BORRA-BOTAS

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com joe strummer, do clash, em strafford, inglaterra, em 2001

um velho amigo me diz que às vezes sente até inveja de mim porque eu tenho a chance, por conta da minha profissão, de ir a lugares e encontrar pessoas que ele nunca terá.
yeah.
é claro que não posso me gabar de um téte-a-téte com uma cantora ou um cantor ou com uma superbanda porque sei que eles não vêm até mim pelos meus belos olhos ou pelo meu cintilante talento.
vêm em busca da projeção que o veículo em que trabalho lhes dá, no que estão certíssimos.
também não me sinto à vontade para julgar colegas que se jactam de serem felizes interlocutores do fulano rock star, ou de terem tomado cerveja na festa de nascimento de um gênero, ou de terem participado das firulas de um animado backstage. estão todos no seu direito.
mas já tive colegas tão metidos que passavam a ideia de que o kurt cobain era apenas uma criação de suas próprias mentes férteis.
a verdade é que, em geral, nesses encontros, nós temos a importância de um gravador a pilha. somos apenas instrumentos para traduzir algumas idiossincrasias – é claro que alguns fazem isso com mais jeito, outros com menos.
nossa presença ali, como jornalistas do mundo pop, pode ajudar a desvendar tretas, desarrumar tramoias, evidenciar futricas, farejar novidades (essa é a parte que mais me interessa). mas não sou besta, também me pego às vezes deslumbrado (especialmente quando dou de cara com algo muito envolvente, como foi o show do radiohead). só tento manter a compostura.
há colegas que me irritam quando se comportam como se tivessem o rei na barriga. alguns vão ao front do mundo pop em nome de um programa de TV, uma revista de circulação incerta, um suplemento semanal nerd, mas tentam transmitir a ideia de que são notoriamente especiais, que a própria rainha sonha em recebê-los.
às vezes, um colega, olhando para trás em retrospectiva, pode ter a impressão de que foi parte ativa da história (quando, na verdade, foi apenas uma testemunha privilegiada da história). essa confusão de papéis é uma bosta. tem gente que se acha o rei da cocada preta por conta do lugar que ocupa na grande mídia, quando na verdade só ocupa esse lugar por conta de um certo alinhamento ideológico ou político ou subserviência crônica.
voltando ao velho amigo que teve inveja de mim. o que digo é: eu é que sinto inveja do velho amigo, cuja coragem suplanta a minha militarmente em uma Esparta inteira.
na sua franqueza e honestidade, o velho amigo se revela diariamente sem subterfúgios, de forma clara e inequívoca, nos modestos espaços de alguns posts. o velho amigo tem coragem de mostrar ferida em praça pública. encara os detratores na hora, no balcão do bar, e não finge que não tem contradições. melhor: escancara as próprias contradições e as usa como alavanca da sua vontade.
o velho amigo é incapaz de comer mortadela marbla e sair por aí arrotando presunto espanhol pata negra.
ya yo, yo soy solamente un borra-botas.

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5 COMENTÁRIOS

  1. Paraibinha, prezado… ainda bem que tens consciência , a essa altura da vida, de que as pessoas chegam a nosotros pela visibilidade que lhes damos e não porque gostem dos nossos belos olhos. Isso é importante para a gente discernir quem são os verdadeiros amigos… aquele abraço …
    ps. escuta baitola !! meu blog é tão ruim que não merece estar linkado nesse seu espaço mexeriqueiro ?? que caraco é esse ? se não me linkar não te linko!!!

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