AINDA EM ISRAEL

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desenvolvi um método para quando chego a lugares que só vi em filme ou em livro: não tento saber demais em tempo muito curto. me distraio olhando para as casas dos beduínos e para o vendedor de eletrodomésticos enquanto mostram um ponto crucial da região.
isso impede que tire conclusões precipitadas e me permite conhecer melhor algum detalhe no qual ninguém mais presta atenção. claro que isso tem a ver com preguiça também.
obviamente, o método nem sempre funciona. ou seja: não pego nem o detalhe nem o painel completo.
mas às vezes uma cerveja bem tomada e uma visão parcial das coisas é tudo que uma velha carcaça pode desejar. a imparcialidade é uma moeda de um shekel e meio.
isso posto, tenho a dizer que encontrei humor, sabor, gosto e delírio em quase 10 dias.
um moleque vendedor de bugigangas na old city de jerusalém dizia o tempo todo:
“brasileiro. mão de vaca”.
quase todos me disseram: “você é velho demais para ela”.
um judeu maior que o oscar do basquete e mais forte do que o anderson silva cortou fila na minha frente na rodoviária e fiquei com medo de lhe dizer o mesmo que disse para a mulher folgada no aeroporto: “sweetheart, there’s a line here!”.
um iraniano tentou me roubar o meu bem mais precioso. mas tudo que conseguiu foi me mostrar toda sua adoração pelo chá reza pahlevi, cujo retrato adorna a frente de sua loja em yafo.
novelas da globo em hebraico são mais engraçadas do que em espanhol.
suco de romã é quase bom, mas ainda me lembro das unhas imundas do ambulante.
achei um truque meio sujo rebaixar as portas das igrejas para que os fiéis se ajoelhem para entrar.
e coloquei quase todos os nomes no muro das lamentações, em bilhetinhos, mas esqueci um deles no bolso do meu shorts. sem perdão.

depois a gente volta.

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