andré penner/ap

“São Luiz do Paraitinga é uma tragédia sem precedentes na história do Iphan. A coisa mais próxima aconteceu em Goiás Velho, em 2001, mas em Goiás não teve edificação que ruiu. São Luiz perdeu duas igrejas, totalmente destruídas.
Recuperar esse patrimônio é uma decisão conceitual. Só após o levantamento de danos, que é preliminar, saberemos como proceder. E só teremos de fato esse levantamento quando tudo secar. Porque cada casa tem um tipo de técnica, são materiais diferentes. O levantamento preliminar ainda não está completo porque a vistoria não foi concluída, os técnicos não podem entrar em todas as casas porque ainda há o risco de ruirem.
São Luiz estava em processo de tombamento pelo Iphan, o que facilita as coisas em um aspecto: nós acabamos de fazer, antes das chuvas, um amplo levantamento fotográfico da cidade. O processo de tombamento corre há 4 anos. Mesmo o primeiro tombamento do Estado, pelo Condephaat, foi feito a partir de um estudo do Iphan. Antigamente, havia a compreensão de que o tombamento pelo Estado dispensaria o tombamento federal, mas a Constituição de 1988 mudou isso, instituiu o tombamento complementar. Iguape, por exemplo, é um tombamento complementar que concluímos em dezembro de 2009.
Portanto, não vamos nos eximir. Não é porque não tem tombamento federal ainda que não vamos trabalhar aqui.
Estamos trazendo três técnicos do Iphan de Goiás, para acompanhar, orientar os pequenos reparos, o processo de retirada de entulho. Porque as pessoas podem achar que tudo pode ser jogado fora, e isso não é verdade. Um grupo permanece dormindo lá, para acompanhar. Também queremos iniciar cursos para pedreiros e mão de obra local.
A gente ainda não pediu mais recursos, nem nada especialmente, porque ainda não sabemos quanto será necessário, isso só saberemos quando terminar o levantamento dos danos.
É importante conhecer a experiência de Goiás porque às vezes tem coisas que a gente não pensa. Em Goiás, uma das coisas que os técnicos enfrentaram é que a população passou por uma depressão muito grande. Após a tragédia, houve uma sensação de perda, que provocou uma baixa psicológica. Foram contratados psicólogos para conversar com a população, reanimá-la.
Primeiro, é preciso retomar as condições de vida na cidade, estabelecer um mínimo de normalidade, e aí montar a estratégica de recuperação. Há muito a definir: uma coisa é o imóvel público, outra coisa é o privado, é preciso inventariar o que se perdeu parcialmente, o que se perdeu na totalidade.
A nossa leitura hoje é que Goiás Velho, após a reconstrução, encontra-se em melhor estado de conservação do que estava antes da enchente. E que, tão importante quanto os recursos humanos, está a necessidade de convencer a população e encontrar pessoas com vontade de tocar o processo.”

DEPOIMENTO DE LUIZ FERNANDO ALMEIDA, PRESIDENTE DO IPHAN, AO BLOG ESTA MANHÃ

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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