A nova associação da música independente

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Grupo dos 17 cria a FBA (Festivais Brasileiros Associados), que congrega alguns dos maiores eventos musicais realizados em 5 regiões brasileiras e com representantes em 10 Estados

Mais de 50 artistas se reuniram no palco da 18ª edição do Goiânia Noise Festival, que ocorreu no último fim de semana, mas a maior atração ficou reservada para os bastidores. No sábado dia 10, foi anunciada a criação da FBA, sigla para Festivais Brasileiros Associados. Abril Pro Rock, Porão do Rock, Goiânia Noise, Rec Beat, MADA e mais uma dúzia de outros festivais, que haviam formado o “Grupo dos 17”, decidiram fundar a nova associação, um filhote desgarrado da Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes), que foi desintegrada em dezembro de 2011. Em julho, a Abrafin deixou de existir com a criação da Rede Brasil de Festivais, constituída de seis circuitos regionais, todos eles ligados organicamente com o Fora do Eixo. Restava ao Grupo dos 17 criar sua própria associação. Vinicius Lemos, produtor cultural e responsável pelo Festival Casarão, em Porto Velho, fala em nome da FBA, ocupando o cargo de vice-presidente (Paulo André, do Abril Pro Rock, é o presidente). Ele lamenta a perda do nome “Abrafin”, que representava não só aos festivais dissidentes, mas toda uma rede que fez história para a música independente brasileira.

Eduardo Nunomura: O que é e o que não é a entidade Festivais Brasileiros Associados (FBA)?
Vinícius Lemos: A FBA é uma associação de festivais. Bem claro. Vamos lutar por um circuito de festivais, pelo fortalecimento, pela sustentabilidade, pelas políticas públicas diretas para festivais, pelo olhar da iniciativa privada para os festivais. O critério aqui é a defesa mesmo dos festivais, se fortalecer em bloco, negociar em bloco, funcionarmos com o próprio nome diz, uma associação. Outras ações políticas no ramo cultural/musical também nos interessa, assim como interessou no passado, mas primeiramente, os festivais precisam de fortalecimento, de conseguir sustentabilidade.

EN: Como vai funcionar na prática a organização da FBA? Como será o modelo de gestão?
VL: A organização é de uma associação. Temos diretoria, presidência, vice-presidência, tesoureiro e secretario geral. Formalizamos a entidade, temos o nosso CNPJ. Essa é a nossa organização. Como modelo de gestão é o modelo de qualquer associação. No campo de ideias, vamos procurar assessorar mais os festivais, angariar mais verba, terceirizar mais o serviço, captação, imprensa, estrutura. Vamos buscar parceiros de médio e longo prazo na iniciativa privada.

EN: A FBA foi formada com 17 festivais das cinco regiões brasileiras. É um clube fechado ou ele está aberto à entrada de novos festivais?
VL: Não é um clube fechado. Quem tiver interesse em participar, pode nos procurar, temos a pagina no facebook/festivaisbrasileiros, tem o meu contato. Mas tem regras. Continuamos a achar que três anos de maturação, de produção e de afirmação local é importante. O requisito para participar é ter três edições. O interesse aqui é comprometimento com a cena, com o seu próprio trabalho. Como podemos ver o perfil da associação, dos associados, quase todos os festivais tem quase 10 anos ou mais. Queremos algo continuo, não algo que desapareça depois de amanhã. O fenômeno hoje é que se tem um festival, de uma edição, participa de tudo, cresce, daqui uns 2 ou 3 anos, o cara para de fazer, seja porque não tem mais pique ou qualquer outro motivo. A associação pensa a médio longo prazo, então nada mais justo que se associem pessoas do mesmo perfil.

EN: A partir da criação da FBA, o que o público pode esperar de novidades nos próximos festivais desse grupo?
VL: O fortalecimento dos festivais. Esse ano de 2012/2013 teremos muitos festivais e a nossa exposição a partir de agora, deve render bons frutos. Vamos fazer festivais mais consistentes, com isso, atendendo melhor ao público. Claro que qualquer ação em termos de captação, patrocínio, linha de crédito, editais e políticas públicas demoram para ver o resultado, mas o espírito do grupo, a negociação em bloco, o mostrar a cara da FBA deu novo ânimo a todos os festivais que virão bem melhores, com mais qualidade, desde a curadoria que todos têm total autonomia a qualidade de estrutura.

EN: Já dá para antecipar como funcionará o intercâmbio de artistas entre os festivais associados?
VL: Não teremos uma política de intercâmbio de festivais, mas teremos projetos em nome da associação, ações conjuntas, tour de bandas gringas ou fortalecimento de bandas com destaque (lançamento de CD/tour). Isso não num primeiro momento, mas é algo que queremos fazer. Vamos tentar sempre viabilizar um festival trazendo bandas e colocar em circulação em volta do festival, com cidades e datas próximas. Vamos priorizar artistas de qualidade, independente do vinculo, de outros vínculos.

Foto histórica com Guilherme Batista Pereira (Monstro Discos), Paulo André (Abril Pro Rock), Gustavo Sá (Porão do Rock), Leo Bigode (Monstro Discos), Antonio Gutierrez (Rec Beat) e Pedro de Luna (Arariboia Rock)
EN: Num dos primeiros posicionamentos do Paulo André como primeiro presidente da associação, ele afirmou que “o câncer do mercado fonográfico brasileiro é o rádio”. De que maneira a FBA vai tentar romper esse tipo de lógica do mercado?
VL: Esse é o nosso calcanhar de Aquiles, cada vez mais bandas médias brasileiras que já rondaram todos os festivais têm dificuldade em dar o próximo passo, a conquista do público em geral. Temos que trabalhar para criar esse novo patamar, para melhorar as próprias bandas. Qual banda subiu para o patamar de cima nos últimos 10 anos com qualidade? É um objetivo a ocupação de espaços, seja em rádio, seja em realidades locais e ainda com ampliação dos festivais.

EN: Antigos membros da Abrafin, com quem vocês romperam no fim do ano passado, recriaram a instituição com o nome de Rede Brasil de Festivais. Como vêm até agora o trabalho dessa rede e em que medida vocês se diferenciam deles?
VL: O nome Abrafin trouxe uma ressignificação da música independente de 2005 pra cá e acabou, se perdeu, foi substituída. Eu acho uma pena. O trabalho deles cada vez vira mais local, menos nacional, mas não tenho muitas informações ou busco dados pra saber se esse é mesmo o foco. Então, eu desejo sempre boa sorte a todos, a vitoria de um cria portas para outros, sejam próximos ou não. O que me deixa triste é deixar pra trás o nome Abrafin para uma rede que ainda não consegue representar politicamente, socialmente e culturalmente o impacto que fora a Abrafin.


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4 COMENTÁRIOS

    • Oi, Lúcio, podemos já fazer uma avaliação sobre algo que está começando? Se a opção, pós-ruptura e formação de uma dissidência, é entrar nos velhos vícios (dos kibes e das cervejas, adorei!), vai ser um tiro no pé, não acha? Se há algo de bom nessa história toda de Grupo dos 17 x Fora do Eixo, é que os personagens agora estão mais claros e com opiniões distintas.

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