem a falta de pressa da banda.
Por que a falta de pressa, Otto? Ele esfrega os dedos em gesto de $$$: “Faltou grana”. Os festivais mundiais, os mesmos que levam jornalistas globais para coberturas glamurosas, nem sempre se empenham em investir em bandas menos conhecidas, periféricas, terceiro-mundistas. “O Multishow não paga passagens, não paga hospedagem, como vamos fazer?”, indaga Otto.
Chegamos a outro ponto cego das diversas polêmicas culturais recentes: o ódio que alguns músicos brasileios jovens (ou não tão jovens) devotam aos circuitos de festivais independentes por conta das práticas mambembes de (não) pagamento de cachês. A rritação, curiosamente, não se reproduz quando cubocard ou outra “moeda solidária” é oferecido pelos canais da Rede Globo ou por um festival comercial milionário.
O que Otto está dizendo, noutras palavras, é que o sistemão glamuroso pratica o mesmo que os primos mais pobres – e não vira alvo de chiadeira, choramingo ou crítica demolidora. Na contracorrente da pororoca nacional, Otto coloca sua(s) banda(s) em risco ao denunciar uma ratoeira cultural que parte de cima para baixo, e não o inverso. Estariam porventura jornalistas como Alvaro Pereira Jr., da Globo e da Folha, encaçapando indiretamente recursos que poderiam ir para bandas brasileiras “pequenas”, daquelas lunáticas que sentem mais gosto em tocar para suas próprias plateias que para o decadente showbiz (inter)nacional?
Otto agora lhe causará um ataque de fúria, se você estiver plenamente alinhado(a) com as balelas infantiloides que o jornalismo cultural gosta de contar. O celebrado Minibox Lunar não é prioridade absoluta para ele. “Vai gerar muito mais aflição em mim se não conseguir consolidar isto aqui”, diz, referindo-se ao Quebramar. “É muito mais inteligente investir num processo que numa carreira artística. Se eu sei negociar com a produtora chiliquenta de um artista que não quer vir para cá com passagem de programa de milhagem, como não vou saber negociar meu próprio disco, quando chegar a hora?”
E prossegue, cutucando o tutano da lobotomia cultural: “Imagine se a gente fosse só uma banda. Não existiria o Quebramar. O Minibox não teria tocado seis vezes em São Paulo num ano. A militância me dá tanto tesão quanto estar num palco tocando. Nossa força está na militância”.
O papo da música o leva de volta ao papo da política, por um ângulo divberso do que poderíamos esperar: “É difícil explicar isto ao governador e à primeira-dama quando recusamos convites deles, mas no dia em que eu me pintar de amarelo PSB, acabou a minha força. O (assessor do governo) Wendel Rodrigues está perto de nós para monitorar a gente, para ver se somos perigosos e para tentar decodificar o que está acontecendo – mas ele era o livreiro da faculdade, com quem eu encomendava livros sobre a Revolução Mexicana. Não é um poder de polícia que eles exercem sobre nós”.
Extrativismo mineral, pororoca, Quebramar
Fecha-se o ciclo. O Quebramar vai a pleno vapor, afora algumas quedas de energia que afetam a orla do rio Amazonas. No primeiro dia, os metaleiros da Amazônia tomaram conta da programação, com destaque para as bandas amapaenses Profétika, Amatribo, Morrigam, Sangria e Matita Perera. Os índios daqui dançam ao som tribal globalizado do heavy metal.
A programação segue por mais dois dias. Neste ano não haverá Minibox Lunar nem outras bandas cujos integrantes participem também do coletivo. Otto não diz, mas parece evidente que a patrulha neoliberal logrou êxito em roubar o papel artístico do pessoal que carrega caixa e faz tudo no circo pós-tudo. Mesmo assim, são muitas as bandas locais, das quais o Brasil nunca ouviu nem parece querer ouvir falar.
Assim estão sendo gastos os R$ 400 mil, que poderiam ser empregados na roda-gigante dos sócios Lollapalooza e Globo, mas estão sendo destinados a atender público amapaense com cultura amapaense, amazônica e brasileira. Certamente é bem menos do que o estado merece, como demonstram os navios que não param de sair da foz do Amazonas para o exterior, carregados dos minérios em que o solo local é rico, rico, riquíssimo. A mecânica predatória a que fomos acostumados desde 1500 costuma funcionar pelas mesmas artimanhas, seja em política, minério, petróleo ou cultura.