Autointitula-se O Maior Poeta do Brasil.
Calcula que tenha escrito quase 12 mil poemas.
“São versos simples, que todo mundo pode entender. E são cheios de detalhes, não conheço obra que tenha mais detalhes que a minha”.
Gaúcho de Montenegro, vive há 25 anos no Paraná, onde vende botinas de couro.
Faz os chamados “versos campeiros”, típicos do Rio Grande do Sul.
Histórias de prendas que levou de casa para casar na garupa de um cavalo.
Escreve à mão em papel de lauda dupla, daqueles antigos de tarefa escolar.
Como os poemas não estão em livros, ele os organiza em pilhas em vitrines da loja e na sua escrivaninha.
No poema que declamava para mim, dava para ler o que estava escrito no verso:
“N.º 11.118, dia 2/10/2013, de noite. Por ser verdade, acabei chorando”.
Locival de Vargas, o Loça (também o chamam de Tio Gaúcho), é gaúcho de Montenegro e espera pacientemente por clientes na tarde deserta de domingo, a uma quadra do novíssimo quartel do Corpo de Bombeiros.
Contou que, quando sua mulher morreu, há 8 anos, começou a escrever ainda mais compulsivamente. Escrevia de dia e de noite. Até que um dia parou de frente para a pilha de poemas e se perguntou:
“Quem sou eu? Por que eu faço isso?”.
Tem 74 anos e está preocupado que se perca toda a sua obra.
Isso o torna ansioso.
“Você vai escrever sobre mim?”.
“Não sei, ainda estou pensando”.
Compramos duas botinas e uma sandália de couro, uma alpercata típica.
Não quis dizer nada, mas acho que o Loça, mesmo que nunca o encontrem naquela avenida, já garantiu a sua eternidade. Não precisa temer o esquecimento.