JAMES CHANCE ELETRIZA SÃO JOÃO COM MISTURA DE PUNK E JAZZ
Banda Les Contortions foi a antítese da festa compulsória: faz música contundente e ainda moderna
     
       Com um physique du role de um garçom do Filé do Moraes, o norte-americano James Chance e sua banda
francofônica Les Contortions mostraram que a matriz do punk rock não esteve somente na negação, mas também na invenção. Chance berra como Sid Vicious e toca saxofone como Ornette Coleman, e o senso de improvisação do jazz se ancora numa investidura violenta de guitarras, teclados e principalmente saxofones, dois.
       Chance já é um veterano, está com 60 anos. Fala pouco e parece que caiu de um OVNI, com seu visual de rockabilly de filme do Coppola. Criou seu grupo em 1977, tornando-se um dos emblemas da chamada geração “no wave”, precursora do punk rock. Chance (também conhecido como James White e James Siegfried), veio de Milwaukee para Nova York em meados dos anos 1970 e fez história.
      Seu grupo teve seu protótipo no pioneiro Teenage Jesus and the Jerks (com Lydia Lunch), que depois virou The Contortions. Na avenida São João, frente a um público que parecia ter ouvido falar dele como entidade mitológica, mas nunca o tinha visto em cena, ele fez marra, trocou de paletós no meio do show, dançou nervosamente com seu topete Johnny Cash, chamou ao palco para dançar uma veterana parceira de rebeldia, e mostrou o que significava aquele epíteto de “encontro de Ornette Coleman com James Brown e o free jazz punk”. 
  
         No meio do repertório de clássicos de sua banda, como Down and Dirty, ele incluiu uma fenomenal cover 
de Gil Scott-Heron, Home is Where The Hatred Is (do seminal disco Revolution Will Not be Televised). O som de Chance é agressivo e assimétrico, não é um som primal como o de seus companheiros de geração. Fazia-se acompanhar de uma banda de improvisadores natos, Les Contortions, que ele parece ter reunido durante uma temporada francesa. Se formos falar agora em mérito artístico, para mim James Chance and Les Contortions foi uma das boas coisas da Virada Cultural.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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