então, eu havia prometido trazer para cá a queixa que joão marcello bôscoli (executivo da trama e filho de elis regina) fez da queixa que jair rodrigues (cantor popular e parceiro de elis regina) fez sobre ele, dentro do perfil jair de todos os ritmos, publicado na “carta capital” (e aqui no blog).

joão telefonou, querendo rebater a reclamação do jair (de que teria marcado um almoço para falar de negócios com o artista, mas simplesmente não apareceu). eu até tentei persuadi-lo a se manifestar publicamente, fosse numa carta à “carta capital”, fosse numa entrevista que eu publicaria no blog. ele pensou no assunto. mas decidiu que preferia se calar.

se foi assim, acredito que não devo entrar em minúcias de expor os contra-argumentos do joão ao jair (que, espero, eles vão desanuviar entre eles). mas tampouco me sinto bem em ficar calado, uma vez que esse tipo de (não-)bate-boca só acontece porque existe um intermediário entre as duas partes. esse intermediário, neste caso, fui eu.

esvoaçando pelo tema espinhoso, há duas coisas que eu gostaria de transmitir após ter ouvido a versão do joão, uma delas de caráter mais genérico, outra bem específica.

a primeira: a contra-queixa geral de bôscoli diz respeito a algo que muito circula nos bastidores, embora eu não saiba contar nos dedos de uma mão as vezes em que esse tipo de conflito viesse a público.

é algo que, ao menos em minha experiência, a maioria das gravadoras faz questão de esconder a sete chaves do olhar dos jornalistas (quanto mais do público, imagine): o quanto alguns artistas (para não dizer a maioria deles) são – inventemos adjetivos agora – difíceis, intratáveis, mimados, folgados, egoístas, egocêntricos etc. etc. etc.

à boca pequena (e de preferência bem longe dos ouvidos de jornalistas, muito menos ainda do público “civil”), diretores, executivos, assessores de imprensa e outros integrantes da cadeia predatória se queixam, e muito, do comportamento que os artistas mantêm dentro dos limites capitalistas da santa madre empresa.

queixa-se de gente que não vai até a esquina se não for com carro pago pela firma. de gente que não move uma palha para ajudar a divulgar o trabalho que criou. de gente que rescindiu contrato com gravadora grandona porque a dita cuja (branda? ou dura?) não quis mais pagar a conta do massagista. e assim por diante.

eis aí um grande cotovelo, um grande nó de toda essa infra-estrutura industrial (que, aliás, hoje se encontra bem mais do que desmoronada). para o consumo da massa, os artistas invariavelmente são como anjos caídos do céu, anjinhos da asa partida, donos de milhões de virtudes e (faquires) nenhum calcanhar-de-aquiles sequer.

diante de tamanha aura, variam os “vilões” de cada hora. ora são as gravadoras, ora os empresários (manoel poladian, por exemplo, é, foi ou será um notório brucutu atrás de um jardim de artistas mais bonzinhos que madre tereza de calcutá), ora o ecad e a omb, ora os jornalistas e críticos musicais, e por aí vai. há sempre alguém disposto a sugar ou destruir um grande artista, entende?

e joão quis dizer, mas mas sem se expor à execração pública (ele não parece ter dúvidas sobre de que lado a massa ficaria num eventual embate), que as coisas podem não ser bem assim. o que a gente faz, sem ninguém saber, é por debaixo dos panos.

aí a segunda questão, a mais específica: joão me conta, e eu tomo a liberdade de reproduzir aqui, que nosso querido jairzão recentemente foi ao programa de hebe camargo e elaborou lá uma queixa, de a trama não querer gravar seu próximo disco ou coisa parecida (sinceramente não lembro à risca qual foi a denúncia).

eu não assisti à hebe, mas fico aqui só imaginando o sabão que ela deve ter passado nas gravadoras que fizeram mal ao jair. e joão disse (para mim) que sente muito, mas a trama não tem como atender hoje às demanadas de jairzão.

o que entendi do que joão quis dizer citando a hebe é: a imprensa, a mídia, as apresentadoras louras e os jornalistas castanhos podem facilmente ser manipulados por “nossos ídolos”, de modo a ajudá-los a pressionar, em público, ao vivo e em cores, pela concretização de seus desejos, discos, massagens (no ego inclusive), interesses privados por trás das virtudes públicas.

e, desgraça, via de regra o(a) fofoqueiro(a), a(o) intrigueira(o), o(a)jornalista, a(o) apresentador(a) nem cogitam que estejam(os) sendo utilizados com esse propósito. fazem(os) e nem pensam(os) sobre o que fizem(os), como água que escorre da torneira, sabe como é?

mas, bem, no caso de executivos, diretores etc., eles geralmente ficam calados, engolem os sapos, deixam elas por elas (igual o que a maioria dos artistas faz em relação às críticas e aos críticos truculentos). não é mesmo?

era mais ou menos isso. só para demarcar, se já não estiver evidente: este estranho texto não pretendeu tomar o partido do joão, nem o do jair, nem o de ninguém. sinceramente, não sei e não consigo detectar quem possui os argumentos mais justos, coerentes e, er, verdadeiros. e, se eu soubesse ou fingisse saber, estaria passando a agir não mais como jornalista, mas como juiz ou censor ou gilmar mendes ou policial à paisana.

preciso lembrar que a imprensa faz isso – avança o sinal – o tempo todo?, e que euzinho já fiz isso à beça?

mas posso não querer mais fazer, no mínimo tentar não fazer mais? posso não me filiar nem no pj (partido do jair) nem no pj (partido do joão)? obrigado.

pronto, era isso.

não, só mais uma coisa, até para não parecer que a vida dos artistas é fácil, facílima, e que a de nosotros é (dita)dura, (dita)duríssima: os artistas podem ser os heróis de eleição nesse tipo de confronto, mar do outro lado da redoma eles têm outro exército terrível para enfrentar, o dos “fãs”.

“fã” é fogo, é pau, é pedra, é o fim da picada, são as águas de março fechando o verão. “fã” é feito a cidade, uma estranha senhora que hoje sorri e amanhã te devora. quem tem “fã” não precisa de “inimigo”. pois, como dizia uma velha cantora, nossa mãe, as aparências enganam e na fogueira das paixões se irmanam os que odeiam & os que amam. e aí jair é joão, joão é jair.

e eu sou a hebe, cruzes.

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