BOND

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javier bardem como o vilão raoul silva, em “skyfall”, o novo filme de 007

nunca em minha vida eu deixei de ver um filme de james bond.

vi todos: os ruins, os péssimos e os legais.
os legais foram bacanas mais por serem “camp” do que por serem engenhosos.

fomos ontem ver “skyfall”, o mais recente.

é o melhor com esse cara, daniel craig, que acho péssimo.
tem uma amosfera hitchcockiana, retrô, que o torna plasticamente muito bonito.

é um daqueles filmes que parecem um joguinho para cinéfilos, no qual o joguinho é até mais importante do que o resto. ou seja: dá para se divertir nele.

a primeira diversão é encontrar dentro do filme os outros filmes que são citados pelo diretor, sam mendes,

na profusão de cenas de ação. eu encontrei “o exterminador do futuro” (na cena em que 007 tira estilhaços de bala do peito com uma faca, como se fosse um autômato); encontrei “hannibal, the cannibal”, na cena em que o vilão fica preso numa gaiola de vidro; encontrei “intriga internacional”, na cena em que o aston martin de james bond é metralhado por outro engenho aéreo; encontrei um certo clima de “adeus lênin” na cena acima, na cabeça da estátua gigante decapitada num mundo onde as ideologias estão em escombros e só se afirma o cínico que sabe blefar na web – esse é o perfil do vilão, encarnado com sarcasmo por bardem.

o componente bíblico-psicanalítico me pareceu muito pouco interessante, embora forneça a espinha dorsal: são dois “irmãos” que se odeiam, um quer matar a mãe para se libertar, outro quer voltar ao útero para que sua vida prossiga. a “mãe” se viu a vida toda na encruzilhada de escolher sempre o sacrifício de um filho para que todos os outros sobrevivam.

não deu para chafurdar mais porque tínhamos de sair correndo para a moqueca de domingo.

e, no caminho, ainda acabou a gasolina do fusca na frente do spot, e tive de andar 8 quadras para conseguir um saquinho de gasolina de socorro.

talvez eu volte a esse james bond para ver o que mais perdi.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter desde 1986 e escritor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019), Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021) e O Último Pau de Arara (Grafatório, 2021)

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