“Arrocha”, de Curumin, e “Treme”, de Gaby Amarantos, são os dois discos que simbolizam o fértil ano de 2012 com ótimos lançamentos para a música brasileira

Bem, a lista de melhores músicas brasileiras do ano já trazia indicações de quais discos ficariam entre os bonzões: as estreias de Gaby Amarantos, Los Sebosos Postizos, Maga Bo, OQuadro e Alvinho Lancelotti, e ainda Curumin, Tulipa Ruiz, Lucas Santtana, Letuce, Gui Amabis, Siba e BNegão & Os Seletores de Frequência. Discos fortes, variados, alegres, melancólicos e, acima de tudo, repletos de ótimas músicas. Mas acho que dois discos resumiriam o ano pra mim: “Arrocha”, o terceiro do paulistano Curumin, e “Treme”, a estreia de Gaby Amarantos.

“Arrocha” por seus cruzamentos surpreendentes e orgânicos do batuque afro-brasileiro com música eletrônica, e sem jamais esquecer a necessidade por canções, refrões, pegada, balanço, amor, experiências. e por músicas como “Afoxoque”, “Selvage”, “Passarinho”, “Treme terra”, “Paris Vila Matilde”, “Doce” e “Pra nunca mais”, além da regravação linda de “vestida de prata” (paulinho boca de cantor, 1981) e da parceria com Russo Passapusso (Baiana System).

“Treme” por suas gigantescas possibilidades pop. Gaby Amarantos conseguiu um feito raro no brasil, pois é, ao mesmo tempo, hype e popularíssima (claro que isso não dura muito). Seu disco de estreia, que começou a ser lançado no final de 2011 com o clipe de “Xirley”, reúne Fernanda Takai e Dona Onete, Thalma de Freitas e Zezé Di Camargo & Luciano, Zé Cafofinho e Veloso Dias, Kraftwerk e Gang do Eletro, todo um tsunami de altas e baixas culturas. Ah, se um pedacinho da música pop mundial tivesse tanta informação como nas músicas cantadas por Gaby… Exemplos não faltam, vide “Merengue latino”, “Eira”, “Gemendo”, “Pimenta com sal”, “Mestiça”, “Coração está em pedaços”, “Ex mai love”, “Galera da laje” e “Chuva”.

No mais, segue a lista completa:

Alvinho Lancelotti (“O Tempo Faz A Gente Ter Esses Encantos”)
BNegão & Os Seletores De Frequência (“Sintoniza Lá”)
Caetano Veloso (“Abraçaço”)
Café Preto (“Café Preto”)
Céu (“Caravana Sereia Bloom”)
Curumin (“Arrocha”)
Dona Onete (“Feitiço Caboclo”)
Dudu Tsuda (“Le Son Par Lui Même”)
Gaby Amarantos (“Treme”)
Gui Amabis (“Trabalhos Carnívoros”)
Hurtmold (“Mils Crianças”)
Improvisado Trio (“Interferências”)
Juçara Marçal, Thiago França & Kiko Dinucci (“Metal Metal”)
Letuce (“Manja Perene”)
Los Sebosos Postizos (“Interpretam Jorge Ben Jor”)
Lucas Santtana (“O Deus Que Devasta Mas Também Cura”)
Maga Bo (“Quilombo Do Futuro”)
Nina Becker & Marcelo Callado (“Gambito Budapeste”)
OQuadro (“OQuadro”)
Otto (“The Moon 1111”)
Paulo Carvalho (“O Amor É Uma Religião”)
Rodrigo Campos (“Bahia Fantástica”)
Sambanzo (“Etiópia”)
Shaw (“Orquestra Simbólica”)
Siba (“Avante”)
Silva (“Claridão”)
Síntese (“Sem Cortesia”)
Thiago Pethit (“Estrela Decadente”)
Tom Zé (“Tropicalismo Lixo Lógico”)
Tulipa Ruiz (“Tudo Tanto”)

Dessa lista gostaria de destacar ainda os excelentes e densos discos de rap do carioca-paulistano MC Shaw (Orquestra Simbólica) e dos paulistas do Síntese (sem cortesia, e ah, paulistas de São José dos Campos), bem como os novos trabalhos de uma turma muito produtiva de São Paulo, Bahia Fantástica de Rodrigo Campos e Metal Metal, do Trio Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França. Este último, saxofonista da banda do Criolo, também lançou o belo instrumental etiópia sob o pseudônimo “Sambanzo” (Dinucci incluso). Falando em instrumental, uma ótima surpresa foi “Interferências”, disco de estreia do Improvisado Trio (Marcelo Castilha, Meno Del Picchia e Pedro Ito). E pra finalizar, outras três estreias muito felizes, Café Preto (projeto adubado de Cannibal do Devotos do Ódio), Claridão (do capixaba indie Silva) e Le Son Par Lui Même (o multifacetado primeiro solo de Dudu Tsuda, que foi Jumbo Elektro, Cérebro Eletrônico, Trash Pour 4, etc). Detalhe: os últimos discos a entrar na lista, tipo 43 do segundo tempo, foram “Abraçaço” de Caetano Veloso e o extraordinário “Mils crianças” do Hurtmold.

