Radicada em São Paulo para fugir da lógica do mercado voltada só para a axé music, a baiana Marcia Castro fala de seu segundo álbum, “De Pés no Chão”

Marcia Castro parece estar perdida, como todos nós. Num bate-papo franco e descontraído com amigos e fãs, a artista baiana que migrou para São Paulo para um dia poder voltar reconhecida a Salvador fez confidências que merecem uma reflexão. O que um artista deve esperar de sua carreira em tempos de internet, redes sociais e, de forma oposta, de desfacelamento da indústria cultural tal como a conhecíamos? Faz diferença gravar um disco para um, dez ou um milhão de pessoas? Produzir um álbum para virar um hit de novela ou estar entre os cinco ou seis popstars eleitos por uma gravadora são fórmulas do sucesso? Esse modelo não existe mais, disse a cantora.
“Existe uma certa confusão do que a gente quer falar. É como se não soubéssemos mais o que falar. Não só os artistas, mas o público em geral”, afirmou ela, ao participar do evento 100 Hangouts, do Google +. Dezenas de artistas e celebridades foram convidados pela gigante do mundo digital para promover a ferramenta que, até agora, não disse a que veio – qualquer comparação com o Facebook é tolice. Cerca de 15 pessoas participaram ativamente do bate-papo com Marcia Castro, mas, como ela mesmo disse, pouco importa esse número.
A artista falou de seu segundo álbum, “De Pés no Chão”, recém-lançado, que traz suas interpretações para músicas dos Novos Baianos, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Rita Lee, Tom Zé, Gilberto Gil, entre outros. Um fã, no Hangout, perguntou então a ela se, de alguma forma, a mídia influenciou na produção do disco. “Influência zero. Não tive uma preocupação mercadológica, não tive porque não acredito nisso. Ainda mais nesse tempo onde não existe uma regra, um modelo, de como fazer uma música para fazê-la estourar. Tudo o que existia como modelo foi derrubado, o modelo é o não-modelo.”
Daí Marcia Castro discorreu, rapidamente, sobre a indústria do jabá, de pegar uma música e incessá-la artificiosamente nas rádios por meio de pagamentos, e resumiu: “Esse modelo precisa de muito dinheiro e esse dinheiro não existe mais. O artista que acredita nisso está fadado ao fracasso.” Ela lembrou, então, do rapper Criolo, que está a milanos na estrada e só agora a mídia começa a falar dele como se tivesse descoberto a última coca-cola do deserto. Para ela, a internet e as redes sociais são alguns dos vários caminhos que surgiram para fazer um artista chegar ao seu objetivo. “São as gravadoras que estão indo atrás do que está bombando.”

No domingo, a revista Muito, suplemento do jornal “A Tarde”, de Salvador, entrevistou Gilberto Gil, que disse que Marcia Castro é uma das melhores referências da nova música baiana, ao que ela devolveu citando outros tantos que estão longe do circuito axé, a lógica do mercado que ainda impera em Salvador – e, particularmente, a fez se mudar para São Paulo. Em sua lista, estão Mariella Santiago, Dois em Um, Orkestra Rumpilezz e Retrofoguetes. “Assim como a música do Pará chegou forte, vai chegar também a da nova cena baiana”, ela assegurou.
No próximo dia 27, no Centro Cultural da Juventude em São Paulo, Marcia Castro promove a sua Pipoca Moderna, encontro de cantoras da música brasileira. Na reedição paulistana desse evento que começou em Salvador, vão dividir o palco com ela Baby do Brasil, Tiê e Andreia Dias. Bom momento para ouvir se ela cumpre o que diz com tanta convicção – e de forma nada perdida: “Nessa época de hiperinformação, não só informação de palavras, mas também de música, de muitas referências, das muitas possibidades de divulgar, existe esse afã de ser pop e ser reconhec ido. Espero que a gente consiga se despir desses sentimentos para fazer a música verdadeira, sem uma fórmula.”

* O 100 Hangouts rola até a meia-noite de hoje e a lista de músicos é grande. Inclui ainda Marcelo Jeneci, Pavilhão 9, Wilson Simoninha, Lenine, Vanguart, Roberta Campos, Max de Castro, Jair Oliveira, Sabonetes, Cícero, Bonde da Stronda, Guilherme Zakka, Banda Uó, Claudia Leitte, Sepultura, SoulStripper, Danny e DeVito, Ana Carolina, Tabatha Fher, Luciana Mello, Hidrocor.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Essa menina é esperta. E o clipe dessa música que está rolando ai “De pés no chão” mexeu aqui com meus requebros jamaicanos e tamos na dança do som da baiana gingada e inteligente .Esse solo de trumpete lembrou-me meu irmão Demétrio(ex-Paralamas do Sucesso e hoje no Farofa Carioca).O som de Márcia é assim : o mainhaaaaaaaaaaaaaa to quase com vontade de não parar de gingar.

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