É impossível não pensar no simbolismo desta notícia: o Sesc ruma ao encontro das licenças Creative Commons. Propondo uma reflexão sobre tema tão polêmico, Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo, afirmou ao FAROFAFÁ que esse caminho é “coerente com a nossa trajetória” e busca “tornar o nosso conteúdo da internet o mais aberto, democrático e acessível possível”.

Uma meta já foi revelada: até o fim do ano, o Sesc-SP vai começar a transmitir um espetáculo cultural em streaming por semana. Pode ser um show de música, uma peça teatral ou uma performance. Mas isso não é o início do “liberou geral”. O Sesc, uma das maiores e mais plurais instituições culturais do Brasil, vai negociar com os artistas e, se for o caso, com a cadeia da qual eles fazem parte (leia-se gravadora e editora). “Eles serão levados em conta também. Existe muita gente séria que não concorda com os CC, e não sou eu quem vai fazer um julgamento moral. Mas a ideia de oferecer liberdade de acesso parece ser uma tendência inevitável”, diz Miranda. Uma das primeiras ações de Ana de Hollanda, ministra da Cultura, foi retirar o selo CC do site do ministério.

O pano de fundo que norteia essa intenção/decisão/ação é, conforme qualquer unidade do Sesc prega, democratizar o acesso à informação, pensar o futuro, oferecer acessibilidade aos conteúdos. Para uma instituição cujo lema central é oferecer educação permanente, faz todo sentido o Sesc caminhar para dar livre acesso ao que puder ser liberado a qualquer cidadão. “A forma de se comunicar está mudando. A reprodutibilidade (da obra de arte, como imaginou Walter Benjamin!) já não é mais um problema. Ela faz com que se alcance mais gente. As novas tecnologias não são só uma ferramenta eletrônica, mas elas têm conteúdo e estabelecem um modo novo nas relações da sociedade”, afirma Miranda.

"Caixa Preta", de Itamar Assumpção - Foto Pedro Abude

Logo de cara se pode pensar na “Caixa Preta” de Itamar Assumpção, os 12 CDs com a obra completa do artista lançados no ano passado pelo Selo Sesc. Mas não só. Embora pequena em termos de produção, a gravadora do Sesc assumiu uma função relevante dentro do cenário musical brasileiro. Ela já lançou obras musicais de Iara Rennó, Berço de São Mateus, Elton Medeiros e Márcia, Cia Cabelo de Maria, Virginia Rosa e Consiglia Latorre, para as quais as grandes gravadoras costumam se fingir de mortas. Ao se trabalhar com a perspectiva de ampliar o acesso ao conteúdo, o Sesc não vai, da noite para o dia, abrir as suas páginas para o download desenfreado de CDs. “Não podemos ir contra o que foi acertado anteriormente. É preciso que fique claro: não somos pelo software absolutamente livre, pelo copyleft. O desafio é oferecer conteúdo, mas preservando os direitos”, alerta.

Hoje o Sesc-SP já oferece, via Flickr, mais de 40 mil fotos em CC, e outros 5 mil vídeos oficiais no YouTube. E nada é feito pela instituição no sentido de perseguir os milhares de produtores culturais intuitivos em que se transformaram as pessoas que filmam e postam seus vídeos feitos com celulares e câmeras digitais de espetáculos do Sesc. Miranda não estabelece prazos para a reflexão, mas, para quem quiser conhecer parte de seus pensamentos e os detalhes sobre a adesão futura do Sesc ao regime CC, eles vão ser expostos nesta quarta-feira (dia 23) no encontro que terá com Lawrence Lessig, do CC, e o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, a partir das 20 horas no Auditório do Ibirapuera (entrada gratuita).

“Estamos dizendo que vamos entrar na onda, mas não a onda pela onda. Não adianta sermos libertários no discurso e não na prática. E também não queremos fazer a revolução, o Sesc não é uma instituição revolucionária.” Está registrado!


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