MENÇÃO HONROSA
Não tem como não falar de alguns ótimos tributos/coletâneas lançados no ano, destacando primeiro os que foram produzidos de forma independente, tais como o duplo “Re-trato Los Hermanos” (com Bárbara Eugênia, Cícero, Dan Nakagawa, Hidrocor, Lula Queiroga, Érika Machado, Nevilton, Do Amor, Velhas Virgens, Tibério Azul, Banda Gentileza, Nervoso & Os Calmantes, etc), o variadão brasileiros (com Pélico cantando Cartola, Mahmundi de Rita Lee, Bazar Pamplona de Dorival Caymmi, etc) e o muito excelente “Jeito Felindie” (tributo ao Raça Negra com Lulina, Amplexos, Letuce, Vivian Benford, Harmada, Minha Pequena Soundsystem, etc). Menções honrosas também para o multinacional “A tribute do Caetano Veloso (com Beck, Chrissie Hynde, Seu Jorge, Marcelo Camelo, Jorge Drexler, Céu, Qinho, Momo, Tulipa Ruiz, Mariana Aydar, etc) e o projeto transglobal paraense “Terruá Pará Vols. 1 e 2” (com Gang do Eletro, Gaby Amarantos, mestres da guitarrada, Lia Sophia, Dona Onete, Pio Lobato, Metaleiras da Amazônia, etc.)

TEM MAIS SAMBA
Nem preciso dizer que rolou muito mais coisa, portanto não custa nada mencionar outros discos interessantes/divertidos/desafiadores lançados neste ano e que passaram pelos ouvidos da casa. Alguns emplacaram músicas entre as melhores do ano, mas acabaram não entrando na lista principal de discos. Então, se não ouviu, ouça A Banda Dos Corações Partidos (“A Banda Dos Corações Partidos EP”), Abayomy Afrobeat Orquestra (“Abayomy Afrobeat Orquestra”), Afroelectro (“Afroelectro”), Aíla (“Trelelê”), Amplexos (“A Música Da Alma”), Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra & Toumani Diabaté (“A Curva Da Cintura”), Banda Uó (“Motel”), Beto Mejía (“Abraço”), Bonde Do Rolê (“Tropical/Bacanal”), Caio Bosco (“Caio Bosco”), Domenico & João Brasil (“Taksi EP”), Doo Doo Doo (“Casa Das Macacas”), Filarmônica De Pasárgada (“O Hábito Da Força”), Flow MC (“Sensaflownal”), Fóssil (“Mocumentário”), Holger (“Ilhabela”), Jair Naves (“E Você Se Sente Numa Cela Escura…”), Kamau (“… Entre”), Laura Wrona (“R.H. Volcano”), Madrid (“Madrid”), Mahmundi (“Efeito Das Cores EP”), Mão De Oito (“Um Dia Que Já Vem”), Márcia Castro (“De Pés No Chão”), Marginals (“Marginals 2”), Marina De La Riva (“Idílio”), Mr. Catra (“Com Todo Respeito Ao Samba”), O Terno (“66”), Orquestra Contemporânea De Olinda (“Pra Ficar”), Orquestra Imperial (“Fazendo As Pazes Com O Swing”), Pentágono (“Manhã”), Psilosamples (“Mental Surf”), Qinho (“O Tempo Soa”), Rafael Castro (“Lembra?”), Rogerman (“O Caminho Do Lobo”), Sasquat (“Alfazema”), Ska Maria Pastora (“As Margens Do Rio Doce”), Sobre A Máquina (“Sobre A Máquina”), Sonic Junior (“Inspire”), Tatá Aeroplano (“Tatá Aeroplano”), Trupe Chá De Boldo (“Nave Manha”), Volver (“Próxima Estação”) E Zélia Duncan (“Tudo Esclarecido – Músicas De Itamar Assumpção”).

* FAROFAFÁ republica a lista do nosso colaborador Dafne Sampaio, do blog Esforçado, reconhecendo que ele é um dos jornalistas culturais que leva a sério a palavra democracia

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1 COMENTÁRIO

  1. Boa tarde.
    Só gostaria de registrar um ponto, precisamente sobre a Gaby. Não é o primeiro cd da mesma, e sim, talvez, + importante, é o seu descubrimento, tardio, em relação a cutura de outros brasis, posto que, grande parte de país vive de costa, infelizmente.

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